Aos poucos, Fortaleza caminha para se adaptar neste novo lockdown. Válido até 18 de fevereiro, o decreto estadual iniciado nesta sexta-feira, 5, ainda é descumprido por muitos. Quem circula pela capital cearense percebe estabelecimentos não autorizados a funcionar atendendo clientes, tendas e comércio de rua ainda com mercadorias à venda e aglomeração nos espaços.
Neste primeiro dia de isolamento social rígido, o fluxo de veículos foi intenso nas principais vias da cidade. Ônibus lotados circulavam normalmente, como se aquela situação não piorasse a proliferação da Covid-19.
No Centro de Fortaleza, a maioria das lojas, de fato, não abriu ontem. Alguns estabelecimentos insistiram em atender com portas semiabertas. A população em situação de rua, desprovida de auxílio, comida, emprego e dignidade, se aglomerava nas calçadas enquanto acordava para o dia cheio de restrições - regra válida, de fato, para os que tiveram teto para dormir.
Para os que dormem em praças e portas de lojas, conforme Assis Cavalcante, presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Fortaleza (CDL Fortaleza), ainda não há novas políticas de contenção para evitar a disseminação do vírus como as que foram adotadas durante a primeira onda da pandemia.
"As lojas estão fechadas, a movimentação está menor. É difícil ver o Centro assim. Em duas semanas, espero que dê certo, apesar de ficar um pouco mais perigoso pra gente", comenta Lucas Bruno, 21, atendente de telemarketing, que deve permanecer trabalhando presencialmente durante os próximos 14 dias.
Na praça do Ferreira, o jovem "concorda discordando" com a imposição do lockdown. Para ele, medidas mais duras deveriam ter sido tomadas em outras situações, como nas eleições e nas aglomerações no transporte coletivo.
A dez quilômetros dali, a feira livre da Cidade 2000, tradicional às sextas-feiras, não funcionou. Um dos comerciantes que estava no local reclamou da medida de proibição do comércio de serviços não essenciais.
Paulo Bessa, 63, proprietário de uma banca de venda de roupas na feira livre, conta que há 16 anos trabalha no local. "Tenho permissão da Prefeitura nesse ponto. No período de isolamento mais rígido vamos passar mais tempo sem abrir. É um absurdo, porque nosso ponto é livre, não tem aglomeração. Deveria ter mais condições para essa parte do comércio voltar às atividades", reivindica.
Questionado sobre o medo do aumento de casos e mortes causado pela Covid-19, ele diz: "eu tenho medo de não poder trabalhar". Paulo estava no local apenas para passar o tempo ou encontrar com alguém que resolvesse pagar mercadorias "fiadas" adquiridas anteriormente.
O POVO também visitou o bairro José Walter, em Fortaleza, e registrou descumprimentos ao decreto governamental que proíbe funcionamento de estabelecimentos e impõe lockdown na capital cearense.
Nas principais vias do bairro, estabelecimentos, proibidos de funcionar, com portas semiabertas atendem e recebem clientes. As lojas vão desde material esportivo e roupas femininas até assistências técnicas para produtos eletrônicos.
Tendas próximas aos conjuntos habitacionais também continuam funcionando. Assim como as feiras nas principais vias da região. A população também se aglomera e não utiliza máscaras de forma correta nas vias, por onde grande quantidade de veículos ainda circula.
Enquanto na Beira Mar a Polícia teve de abordar a população que teimava em se exercitar nos espaços públicos, o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil da Região Metropolitana de Fortaleza, setor com funcionamento permitido, percorreu seis grandes obras na Capital para pedir por adoção de medidas sanitárias contra a Covid-19. A entidade também quer que os trabalhadores afetados pela doença não tenham os dias de isolamento e recuperação descontados. Conforme os representantes, mais de 150 pessoas do setor já morreram em decorrência do vírus.
“Não dá para gente voltar ao trabalho, botar a economia para andar, enquanto a grande maioria de nós trabalhadores está se contaminando, estamos morrendo”, comentou Francisco Roberto, secretário de finanças do sindicato.