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A Sacerdotisa
Foto de Socorro Acioli
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Escritora e jornalista com doutorado em estudos da literatura pela Universidade Federal Fluminense. Ganhou o Prêmio Jabuti, na categoria de Literatura Infantil com o livro

A Sacerdotisa

Tipo Crônica

Não é só a crença nos oráculos ou nas narrativas do imponderável que instiga a curiosidade sobre o tarô como instrumento de observação e inspiração antiga da literatura. As setenta e oito cartas valem por seu reconhecimento como objeto histórico e artístico. Há controvérsias sobre sua origem, mas sabe-se que começaram a ser pintadas no século XV e tornaram-se patrimônio das famílias italianas e francesas, inicialmente. Peças únicas, obras de arte de alto valor.

As distintas representações dos vinte e dois arcanos maiores são as mais variáveis entre os artistas. Até Salvador Dali pintou um tarô, usando sua esposa Gala como modelo para as figuras femininas, incluindo a Sacerdotisa, a mulher mais enigmática das cartas.

Na semana passada concluí a crônica tirando uma carta do tarô ao acaso para determinar o tema do texto de hoje. O destino escolheu a Sacerdotisa, o arcano de número dois, uma senhora que tem muito a nos ensinar em tempos tão conturbados como o que atravessamos no momento. Observemos os seus conselhos.

Antes dela temos o arcano zero, que é o Louco e depois o arcano um, o Mago. O Louco é sobretudo um corajoso, o que abre caminhos e dá o primeiro passo, um ato de coragem. O Mago é detentor da criatividade, a força que faz qualquer coisa acontecer. Eis que chega a Sacerdotisa e seus conselhos de equilíbrio. A narrativa sequencial do tarô fala em coragem, criatividade e sabedoria na sua trinca de partida.

A Sacerdotisa é um dos arcanos maiores, uma mulher com mais de quarenta anos e muito sábia, tanto pelo estudo quanto por sua magnífica intuição. Algumas representações mostram que ela está sempre com livros enormes nas mãos. É estudiosa, culta, concentrada na sua vida intelectual e segura de seu poder.

Ao mesmo tempo ela acumula uma sabedoria que vem da intuição, da ancestralidade.

Nunca erra nas percepções que tem das pessoas, vidas e situações. Pode não ser de imediato, mas suas projeções sempre se cumprem. O que pode acontecer, muitas vezes, é que as pessoas que a escutam não estejam ainda preparadas para entender ou encorajadas a fazer o que ela indica.

Eis ali uma mulher admirável, altiva, sentada com um livro na mão. No tarô renascentista de Giovanni Vacchetta ela olha com tranquilidade para quem tenta decifrá-la, encara com firmeza e seu olhar perturba. Da letra inicial da sacerdotisa, o S, vem uma série de palavras que complementam o sentido da mensagem da carta: sabedoria, sorte, sucesso, sonho, segredo, saudade, saúde, sorriso, sincronicidade, sinais, sossego e satisfação.

Há muito mais a saber do que você pensa que sabe, é o que ela nos diz. As coisas sempre vão muito além das aparências. Se a Sacerdotisa surge à sua frente, ela pede que pense bem e tenha coragem. E que procure ver o que está oculto, a sombra, a força escondida. Muitas mulheres e homens são parecidos com ela. As sacerdotisas disfarçadas na multidão podem ser reconhecidas pelo olhar. Dentro dos seus olhos há um vasto mundo, livros inteiros, mistérios e promessas de uma nova vida para quem tem coragem de entender os seus recados.

 

Foto do Socorro Acioli

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