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Comerciantes haviam reposto peças horas antes do incêndio no Casarão
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Comerciantes haviam reposto peças horas antes do incêndio no Casarão

| Centro | O fogo teve início por volta das 20 horas do sábado, 5, e provocou o desabamento do teto e rachaduras no imóvel
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 Casarão dos Fabricantes em análise de tombamento pelo Município sofreu incêndio no sábado, 5
 (Foto: Barbara Moira)
Foto: Barbara Moira  Casarão dos Fabricantes em análise de tombamento pelo Município sofreu incêndio no sábado, 5

Ao saber do incêndio que tomou conta do Casarão dos Fabricantes na noite do último sábado, 5, Rayanne Falcão, 23, dirigiu-se imediatamente para lá. Da praça em frente ao empreendimento, viu as chamas consumirem os produtos que havia reposto naquele mesmo dia e o dinheiro arrecadado desde a sexta-feira. A loja ficava na entrada do imóvel, próximo à esquina entre a avenida Alberto Nepomuceno e a rua Rufino de Alencar. "Era a primeira janela, dava para ver direitinho o fogo comendo tudo", relata.

No domingo pela manhã, Rayanne voltou ao local e observou o vazio onde antes estava a loja que a mãe dela tinha há cerca de 15 anos. A família tem mais três empreendimentos em outros prédios comerciais, mas aquele era o principal, pela boa localização e pela maior movimentação de clientes. Era para lá que ia a maior quantidade de produtos. "Às 9 horas (de sábado), cheguei com mercadoria, e às 21 horas estava tudo queimando."

O mesmo aconteceu com a permissionária Cris Oliveira, 43, que vendia roupas femininas há mais de uma década. "A minha loja principal era aqui, eu tinha tudo aí dentro. Meu prejuízo é total, porque ontem eu repus tudo o que tinha na fábrica", relatou ao O POVO, no domingo, 6, pela manhã. A comerciante Graça Assis, 58, tinha aberto uma loja no Casarão há dois meses e também perdeu toda a mercadoria.

Na manhã de ontem, o Corpo de Bombeiros realizava a manutenção do resfriamento do local, de onde ainda saía fumaça, para extinguir o calor remanescente. "A posteriori virá o rescaldo, depois que a estrutura for avaliada e não houver risco nenhum para o bombeiro e para quem ainda tem algum material", explicou o tenente-coronel Lino Filho. "Acredito que em dois ou três dias teremos conseguido eliminar totalmente essa ocorrência."

A causa do incêndio só poderá ser determinada após a perícia, aponta o tenente-coronel. "Tinha vigilantes no local, que serão ouvidos. Isso deverá ser primordial para identificar qual foi a causa, onde foi o início e como aconteceu." Na noite de sábado, José Aquino Paulino, da administração do Mercado Central, viu homens trabalhando no Casarão com soldagem, que consiste em usar calor para unir pedaços de materiais.

"Nós alertamos sobre o risco, mas ele não deu conta. Meia hora depois, os vigias ligaram dizendo que estava pegando fogo. De pronto, liguei para o Corpo de Bombeiros e acionei nossa Brigada de Incêndio. Eu mesmo subi e, antes de os bombeiros chegarem, iniciei o combate ao fogo, tentando amenizar a situação", relata Paulino. A principal preocupação do Corpo de Bombeiros era que o incêndio não atingisse o Mercado Central, vizinho ao Casarão dos Fabricantes, pela quantidade de material existente.

Prédio histórico

O imóvel atingido pelo incêndio na noite deste sábado é um dos mais antigos de Fortaleza e "uma espécie de testemunha da ocupação primeira da Cidade", como afirma o arquiteto e urbanista Romeu Duarte. "Ele era o remanescente de um conjunto de edifícios que existiam ali na Alberto Nepomuceno que foram demolidos quando da construção do novo Mercado Central", complementa.

O prédio teve diferentes usos ao longo dos anos. "Ali funcionou o Hotel Central, talvez não se conheça outro hotel mais antigo", afirma o jornalista e historiador Miguel Ângelo de Azevedo, o Nirez. Nele também já funcionou a Companhia Cearense de Desenvolvimento Agropecuário (Codagro).

O prédio está em processo de tombamento provisório, que, segundo explica Romeu Duarte, é uma medida adotada para que não sejam feitas demolições ou intervenções danosas à integridade do bem enquanto o tombamento definitivo é avaliado. O processo de tombamento é realizado para reconhecer e proteger bens materiais com valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e/ou simbólico para uma comunidade.

Tombamento do imóvel está em análise pela Secultfor

O Casarão dos Fabricantes - ou Palacete da Avenida Central, nome oficial da construção -, que foi tomado por um incêndio na noite de sábado, 5, "tem processo de tombamento em análise", conforme informou ao O POVO, por nota, a Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor).

O imóvel soma mais de um século de história. Foi construído no final do século XIX e teve diferentes usos ao longo das décadas, tendo registros enquanto Hotel Central e Febemce.

O POVO entrou em contato com a assessoria da Secultfor na tarde de ontem, 6, solicitando entrevista sobre o processo de avaliação para tombamento definitivo ao qual estava submetido o Casarão, como consta no Anuário do Ceará. A reportagem também enviou perguntas que procuravam saber como está este processo de tombamento do Casarão, quais regras de segurança o imóvel deveria seguir estando em meio a tal processo e, também, que medidas serão tomadas em relação ao tombamento após o incêndio.

A resposta, em nota, ressalta que o imóvel, privado, "tem processo de tombamento em análise". "Diante do ocorrido", segue o texto, "a Secultfor irá realizar vistoria técnica para a avaliação do estado do bem e elaborar diretrizes específicas adequadas visando manter as características originais históricas e a manutenção do acautelamento do Patrimônio Histórico-Cultural de Fortaleza".

Bombeiros que debelaram o fogo no local relataram ao O POVO a existência de rachaduras na estrutura do Casarão, cujo teto chegou a cair após o incêndio. O fogo começou por volta das 20h de sábado e só foi debelado na madrugada de domingo. Trabalharam para conter as chamas cinco guarnições de combate a incêndio.

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