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Os séculos de mudanças nas vacinas até o cenário atual da Covid
Ciência e Saúde

Os séculos de mudanças nas vacinas até o cenário atual da Covid

Pandemia revolucionou setor de vacinas, e milhares de mortes foram evitadas. Antes, uma vacina demorava 10 anos para ser criada; o imunizante contra a Covid-19 foi desenvolvida em meses
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Quando um experimento científico permitiu a descoberta da primeira vacina, o mundo deu um salto em direção aos avanços no tratamento de diversas doenças. Era 1796, quando o médico inglês Edward Jenner observou que pessoas contaminadas pela doença de gado acabavam se tornando imunes à varíola humana —, que se assemelhava àquela que afeta vagas pelas lesões com pus que se formavam sobre a pele.

Assim, o médico deu início aos testes que deram à luz à primeira vacina, que prevenia a varíola humana, o que fez com que a doença fosse erradicada muitas décadas mais tarde, em 1980.

Lauro Perdigão, infectologista do Hospital São José, em Fortaleza, explica que, a partir disso, Edward Jenner deu margem para o desenvolvimento de outras estratégias para o desenvolvimento de vacinas.

“Graças ao experimento rudimentar que originou o primeiro imunizante e os avanços científicos que ocorreram desde então, hoje pudemos desenvolver a vacina para a Covid-19 em tempo recorde. O que antes levava mais de dez anos para ser disponibilizado ao público, foi feito em meses de inteira dedicação da comunidade científica especializada”, pontuou Lauro.

Cenário da vacinação no século XX

A produção de vacinas era de 5 bilhões de doses por ano antes da pandemia da Covid-19 — menos de uma por pessoa. O mundo contava com poucos laboratórios de grande porte, pois os investimentos necessários para o desenvolvimento de um novo composto são significativos.

Antes da pandemia, quatro gigantes controlavam 90% do mercado: as americanas Pfizer e MSD, a britânica GSK e a francesa Sanofi. No entanto, com exceção da Pfizer — associada à empresa de biotecnologia BioNTech — nenhuma dessas farmacêuticas conseguiu produzir uma vacina contra a Covid.

Tradicionalmente, a tecnologia utilizada como base para a produção dos imunizantes é constituída por um vírus inativo, que conserva a capacidade de gerar uma resposta imune, como é o caso do vírus da gripe.

Além dela, outra técnica semelhante utilizando um vírus atenuado por diversos processos químicos compõe as vacinas tríplices virais, como a contra o sarampo, caxumba e rubéola.

Até o surgimento da Covid-19, a vacinação dizia respeito a grupos específicos, por exemplo, crianças, no caso da vacina contra a poliomielite; ou idosos e pacientes imunossuprimidos, para os quais a vacina contra a gripe era recomendada.

Cenário pós-Covid

Agora, em 2022, existem vacinas para mais de 20 doenças potencialmente mortais. Com a imunização, é possível evitar entre 2 e 3 milhões de mortes por ano, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Nos últimos anos, novas tecnologias surgiram, como é o caso das vacinas de subunidade e das vacinas com vetor viral, que usam um adenovírus como vetor para apresentar ao sistema imunológico um fragmento do vírus contra o qual o organismo precisa produzir anticorpos, a exemplo da fórmula contra o ebola.

Como inovações mais recentes no ramo das vacinas, estão as compostas por RNA mensageiro, que até 2020 não eram nem sequer comercializadas. Esta tecnologia funciona por meio da ativação da imunidade humana a partir da injeção do RNA mensageiro de fragmentos do vírus.

"O RNA mensageiro representa uma mudança no baralho", disse Loïc Plantevin, especialista em saúde da consultoria Bain & Company, à Agence France-Presse (AFP), em junho.

A pandemia de Covid-19 trouxe revolução ao setor com o surgimento de empresas como a BioNTech e a empresa americana Moderna, que criou as primeiras vacinas de RNA. Impulsionando, também, a produção em regiões menos abrangidas pela distribuição durante a primeira fase pandêmica.

Pensando na perspectiva da desigualdade no acesso às doses, a OMS lançou um programa para instalar centros de produção de vacinas de RNA mensageiro em seis países africanos a partir de 2024. Como próximos passos dos projetos de desenvolvimento de imunizantes, a Moderna busca agora avançar com a produção de uma vacina contra doenças tropicais, como dengue, ebola e malária.

O ganhador do prêmio Nobel de medicina, Charles Rice, disse à AFP, no final de 2020, que a crise da Covid "mudou a forma de fazer ciência, para promover um esforço comum, mais que um trabalho individual em diferentes laboratórios, isolados", como se fazia há anos.

