O celular toca e do outro lado da linha o cineasta Wolney Oliveira me diz: "Serginho: estamos fazendo um filme sobre o Ceará Sporting Club. Combinei com O Zé Eduardo, que está chegando de Salvador, para fazer umas gravações. Vamos pegá-lo no Aeroporto?"

Topei no ato. Pegamos o Zé e fomos almoçar no Caravelle, ali do Montese. Sentamos do lado de fora e tome futebol. O Wolney gravando tudo. A conversa amplia com a chegada do Cícero, que mora nas redondezas e foi goleiro de Fortaleza, Ceará e Ferroviário.

Um ou outro passante reconhece Zé Eduardo. A notícia vai se espalhando e vão chegando torcedores de Ceará e Fortaleza no restaurante. Gente que o viu jogar e concorda que estamos diante do jogador mais vistoso e elegante que se viu dentro de um campo de futebol.

Um deles me cutuca e pergunta. "Você virava o jogo da esquerda para a direita e ele afastava o corpo para trás e estendia a perna direita lá no alto. Controlava a bola entre o calcanhar e a parte externa do pé a trazia colada à chuteira até uns 10 cm da grama".

Claro que lembro. O meio-campo alvinegro era Edmar, eu e Zé Eduardo. Era no tempo em que os jogadores tinham o passe preso e passavam anos no clube. O torcedor também se lembra saudoso porque escalou o time recitando num verso como se fosse poesia.

Zé Eduardo era um craque! Teve um Clássico-Rei em que estava suspenso e me sentei ao lado de Alísio Cravo Roxo nas cadeiras do estádio Castelão. Quatro fileiras abaixo sentaram torcedores e dirigentes do Ceará. O jogo começou e o Lucinho, meia do Fortaleza, mandava em campo.

Só dava Fortaleza. Qualquer tentativa do Zé dava errado. Os cartolas alvinegros começaram a apelar. "Tem que mandar esse homem embora". "Não joga mais nada". "Não pega na bola". Num dado momento, Edmar lança Jorge Luís pela direita que vai à linha de fundo e cruza para a área.

O cruzamento coincide com a chegada do Zé no primeiro pau. Ao pressentir a marcação dos zagueiros o Zé abre as pernas e deixa a bola passar. Do outro lado, Da Costa, sozinho, toca a bola para o fundo das redes. Alísio se levanta e dispara: "Manda esse cara embora! Ele não pega na bola!"