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Fake news dificultam vacinação de indígenas no Ceará
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Fake news dificultam vacinação de indígenas no Ceará

Cerca de 81% dos indígenas aldeados no Ceará já receberam a primeira dose da vacina contra a Covid-19. No entanto, informações falsas dificultam imunização
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Atendimento médico: comunidades indígenas recebem apoio no combate à Covid-19. (Foto: Divulgação/Ministério da Defesa)
Foto: Divulgação/Ministério da Defesa Atendimento médico: comunidades indígenas recebem apoio no combate à Covid-19.

Dos 20.053 indígenas aldeados que habitam o Ceará, 80,96% já tomaram a primeira dose da vacina contra Covid-19. Essa porcentagem representa 15.296 indígenas aldeados vacinados com a primeira dose até a última sexta-feira, 26. O Ceará conta, atualmente, com 17 municípios que possuem território demarcado. Enquanto municípios como Tamboril já vacinaram 100% da população indígena, outros têm relatado recusa à vacina, o que dificulta a imunização desses povos no Estado. Canindé, por exemplo, só vacinou 32% da população indígena. O Plano Nacional de Imunização garante a vacinação de todos os indígenas aldeados como uma das prioridades durante a primeira fase de vacinação contra o coronavírus.


De acordo com Dourado Tapeba, assessor de controle social da saúde indígena do Distrito Sanitário Especial Indígena Ceará (Dsei-CE), fake news disseminadas têm contribuído para essa recusa à vacina. As informações fraudulentas, ele relata, atrelam vacina à “Besta fera”, “chip chinês” e “apocalipse”. As informações seriam compartilhadas por grupos religiosos. Porém, há exemplos como a comunidade dos Tapebas de Caucaia na qual há presença significativa de evangélicos, mas não houve recusa tão grande à vacina quanto ocorreu, por exemplo, em Itarema. O município localizado no litoral leste, na região da mata, é habitado por 2.205 indígenas e, pelo menos, 600 deles se recusaram a tomar a vacina.

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O Ministério Público do Estado (MPCE) participou de reunião com líderes indígenas no último dia 9 de fevereiro que tratou da vacinação. Na ocasião, foram definidas ações de sensibilização da população dessas aldeias em relação à imunização, além da disponibilização de um canal para denúncias de notícias falsas. De acordo com o promotor de Justiça Eneas Romero, "sendo verificado que existem fake news que contribuam para que eles não se vacinem, pode ser feita a responsabilização criminal, mas isso demanda provas".

numeros da covid19 entre povos indigenas no ceara
Foto: numeros da covid19 entre povos indigenas no ceara
numeros da covid19 entre povos indigenas no ceara
Reconhecimento de terras indígenas, um problema antigo

Outro problema que vem sendo enfrentado para a vacinação da comunidade indígena cearense é a falta de reconhecimento dos territórios. O plano nacional de imunização contra a covid-19 definiu que apenas os indígenas aldeados devem se vacinar nesta primeira fase. Isso inclui as populações que vivem em terras indígenas demarcadas e hoje atendidas pela Secretaria de Saúde Indígena do Ministério da Saúde.

Isso deixa de fora povos como o Karão, que foi qualificado pela Fundação Nacional do Índio no Ceará (Funai-CE), mas não foi reconhecido pela Funai nacional. Trata-se de comunidade aldeada que não pode ter acesso à vacina devido à falta de reconhecimento de sua terra.

Dourado relembra com pesar que, na eleição de 2018, uma das promessas do presidente Jair Bolsonaro foi justamente a não demarcação de terras indígenas. "No Ceará tem 14 povos que estão recebendo a vacina. Os Karão e os Tapuê-Quixelô de Iguatu, por exemplo, ainda estão reivindicando o direito ao imunizante. A Funai não cumpre o seu papel e ainda fica fazendo divergência com a Dsei", lamenta.

Os indígenas excluídos do plano de imunização, sejam aqueles que estão em terra indígena não reconhecida ou quem vive em contexto urbano, somam mais da metade da população indígena do País, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) do último censo, de 2010.

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