Logo O POVO+
Mortes de adolescentes cresceram 90,7% em 2020, aponta Comitê
CIDADES

Mortes de adolescentes cresceram 90,7% em 2020, aponta Comitê

|VIOLÊNCIA|Aumento nessa faixa etária foi maior que o registrado no geral, aponta Comitê de Prevenção e Combate à Violência, da Assembleia Legislativa
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
MIZAEL Fernandes da Silva, 13 anos, foi uma das vítimas em 2020. 
Ele foi assassinado enquanto 
dormia em Chorozinho (Foto: Acervo Familiar)
Foto: Acervo Familiar MIZAEL Fernandes da Silva, 13 anos, foi uma das vítimas em 2020. Ele foi assassinado enquanto dormia em Chorozinho

Doze adolescentes foram mortos, em média, por semana no Estado em 2020. O apontamento foi feito pelo Comitê de Prevenção e Combate à Violência, da Assembleia Legislativa do Estado, que lançou nesta segunda-feira, 22, nota técnica com um balanço sobre os números da violência no ano passado. Em 2020, 677 adolescentes entre 10 e 19 anos foram mortos no Ceará, contra 355 em 2019. Ao todo, 4.039 Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs) foram registrados no Estado em 2020. Enquanto o aumento geral no número de homicídios foi 78,95%, entre adolescentes o crescimento foi de 90,70%.

O Comitê usou como base para o cálculo dados da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). A nota técnica destaca o impacto da paralisação da Polícia Militar, em fevereiro de 2020, no aumento das estatísticas. Foi o período mais violento entre os nove que os pesquisadores dividiram o ano, com uma média de 24 assassinatos diários. O outro pico de ocorrências se dá no período do primeiro decreto de endurecimento das medidas de isolamento, entre abril e junho, com 12,8 casos. Outro destaque feito pela nota refere-se ao gênero das pessoas que perderam a vida. Mesmo ressaltando que as vítimas do sexo masculino são maioria (91,6% do total) foi destacado aumento de 69,77% no número de mortes de meninas e que o Estado foi o segundo com maior número de transexuais mortas, com 22 casos. O comitê também pontuou o número de mortes por intervenção policial, 143, que fazem de 2020 o terceiro ano mais violento nesse quesito já registrado. A nota ainda pontua que a prevenção de homicídios deve ser pensada a partir da redução de vulnerabilidade sociais, levando em conta recortes de classe, gênero, raça e território. "Tal agenda pública também precisa atentar para cinco atitudes básicas na promoção de vida não só de adolescentes, como da população em geral, como a urgência da ação, o planejamento das estratégias, a pactuação que integre políticas, a assertividade e a regularidade no comprometimento com tais políticas".

LEIA TAMBÉM: Menos de 1% das vítimas de assassinato tinha ensino superior; 75% não concluíram ensino médio

O retrato dos assassinatos no Ceará em 2020

Para o sociólogo Thiago de Holanda, coordenador técnico do Comitê, o aumento de mortes em 2020 mostra que a redução histórica observada em 2019 não foi fruto de políticas públicas sustentáveis, sobretudo, por estarem baseadas no policiamento ostensivo. Ele reitera a importância de adoção de programas amplos de combate às desigualdades socioespaciais, como completado nas recomendações feitas, desde 2016, pelo Comitê para a prevenção de homicídios. Parte disso, engloba a educação. "Desde o primeiro relatório do comitê, a gente ressalta que a escola é um fator protetivo. Os adolescentes, nesse período de isolamento, ao não estarem indo à escola, isso pode ter aumentado a vulnerabilidade à violência comunitária e fez com que essas mortes, sobretudo, de crianças até cinco anos, de adolescentes, tenham aumentado".

Em nota, a SSPDS reconheceu impacto do motim nas estatísticas, mas destacou uma série de ações efetuadas de combate aos homicídios. Entre elas, a reestruturação da inteligência da secretaria, fortalecimento da Polícia Civil e uso do policiamento em regiões com maior índice de criminalidade. Entre os resultados alcançados, destaca a SSPDS, estão a retirada de 6.117 armas de fogo de circulação.

 

O que você achou desse conteúdo?