Logo O POVO+
Balanço, um mês após primeiro caso no Brasil
CIDADES

Balanço, um mês após primeiro caso no Brasil

| MEDIDAS NACIONAIS | Os médicos acreditam que as ações de isolamento social, de abertura de novos leitos e comunicação foram oportunas. No entanto, especialistas criticam postura do presidente Jair Bolsonaro na crise
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
PRAIA DO FUTURO vazia: quarentena de 10 dias no Ceará começou a vigorar na última sexta-feira, 20  (Foto: BEATRIZ BOBLITZ)
Foto: BEATRIZ BOBLITZ PRAIA DO FUTURO vazia: quarentena de 10 dias no Ceará começou a vigorar na última sexta-feira, 20

Aumentos exponenciais de casos confirmados a cada dia no Brasil, chegando a 2.433 registro espalhados por todos os estados, as primeiras mortes 57 causadas por coronavírus no País, e em contrapartida, uma série de ações de isolamentos, repasse financeiro à unidades federativas e estabelecimento de premissas de combate à Covid-19. Passado exato um mês desde a primeira confirmação do caso da doença no País e 11 dias no Ceará, médicos infectologistas analisam que as ações do Ministério da Saúde (MS) e do Governo Estadual a fim de mitigar a propagação da doença ao longo do período foram adequadas e oportunas, ainda que com falhas pontuais.

Os especialistas ouvidos pelo O POVO, no entanto, consideram que a postura do chefe do Executivo nacional, Jair Bolsonaro (sem partido), vai de encontro às ações estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela própria pasta de saúde do Governo Federal.

"Na maioria das vezes, muitas atitudes corretas foram tomadas, tanto aqui no Ceará, como nacionalmente. A medida que foram tendo os casos ainda na China, houve uma tentativa de organização, de discussão e elaboração de planos, houve um esforço, cada um dos estados fazendo seus planos de contingência, o governo federal também", detalha o médico infectologista do Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJ) professor da pós-graduação da Universidade de Fortaleza (Unifor) Keny Colares.

Ações de comunicação e informação da sociedade com relação às medidas necessárias de distanciamento social, esforços na disponibilização de estrutura e leitos adicionais nos setores públicos e privados, decretos de fechamento de estabelecimentos comerciais e industriais, no caso do Ceará, são algumas da medidas oportunas citadas.

Para o médico infectologista do HSJ e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (Famed-UFC) Roberto da Justa, um aspecto em que houve falha foi a disponibilidade e o acesso maior ao teste diagnóstico (RT-PCR). "Talvez pudesse ter sido melhor trabalhado. Há ainda uma escassez de testes diagnósticos. Esse é um problema em todos os estados e penso que houve um atraso na aquisição para uma testagem mais ampla de casos", aponta.

A manutenção dos voos, ainda que com restrições e cancelamentos pontuais, é um dos pontos críticos apontados pelo infectologista e professor da Famed-UFC Guilherme Henn. "Num lockdown, uma das coisas mais importante a serem feitas é o fechamento das fronteiras, marítimas, aéreas, e terrestres. Não faz sentido é ter transmissão comunitária, implantar o lockdown e dizer para pessoa ficarem em casa, e continuar recebendo voo de outros países infectados. Essa posição é lamentável do presidente da República, de manter os aeroportos abertos e, certamente, tem um potencial de minar os esforços de mitigação da epidemia", indica.

As críticas a Bolsonaro se estabelecem também quanto aos pronunciamentos, em que, por diversas vezes, tenta minimizar os efeitos da epidemia nas saúde. Ao longo do mês, o presidente chamou a pandemia de "gripezinha", "resfriadozinho"; classificou as mobilizações dos governos estaduais como "histeria"; e criticou a postura da imprensa, diante do alerta do aumento de casos. Por último, tem defendido a volta à normalidade e um isolamento restrito apenas aos grupos de risco - o que desautoriza o MS.

"São manifestações de quem menospreza a ciência. E a importância de um governante, nesse momento, falando uma coisa tem um poder muito grande na população. Se você minimiza alguma coisa, pode fazer com que haja uma sensação de que (as medidas de segurança) não são necessárias", expõe o médico infectologista Ivo Castelo Branco Coelho, coordenador do Núcleo de Medicina Tropical da Famed-UFC.

Para Justa, Bolsonaro tem "demonstrado despreparo, incapacidade para análise da realidade e tem atrapalhado mais que ajudado o MS". "Deveria estar atuando como líder, mas na prática tem prestado um desserviço", opina. Henn corrobora para posição, indicando que "é muito difícil fazer com que a população leve a sério o único esforço que é possível e se mostrou efetivo na contenção de um epidemia grave, quando o presidente da República joga contra".

 

Clima

A dúvida de como seria o comportamento do novo coronavírus no Brasil, devido a diferença climática em relação ao primeiros países com casos, foi suscitada: pela curva de evolução, o vírus se comporta de forma similar em climas tropicais e temperados. "Se há alguma influência do clima em relação a transmissibilidade do vírus, não tem qualquer relevância", aponta o infectologista Guilherme Henn.

Restrição

Em pelo menos 22 Estados governadores e prefeitos já tomaram medidas de isolamento contra o coronavírus, como o fechamento de divisas, bloqueios em estradas e rios, e suspensão do transporte de passageiros. Em ao menos nove cidades há toque de recolher.

O que você achou desse conteúdo?