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Craques de botão
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O ex-jogador Sérgio Redes, ou

Craques de botão

Tipo Crônica

O Flamengo é o time a ser batido. Líder disparado do Campeonato, vence seus adversários com facilidade e encanta com um futebol intenso, ofensivo, bonito. Não poderia haver coisa pior para um vascaíno que conviver com um vizinho rubro-negro que almoça e janta Flamengo.

Evidente que exagero, até porque não tenho mais aquelas paixões clubísticas que me faziam em 1956 escalar o time do Vasco como se estivesse recitando uma poesia: Carlos Alberto, Paulinho e Beline, Écio, Orlando e Coronel, Sabará, Livinho, Vavá, Valter e Pinga.

Era meu time de botões. Diferente de hoje em dia, quando a garotada tem os games nos seus audiovisuais, cada um fazia seu próprio time. Objetos como ficha de ônibus, tampa de relógio, botão de capa de chuva, recebiam tratamento artesanal e se transformavam em craques.

Pacoti chegou no Vasco em 1958. Por isso, um botão de coco. Passava horas e horas arredondando uma casca de coco nas calçadas ásperas das ruas. Depois, uma lixa comum e finalmente a lixa d'água. A bainha era o toque final para que o botão não saltasse sobre a bola.

Voltemos ao Flamengo e ao nosso obsessivo torcedor. Pelo menos duas vezes na semana, me liga e pergunta: "Vai ver o jogo do Flamengo?" A resposta é sempre sim, porque também estou hipnotizado por uma equipe que nunca se satisfaz com o resultado.

Todavia, é complicado assistir um jogo do Flamengo ao lado de um rubro-negro. O mundo se divide em prós e contras. O Flamengo sempre é perseguido por todos. A arbitragem é sempre contra. O VAR, então, nem se fala. São loucos para pegar um calcanhar em impedimento.

Findo o jogo, as imagens e as reclamações vão diminuindo, dando lugar a uma conversa ponderada. É nesse instante que o Ricardo Schmitt, meu vizinho, me convida para tomar um café e revisitar seu acervo fotográfico. E aí aparece seu outro lado. Nenhuma foto do Flamengo.

São mais de 300 mil fotos. A passagem do fotógrafo pelas revistas Manchete, Veja e pelo O POVO, cobrindo o Nordeste, despertou sua sensibilidade para a desigualdade social. Setenta porcento do seu trabalho registra instantes da vida do povo nordestino.

Tomo o café e volto para casa com a cabeça povoada de Nordeste e de futebol. Invejoso do Flamengo, declaro: o clube do povo é o Vasco. Foi no Vasco que os negros jogaram pela primeira vez uma competição oficial e os nordestinos Ademir, Almir, Pacoti, Vavá e Juninho Pernambucano apareceram para o mundo.

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Foto do Sérgio Redes

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