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O poder das carreatas
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Tânia Alves é formada em jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Começou no O PCeará e Política. Foi ombudsman do ornal por três mandatos (2015, 2016 e 2017). Atualmente, é coordenadora de Jornalismo..

O poder das carreatas

Tipo Análise
Carreata em Sobral: este tipo de atividade ganhou potencial com a pandemia (Foto: Reprodução Facebook) (Foto: Reprodução Facebook)
Foto: Reprodução Facebook Carreata em Sobral: este tipo de atividade ganhou potencial com a pandemia (Foto: Reprodução Facebook)

Na cidade onde o lazer se resumia à feira do sábado, missa do domingo ou no banho de rio durante o inverno, o período de campanha política servia também para trazer um pouco de animação para a monotonia dos dias. Comícios lotados e caminhadas eram momentos para demonstrar o quanto a candidatura estava forte. O poderio maior, porém, era demonstrado durante as carreatas.

Esperar a passagem dos carros, sentada com a família na calçada, pegando o vento nos meses quentes de setembro e outubro, era prazeroso. Tornava o dia diferente, especialmente quando minha mãe estava por ali e fazia questão de parar de peneirar a goma que serviria no café da manhã do dia seguinte, só para apreciar a passagem dos automóveis. Ela era a primeira a contar os carros. Se perdia entre o trabalho que estava fazendo e os números do cortejo. Era acudida pelos filhos, que ficavam atentos à fileira iluminada.

Numa época em que carro era para poucos, reunir a maior quantidade de veículos em um evento do tipo, virava sinônimo de controle da situação. Contar os carros em procissão para depois comparar com o evento do adversário, dizia muito da tradição. Era assunto para dias e dias. No centro dos debates, a tentativa de minimizar ou enaltecer os efeitos da manifestação dos concorrentes. A passeata de veículos era tão importante, que só depois da realização da primeira, de ambos os lados, começavam as apostas sobre quem seria o vencedor do pleito.

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Com o tempo, para mim, este tipo de ostentação em campanha parecia totalmente obsoleto. Só servia para gastar gasolina, fazer barulho e levantar poeira para dentro das casas. O jornalista Érico Firmo tão bem escreveu sobre isso. Mas devo reconhecer que, em 2020, com a eleição municipal tendo como pano de fundo uma pandemia, que até agora já matou mais de 146 mil pessoas no Brasil e 9 mil no Ceará, fazer carreata para divulgar o candidato adquiriu um novo status nas campanhas. Isso vale para as pequenas e grandes cidades, do interior à Capital.

A realização delas está servindo para abastecer as redes sociais com fotos e vídeos feitos por drones. A iluminação dos faróis dos carros enfileirados, captada à noite, é momento precioso das postagens carregadas de emoção para alimentar os mais fanáticos. Dentro das estratégias eleitorais deste ano, as carreatas ganharam importante significado. Viraram necessidade por causa de um vírus. E, passados tantos anos, contar os carros ainda tem influência na política.

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