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Por que é importante manter a conexão das crianças com a natureza
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Por que é importante manter a conexão das crianças com a natureza

Atiçar a curiosidade dos pequenos para atividades e passeios em espaços públicos pode fortalecer os vínculos das crianças com a natureza. Conheça iniciativas em Fortaleza
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Conexão das crianças com a natureza deve ser estimulada. Na foto, crianças brincando na praça Luiza Távora (Foto: ThaÍs Mesquita)
Foto: ThaÍs Mesquita Conexão das crianças com a natureza deve ser estimulada. Na foto, crianças brincando na praça Luiza Távora

Em meio às diversas telas, o quintal de casa ou a área comum do condomínio continua aguardando descobertas e novas possibilidades de atividades. Se com a pandemia o maior ato de amor foi se afastar de todas as pessoas, a conexão com a natureza e as crianças pode ter sido enfraquecida devido ao distanciamento. Então, como reconectá-las ao mundo?

O professor da Faculdade de Educação (Faced) da Universidade Federal do Ceará (UFC), João Figueiredo, destaca a curiosidade como principal ponto de partida para incentivar as atividades com as crianças. "Ela precisa ser estimulada a conhecer esse contato com a natureza como diferente", conversa. "Se ela perceber o quão importante é ir a uma praia, toda criança que tiver a mesma oportunidade também vai perceber." Pesquisador na área da educação ambiental, João aponta para o surgimento de uma geração infantil diferente de outras passadas: com mais telas e déficit de compreensão da vida.

"Precisamos entender que nós, enquanto seres humanos, temos uma deficiência grave da natureza. Por isso procuramos uma situação de natureza não humana quando temos a oportunidade de férias ou de uma folga", justifica. Nascida em Capistrano, no Interior do Estado, a infância de Andrea Pereira Silveira teve como palco principal o quintal em sua casa. Anos depois, incentiva a filha Clarice, de 5 anos, a fazer atividades ligadas à natureza.

A  mais recente,  que a menina adora,  é participar das ações do Clubinho Caatingueiro, promovido virtualmente pela Associação Caatinga. "Eu também acompanho o Clubinho, e, uma coisa muito interessante, é que são crianças de vários locais do Brasil. E elas têm interesse em mostrar suas respectivas experiências locais. Eu estou muito feliz", diz Andrea.

Com os pais, Clarice participa de ações de educação ambiental em atividades extracurriculares e em casa. Mesmo com a mãe bióloga, Andrea conta que Clarice é bastante intuitiva em suas atividades ligadas à natureza. Dentre as favoritas, adora colecionar bichos de pelúcia da fauna brasileira e cultivar as plantas do apartamento, além de visitar locais como o Parque do Cocó, Ecopint, o Museu Seara da Ciência da UFC e praias diversas.

Entretanto, as descobertas pelo mundo foram paralisadas com a pandemia. Para lidar com as dificuldades ainda na primeira onda, os pais construíram brinquedos manuais e se aproximaram ao máximo do universo da natureza com atividades como pinturas e eventos online — tudo em casa. "Na primeira saída de casa, em meses, ela saiu pegando as graminhas do meio-fio e falando: 'Olha mamãe, o filhote da plantinha'. Aquilo me emocionou e causou uma admiração muito grande", relembra.

De acordo com João Figueiredo, as crianças precisam urgentemente viver o contato com a natureza devido ao desenvolvimento delas. "É imprescindível entendermos que essa relação com a natureza estimula em nós ações que estão adormecidas. Isso possibilita entendermos que, com a natureza, nos doamos sem esperar um retorno", explica.

"Eu não tenho objetivos educacionais diretos com a Clarice. É tudo muito intuitivo. Você também pode fazer isso com seu filho: observe o meio-fio da sua rua, as frutas em sua casa. Pense na natureza em múltiplos aspectos e relembre que fazemos parte desse universo", incentiva Andrea.

Atividades de incentivo a (re)conexão com a natureza 

Iniciativas como o Clubinho Caatingueiro da Associação Caatinga reforçam o interesse do bioma na primeira infância. O intuito é quebrar estereótipos de seca e pobreza constantemente vinculados à caatinga durante o período escolar das crianças. Há cinco anos, Marília Nascimento atua como educadora ambiental na Associação e está a frente do projeto. "No lugar de abordarmos a natureza com o urso polar, um animal distante da nossa realidade, trazemos o tatu-bola. Vamos destacando essa riqueza natural do entorno que, por muitas vezes, não se faz presente nos materiais tradicionais", explica Marília. 

Os encontros do Clubinho acontecem, por ora, no formato virtual e chegam a atender 40 crianças por turno. Dentre as atividades, estão passeios virtuais pelas reservas naturais. Com a possibilidade de retorno das atividades, a meta é disponibilizar presencialmente as visitas pela Caatinga no Ceará. "Quando há conservação e infinitas possibilidades, exploramos bastante isso na educação ambiental com essas crianças", conversa Marília, citando visitas à Reserva Natural Serra das Almas, em Crateús.

Os encontros do Clubinho utilizam metodologias adaptadas para as crianças: desenhos, pinturas e atividades lúdicas com o foco na expressão e na absorção de conhecimento para a criança. As edições são divulgadas prioritariamente no Instagram da Associação Caatinga. O site da instituição também disponibiliza gratuitamente atividades de educação ambiental em casa, como a impressão de pinturas do tatu-bola e de outros animais da fauna da Caatinga.

O Ecomuseu Natural do Mangue também realiza atividades na Capital cearense. Localizado na Sapiranga, o museu aos poucos vem retornando as atividades paralisadas na pandemia, como a visitação aberta a turistas, escolas e outras demandas — tudo por agendamento. As atividades retornarão a partir do dia 1º de agost, e o Ecomuseu funcionará de terça à domingo com aulas de campo e visitas ao museu itinerante e coletivo, feito por visitantes. 

"Os meninos que estão em apartamento são obrigados a ter convivência com a tecnologia. E quando eles saem para a natureza, eles têm medo. Nosso intuito é aproximá-los dessa natureza do Mangue", conta Rusty de Castro Sá Barreto, fundador do Ecomuseu. As atividades promovem o conhecimento do mangue não só para as crianças, mas para os pais e responsáveis. "Crianças não podem ir para a natureza sozinhas, devem ir acompanhadas com um adulto que será responsável por elas. Unindo os pais e responsáveis, possibilitamos esse formato. Elas saem apaixonadas, o que é o diferencial de levá-los para conhecer o espaço", comenta.

Segundo o idealizador e influenciador ambiental, as crianças adoram conhecer os caranguejos do mangue. "O caranguejo só é conhecido porque ele é consumido", destaca. "Mas a reposta está aí: é começarmos a trabalhar com os nossos animais, em específico. A didática ainda é muito de mostrar o leão e a girafa como representantes de todas as florestas."

Serviço:

EcoMuseu do Mangue

www.ecomuseunaturaldomangue.com.br
Instagram: @ecomunam
Agendamentos: (85) 98749.5286 / 99112.6779

Associação Caatinga

www.acaatinga.org.br

Instagram: @acaatinga

 

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