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Em quatro anos, Fortaleza teve redução de 9,58% em atendimento de água
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Em quatro anos, Fortaleza teve redução de 9,58% em atendimento de água

Relatório do Instituto Trata Brasil mostra que Fortaleza teve a maior queda no atendimento de água entre 2013 e 2017
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Entre as 27 capitais brasileiras, Fortaleza apresentou a maior queda no atendimento de água entre 2013 e 2017. Pesquisa do Instituto Trata Brasil mostra que, no período, houve redução de 9,58% na quantidade de pessoas atendidas pela rede de distribuição.

De acordo com a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), a cobertura atual da Capital - que consiste na abrangência da rede de distribuição pelas ruas da Cidade - é de 98,61%. Entretanto, conforme o Instituto, o total de domicílios ligado à essa rede em 2017 era de 81,37%.

"O indicador de atendimento é o número de pessoas que efetivamente se conectaram. Não é normal que se tenha queda da população atendida", afirma o pesquisador do Trata Brasil, Pedro Scazufca. Segundo ele, o estudo não identifica as razões para a diminuição de acessos. Os dados analisados são compilados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), que tabula informações fornecidas pela própria Cagece. "É preciso entender se houve revisão da metodologia pela Cagece. Às vezes pode haver mudança de dados demográficos", pondera o pesquisador.

Para o doutor em Saneamento Ambiental, professor da UFC, Michael Barbosa Viana, a Cagece precisa investir mais. Sob pena de haver repercussões futuras. "Todo brasileiro tem direito à água, de abastecimento público e contínuo. Sem acesso à rede, as pessoas podem buscar alternativas de água que não sejam de qualidade, potável", destaca.

Ainda de acordo com o relatório elaborado pelo Trata Brasil, os investimentos na rede de distribuição de água e de saneamento básico em Fortaleza também diminuíram. Em 2013, os recursos destinados somavam R$ 170 milhões. Quatro anos depois esse total foi de R$ 102 milhões.

O POVO solicitou à Cagece entrevista com alguma fonte que pudesse explicar os dados publicados pelo Instituto. Através de nota, a Companhia informou que trabalha para ampliar os serviços de abastecimento e esgotamento sanitário. Afirmou que nos últimos quatro anos foram investidos no Ceará R$ 350 milhões nas redes de água e esgoto e que a expectativa é de que haja investimento de mais R$ 1,2 bilhão entre 2019 e 2023.

Aumentar rede de saneamento básico é maior desafio

O relatório do Instituto Trata Brasil exibe ainda as porcentagens de cobertura e tratamento de esgoto na Capital. Em ambos, o índice é de 50% em 2017, com evolução de apenas 2,19% desde 2013.

No bairro Boa Vista, onde mora o comerciante Geraldo Costa Lima, 69, há pelo menos 39 anos a situação é a mesma: esgoto a céu aberto, mau cheiro e inundação quando chove e o Rio Cocó transborda. "É uma imundície no meio da rua. Até as fossas enchem e aí suja tudo. Esse ano foi cruel, passou março e abril com a rua toda cheia", conta.

O comerciante lembra que, em 2014, quando a Copa do Mundo aconteceu no Brasil e em Fortaleza, o bairro chegou a receber parte de uma infraestrutura de saneamento básico. Mas a intervenção não prosseguiu. "Em 39 anos foi a única vez que vi algo sendo feito. As ruas ficaram todas marcadas, mas obra mesmo não aconteceu", diz.

"No caso específico de Fortaleza o desafio de investimento é grande quando se confirma que o índice de esgoto ainda é tão baixo", avalia o pesquisador do Trata Brasil, Pedro Scazufca. No Brasil os números também são desanimadores: quase 100 milhões de brasileiros não têm coleta de esgoto (47,6%) e apenas 46% dos esgotos gerados são tratados.

Entre os 10 piores municípios em relação à população que tem acesso à rede de esgoto estão Santarém, no Pará (4,27%); Porto Velho (RO) com 4,58%, Macapá (AP), 10%; e Teresina (PI), com 18%. "Isso significa poluição e doenças ininterruptas em todo o País", afirma o Instituto no relatório.

De acordo com a Cagece, atualmente, a cobertura de esgoto na Capital é de 62%.

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