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Besteira muito grande demais da conta! Guâ!
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Jornalista, compositor, escritor, humorista, cantor e pesquisador da cultura popular. Escreveu várias composições em parceria com Falcão. É autor do livro

Tarcísio Matos arte e cultura

Besteira muito grande demais da conta! Guâ!

Tipo Crônica

O bicho de urêa mais exagerado ("disagerado") do mundo: o cearense. Cabeça de nós todos - quengo que é um setenta, aloprado de A a Z, a bolacha do joelho é ver uma bacia, dessas que galego vende na rua. E multiplique por 10 e eleve à quinta potência, depois ao quadrado. Cearense, no tocante a aumentar as coisas, é o que a moçada chama de "top das galáxias", só que no estilo cão chupando manga ou comendo mariola, superdimensionando tudo que vê e fala. E sente e cheira.

Cearense gosta de "omentar", pois. Deve ter surgido por essas plagas a lorota de que "quem conta um conto aumenta um ponto". A negada aumenta e é com gosto de gás. Se o mancebo (amasso) é grande demais entre o casalzinho, os dois estão "ajojados", agarrados à moda soinho na resina. Se é chegado a uma fulerage, só aprende o que não presta. Se vive se abrindo, "acha grossa, né?" Se não vale um cibasol, "aquilo é uma pustema!"

Superlativamente fuleiro

Pro cearense, é tudo grande demais, que nem presta, um absurdo de coisa imensa, do papôco, altamente traquejado. Pois aqui é pra ver as bandas, do caneco rodar, de arrancar o chaboque e se pebar, de arrombar mêi mundo. Se é inteligente, é caba desenrolado, tarimbado, só o pó da macaúba. Se é pequeno, é só um cotoco de gente (mêi pão, escada de tirar maxixe, torado no grosso) - da falange de Zaqueu.

Se é do bom e chega cedo, é homem que Deus guarda; se é falante, fala mais que o homem da cobra. Se é corno contumaz, diz-se que tem chifre até nos pés, à moda galo. Se é esnobe, é pabo feito a peste, um "estropício" pra mais de milisseiscentos diabos! Se almoça e janta igualmente um esmeril da França, "come aos brubitão" (em "vadiação pesada"). Se é muito do sem futuro, "caba mais besta esse!". Com muito medo, "tá com o carretel que não cabe um côco".

Exagerado todo, pros caba aqui de nós algo muito grande é feia lapa medonha, que nem tampa de rural. Se tem mais de três panos de bunda (calças), tem um mundaréu de roupa; se muito sabido, é "mitido a esperto"; se sabe se virar na vida é cavadozim que é uma beleza. Se alguém o vê rindo à toa, o outro chega frescando e quebra o serviço, dizendo: "Se abra não!" Se é de má qualidade, é "muito do tabaca". Se é o que há de melhor em matéria de coisa e tal, é de "cagar e ver a ruma".

Em risco dum ataque cardíaco de fome!

A propósito, o poeta dos Cachorros Jair Moraes exemplifica essas exagerações em recado de áudio no zap que transcrevo com alguma dificuldade. Só pra contextualizar: toda madrugada, algum sem futuro deixa na calçada da casa dele, ao ar livre, um despacho malcheiroso. Não vale botar placa com "pedido de colega, facissonão!" Taí ele feito siri numa "latra", impotente diante "do fela da tampa".

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"Caro jornalista, me ajude a desvendar esse mistério. Pode ser que uma matéria toque as tripas do coração desse cristão e ele (ou ela) estanque uma arrumação que tem já seis meses. De maio pra cá, toda madrugadinha uma pessoa vem deitar na minha calçada um conteúdo equivalente a 879 caminhões limpa-fossas. Pelo que conheço da fisiológica sociologia nativa, um casal pode estar à frente disso. Ô povo pra obrar! É de ruma.

"Aliás, me permita dizer a palavra certa, já que eu sou cearense exagerado: ô povo cagão esse. Cearense é assim: come que nem um pinto e defeca que nem um jumento".

Foto do Tarcísio Matos

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