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Biblioteca é inaugurada em centro socioeducativo feminino
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Biblioteca é inaugurada em centro socioeducativo feminino

Inauguração aconteceu como parte da programação da XIII Bienal Internacional do Livro do Ceará. Acervo foi montado com ajuda das adolescentes custodiadas
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CARTAS DA PRISÃO de Nelson Mandela foi um dos títulos escolhidos a pedido das adolescentes (Foto: Mauri Melo)
Foto: Mauri Melo CARTAS DA PRISÃO de Nelson Mandela foi um dos títulos escolhidos a pedido das adolescentes

Duas adolescentes repetiam, na manhã de ontem, 20, as frases de um jogral, faladas pelo poeta marginal Jardson Remido. Elas reafirmavam, de forma cadenciada, narrativas de protesto. Nas frases, a escola pública ganhava um papel de destaque, com os alunos cada vez mais sendo aprovados no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Tráfico de drogas e criminalidade davam lugar à oportunidade. Rainhas e reis pretos reivindicavam majestade e canudos em universidades. Os versos ecoavam pelo Centro Socioeducativo Aldaci Barbosa Mota.

A atividade fez parte da programação da XIII Bienal Internacional do Livro do Ceará, que acontece até domingo, 25, e ultrapassa os pavilhões do Centro de Eventos do Ceará (CEC). Este ano, as ações romperam os muros e chegaram até o Centro Socioeducativo. A unidade acolhe 51 adolescentes que cometeram atos infracionais, entre 15 e 17 anos. O evento inaugurou uma biblioteca que tem o diferencial de ter, preferencialmente, títulos com a temática juvenil, com acervo montado com a ajuda das próprias jovens. São cerca de três mil títulos volantes entre três bibliotecas, uma fixa, inaugurada ontem e duas móveis.

"Não adiantava ter livros e as jovens não se interessarem de ler. Temos um acerto de cerca de três mil livros nas três bibliotecas e a parte dos títulos foi de sugestão dos próprios adolescentes", diz a diretora da unidade, Elisa Barreto. Ela conta que a equipe percebeu que, trazendo livros do universo juvenil, as jovens se interessariam em ler.

E Elisa tem razão. Entre os títulos abertos à escolha das meninas, um deles foi o eleito por uma das jovens, de 17 anos. Ela acredita que o Cartas da prisão de Nelson Mandela, de Sahm Venter e Zamaswazi Dlamini-mandela, vai ajudá-la a enfrentar o período de reclusão. "Próximo ano, eu vou estar em casa e não quero mais voltar para cá. Enquanto não saio daqui de fato, saio pela leituras", ensina a jovem que planeja trabalhar na Perícia Forense. Ela gosta de ler de tudo, mas o livro preferido é o Garotas de Vidro. "É sobre uma menina que sofria de bulimia. Ajuda a gente a pensar sobre essas doenças que a gente pensa nem ser doença, mas mata muita gente".

Juliana Marinho, assessora da Superintendência do Sistema Estadual de Atendimento Socioeducativo (Seas) avalia que a arte e a cultura é a maneira mais promissora de levar reflexão para as jovens. "Muitas vezes a arte e a cultura propiciam momentos e sentimentos de positividade, de otimismo e propiciam que o adolescente trabalhe seus sentimentos, emoções, o trabalho em equipe. E tudo isso é importante quando se trata de evitar a reinserção nos atos infracionais".

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