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Nem incha! Aí dêntu! Mói! Cabeça de nós todos!
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Jornalista, compositor, escritor, humorista, cantor e pesquisador da cultura popular. Escreveu várias composições em parceria com Falcão. É autor do livro

Tarcísio Matos arte e cultura

Nem incha! Aí dêntu! Mói! Cabeça de nós todos!

O sobrinho Davi chega de França e empolgação medonha, conta história invocada. Que me fez lembrar Gonçalves Dias na Canção do exílio: "Minha terra tem palmeiras / Onde canta o Sabiá / As aves, que aqui gorjeiam / Não gorjeiam como lá..." Não falo aqui de bigodeiro, galo de campina ou papacu que bem sabemos não haver nos cajueiros dos Champs-Élysées, e que no sertão cearense abundam.

Falo de cachorro. Os cachorros que aqui fuleiram não fuleiram como lá. Numa ruma de coisa o francês é diferente de cearense, cachorristicamente falando. Começa pelo nome: cachorro em francês é 'chien'. Onde já se viu um pé duro de couro rasgado pelo mandacaru, chêi de pereba e do rabo bicó, atender por 'chien'?!? E o nome dos bichim na França? Corbie, Damien, Alette, Etienne. Latem pouco, cagam muito...

Onde já se viu um cachorro por nome Archibald pegar nunca um preá solto nas capoeiras! "Ande cá, Balzac, coma essa coisinha da panelada do almoço!" Na minha mente, um cachorro no Arco do Triunfo jamais saberá o que é dar carreira numa vaca, pastorar um terreiro. E dar carreira em tiú? Agora, faça moitinha prum animal desses! Tupi, Baleia, Cruvina e Leão botam pra tirar do ramo no mocotó do sujeito.

Contudo, todavia, o que mais me chamou a atenção no bodejado de Davi, foi a obediência dos auaus gálicos aos seus donos. Os cachorros de lá, no meio da rua, passeando ou a negócios (quando saem pra obrar e escorrer o cipó), não usam coleira. Sim, nada de bicho preso pelo pescoço alhures e algures. Eles acompanham seus donos absolutamente livres, soltos, sem amarras.

São frios os cachorros de lá. Se em passeio pela Place des Victoires, os donos param e eles, ato contínuo, estancam - mantendo distância. E no Ceará, como será? No Ceará Moleque, cachorrada moleque. Davi lembrou-se de Pinúvio, vira-latas do avô, na fazenda de Capistrano. Chegasse visita em casa, o que fazia Pinúvio, Davi?

- Se danava a pinar na perna da pessoa! Se fosse se desvencilhar do bicho, Pinúvio lascava a mordida... era pra deixar! Senão ficava doido!

Susto endoidece

Idade muita não brinca. Nos tempos de amassar bosta, todo cuidado é pouco. No homem quengado, comido da lagarta, vontade e lembrança tem de ser dosadas, senão "aufende". Que o diga o velho Mozart, 90 anos. Viúvo enxerido.

Vivia pedindo ao neto Dionísio que lhe arrumasse uma namorada de gabarito: morena, alta, gostosa. "Tô subindo nas paredes!". Na segunda de carnaval, a fogosa Marilina toca a campainha do cubículo de Mozart. O velho abre a porta de supetão, sem saber que se tratava da menina do Dionísio. Quase papoca do susto. Ainda consegue dizer, entalado:

- A senhora pode voltar daqui a três anos?!?

Caba grosso!!!

Não sei se Jotinha é mesmo um sujeito brabo ou se Totonho é o próprio inconveniente. Vejam o recente papo entre eles. Começa com Totonho:

- E aí, mister Jota! Tudo bem?

- Tudo...

- Cara, tubo bacana mesmo?

- Tudo...

- E aí, meu amigo, tudo gabarito?

- Tudo...

- Cara, tudo 100%?

- Tudo bem, porra! Num já disse que tá tudo bem nessa chibata!!!

Foto do Tarcísio Matos

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