Tenho uma admiração sem limites ler e ver pessoas que têm segurado as pontas da ciência durante a pandemia da Covid-19 no Brasil. São corajosos os cientistas que, todos os dias, têm que fazer defesa enfática daquilo que é óbvio demais. Não se furtam de ir para as TVs, dar entrevistas, se posicionar nas redes sociais em nome do que aprenderam. Defendem a ciência por princípio. Levando verdade para o mundo, mesmo sabendo que serão psicologicamente atacados, e perseguidos por aqueles que momentaneamente estão no poder.

Esses estudiosos, que todos os dias defendem o uso de máscaras, distanciamento social e vacinas (quem imaginava que a gente teria que defender, em 2021, o uso de imunizantes), trilham o caminho mais difícil para celebrar a vida. São seres de luz num momento sufocante em que parece sem saída. Sabem que remam contra a maré da mentira, que virou um pós-valor por esses dias, mas que não durará para sempre. Permanecem fortes em seus argumentos contra os espíritos medíocres que emergem à superfície para a depuração futura. E como é difícil remar contra a maré. Mais fácil seria sucumbir àqueles que estão sedentos de poder e não se cansam de fomentar o discurso do ódio, de oprimir para adquirir bens para uma vida que será sempre breve demais.
Por esses tempos, melhor acreditar que pessoas como eles vieram para este mundo com uma tarefa específica. Escolheram aparecer por aqui para essa dura jornada. Enfrentaram diversos caminhos, e tiveram múltiplas escolhas, para chegar nesta pandemia, mas hoje têm a missão de defender a ciência. Como isso deve ser cansativo para eles.
No início da pandemia, no ano passado, um artigo do médico Marcelo Alcântara, da Escola de Saúde Pública do Ceará, publicado no O POVO, falava da dimensão da guerra que estávamos enfrentando. Ele dizia: “É nossa vez de virarmos gente grande, de nos permitirmos ser o melhor que podemos a partir da beleza do enfrentamento solidário pela vida. É mesmo uma guerra, e ela é nossa”.
Ele tem razão. Esta guerra contra a Covid-19 é de todos nós que a estamos vivendo. Fico aqui imaginando o futuro e como os estudiosos da ciência serão retratados na história dessa luta. De que lado eles ficaram. Quero crer que serão lembrados pela verdade e autenticidade dos heróis que souberam desmascarar os protótipos de ditadores inescrupulosos. E eles nem usam capas.