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O habite-se do carro de Zezé
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Jornalista, compositor, escritor, humorista, cantor e pesquisador da cultura popular. Escreveu várias composições em parceria com Falcão. É autor do livro

Tarcísio Matos arte e cultura

O habite-se do carro de Zezé

Tipo Humor

Primeira: Zezé Paraibano (natural de Marizópolis) levantava célere sua casinha, em São Gerardo, sem licença da Prefeitura. Algum vizinho "cabuetou" e o fiscal foi bater lá. Oi de casa! Lá Zezé aparece, no meio dos tapumes que escondiam a obra em andamento.

- Pra começo de conversa, cadê a planta?

- Pois não, doutor! Me acompanhe, por favor!

Levando o fiscal pelo braço até o quintal, mostra-lhe frondoso cajueiro, carregado de dulcíssimos frutos vermelhos.

- Ô planta linda, doutor! Pense no suco desse caju!

Segunda: tinha um misto (Jipe 62), seu ganha-pão. Numa véspera de Natal (era a operação Papai Noel), acharam de parar o carro de Zezé com o fraterno intuito de "faturar o da rapadura dos buchudim". Tudo legal com freio, faróis, estepe, capota, macaco, manivela, cepo.

Mas, a documentação... Tinha já meia hora que o rapaz da lei olhava pra lá e pra cá a papelada do carro, num saco plástico. Procurava brecha pra pegar no pé de Zezé e garantir o agrado pras festas de Ano.

- Tudo beleza, tá faltando só o habite-se.

- Faltando?

- Sim, o habite-se...

- Pois trate de dar conta dele! Em 45 anos de carteira, é a primeira vez que alguém bole nesses documentos.

- Acontece que...

- De tanto mexer aí, o senhor acabou perdendo ele! Pode dar conta do meu habite-se!

A latrina de dona Dadá

Era mesmo que nada! Inócuo reclamar deles a pontaria. Dona Dadá insistia porque, afinal, era seu estabelecimento - motivo já de cismas pela vigilância sanitária. Questão de saúde pública, pois, manter a higiene do local que, com trabalho e carinho, fez-se o ganha-pão daquela boa senhora.

- Negrada, quando forem obrar, cuide pra não melar as beiradas!

Tudo bem, era uma pensão sem luxo, mas aconchegante, um "aubidiente familhar". Só que os oito estudantes ali hospedados na pensão de dona Dadá, egressos do sertão brabo, eram por demais rebeldes. Meninos bons, mas 'maluvidos'. De repente, ou eles mudavam o proceder irresponsável, ou rua!

- Quando eu tiver dinheiro, faço uma privada decente. Por ora, é só isso!

Explico: o "mato" (latrina de pobre) da pensão de Dadá era aquele modelo de sanitário rente ao solo. Os rapazes se acocoravam e mandavam bala, na maioria das vezes perdida. Ou seja, sujavam as bordas do obratório, já gastas pela passagem aquecida dos petardos.

Dona Dadá, enfim, ultima. Escreve em cartolina aviso derradeiro, pedindo, "pelamor de Deus", tivessem todo cuidado quando do ato solene de desbastar as coisas: "Favor mirar bem, fazer bastante PONTARIA ao defecar!!!"

Acontece que um dos estudantes, gaiato como sói acontecer nessas circunstâncias, escreveu uma quadrinha, no canto da cartolina, em resposta à preciosa requisição da dona da pensão:

"Querida dona Dadá

Fazer pontaria não dá

Se eu fechar o ôi da goiaba

Como é que eu vou defecar?"

Foto do Tarcísio Matos

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