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Transporte informal permanece para o Interior
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Transporte informal permanece para o Interior

| PANDEMIA | Motorista revela que cobra R$ 300 para realizar o percurso em que trabalha
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MOTORISTAS e passageiros têm ponto de encontro no Antônio Bezerra (Foto: AURELIO ALVES)
Foto: AURELIO ALVES MOTORISTAS e passageiros têm ponto de encontro no Antônio Bezerra

Cerca de 50 pessoas se aglomeravam embaixo do viaduto do bairro Antônio Bezerra, próximo ao terminal de ônibus com mesmo nome, enquanto uma chuva forte caia em Fortaleza no início da manhã do último sábado, 4. Elas aguardavam a partida de transporte informal rumo ao interior do Estado. O serviço de ônibus intermunicipal está proibido pelo decreto do Governo do Estado como medida de contenção à pandemia do novo coronavírus.

Desempregado, um motorista justifica a oferta do serviço como a única maneira de levar comida à mesa de casa. "Tem muito pai de família que sobrevive daqui, do viaduto. Nos últimos dias, peguei no máximo 3 passageiros por viagem. Na volta, não peguei ninguém", comenta o homem, que conseguia em torno de R$ 100 por dia. Em dias comuns, relembra, é certo ir e voltar com o carro cheio. "Hoje tá difícil até pra botar gasolina."

Natan, nome fictício utilizado, também reduziu as idas ao interior do Estado desde o decreto do governador Camilo Santana (PT). Se anterior à medida costumava ir diariamente, agora, espera conseguir até três passageiros para viajar. "Eu passei mais de uma semana parado quando decidiram isso aí. A gente precisa repor as coisas de casa, né?", justifica. O motorista revela que cobra R$ 300 para realizar o percurso em que trabalha. O valor pago depende da quantidade de passageiros transportados.

"Eu conheço outros motoristas que também não pararam, mas diminuiu bastante. Mesmo assim, é muita pouca gente viajando. Está tudo fechado. Parado." Como medida de segurança, o homem viaja de máscara e ar-condicionado desligado. Além de disponibilizar álcool em gel no interior do carro. Ele diz que nunca foi abordado por fiscalização no percurso que faz.

Entre os condutores de transporte coletivo interurbano que resolveram parar devido à Covid-19 está Jonas Ferreira. O autônomo parou antes mesmo de entrar em vigor o decreto publicado pelo Executivo estadual. "Eu estou parado há 26 dias. Desde esse dia, não coloco nada dentro de casa. Não tenho nenhuma condição de trabalhar desse jeito." O homem mora com pais, filha, esses dentro de grupo de risco, e a mulher. A frentista de um posto de combustível usado como ponto de apoio às conduções de transporte clandestino pede que seja flexibilizado o trabalho desses profissionais. "Muitos trabalham em lotação de táxis. Alguns, para fugir da fiscalização e evitar denúncias, estão tirando o adesivo de identificação.

Desempregado, o mestre de obras Francisco Souza, 57, também se protegia da chuva embaixo do viaduto do Antônio Bezerra enquanto aguardava a condução para levá-lo à casa dos pais, no interior do Ceará. Mesmo com medo, o homem afirmou que precisava ir buscar milho verde e feijão maduro, para conseguir comer durante a semana.

 

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