Devagar se vai longe: os próximos passos da vacina cearense

O Laboratório de Biotecnologia e Biologia Molecular (LBBM) da Universidade Estadual do Ceará (Uece) trabalha no desenvolvimento de uma vacina contra o coronavírus desde abril de 2020. O estudo, intitulado HH-120-Defenser, tem como objetivo verificar o possível uso do imunizante para induzir a produção de anticorpos de combate à doença.

A vacina desenvolvida pela Uece ainda não tem estimativa de quando será disponibilizada para o público. Conforme informações do doutor em Biotecnologia da Uece, Ney de Carvalho, a fase pré-clínica da produção do imunizante já está concluída e agora passa pela etapa de adequação dos resultados, seguindo as recomendações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para dar início à fase clínica.

O médico analisa a vacina não somente como um feito oriundo dos trabalhos desenvolvidos no Estado, mas como um legado nacional, que agrega grande valor para os estudos científicos produzidos no Ceará.

“O desenvolvimento deste imunizante oriundo de uma universidade pública, com os parcos recursos disponíveis, mostra-nos que no Brasil e no Ceará também se desenvolve pesquisa de ponta fazendo-nos acreditar que em breve os produtos nacionais, também de indústrias nacionais, serão referendados com qualidade internacional”, afirmou.

Quanto às expectativas, Ney de Carvalho pontua que a produção da vacina trará novos horizontes para o corpo docente e discente. “Espero que a vacina ajude a alavancar a Uece e colocá-la no patamar das principais universidades do País e por que não da América Latina. Patamar este merecedor desta Universidade, que também é minha alma mater.”


Vacinas aplicadas contra a Covid-19 no Brasil

CoronaVac
Tecnologia - Vírus inativado
Eficácia - 62,3% se o intervalo entre as duas doses for igual ou superior a 21 dias. Nos casos que requerem assistência médica a eficácia pode variar entre 83,7% e 100%
Intervalo entre doses - 14 a 28 dias

AstraZeneca
Tecnologia - Vetor viral
Eficácia - 76% após a primeira dose e 81% após a segunda
Intervalo entre doses - 12 semanas

Pfizer
Tecnologia - RNA mensageiro
Eficácia - 95% após a segunda dose
Intervalo entre doses - Até 12 semanas após a primeira dose

Janssen
Tecnologia - Vetor viral
Eficácia - 66,9% de eficácia para casos leves e moderados e 76,7% contra casos graves 14 dias após a aplicação
Intervalo entre doses: Dose única

Fonte: Instituto Butantan

Vacinas contra Covid-19 aprovadas no mundo

Pfizer-BioNTech - Estados Unidos / Alemanha
Em parceria com a BioNTech, a Pfizer desenvolveu uma vacina à base de mRNA para combater o vírus SARS-CoV-2, que foi aprovada por órgãos regulatórios em todo o mundo. A vacina Pfizer BioNTech contra a Covid-19 tem uma eficácia de 95% contra a infecção sintomática por SARS-CoV-2.

Sinopharm - China
Um grande estudo de Fase 3 em vários países mostrou que duas doses, administradas em um intervalo de 21 dias, têm uma eficácia de 79% contra a infecção sintomática por SARS-CoV-2 14 ou mais dias após a segunda dose. A eficácia da vacina contra a hospitalização foi de 79%.

Oxford-Astrazeneca - Reino Unido / Suécia
A eficácia da vacina contra a infecção sintomática por SARS-CoV-2 foi de 76%. Mas isso é específico para eventos a partir de 15 dias após a segunda dose, com um intervalo entre as doses de 29 dias.

Sinovac (CoronaVac) - China
Um grande estudo de fase 3 no Brasil mostrou que duas doses, administradas em um intervalo de 14 dias, tiveram eficácia de 51% contra infecção sintomática por SARS-CoV-2, 100% contra Covid-19 grave e 100% contra hospitalização a partir de 14 dias após receber a segunda dose.

Moderna - Estados Unidos
A vacina Moderna demonstrou ter uma eficácia de aproximadamente 94,1% na proteção contra a Covid-19, começando 14 dias após a primeira dose, no contexto da cepa ancestral.

Novavax - Estados Unidos
A eficácia de Novavax (NVX-CoV2373) foi avaliada em três ensaios de Fase 2 e Fase 3. Dos dois ensaios de Fase 3, ambos descobriram que a eficácia da vacina contra doenças leves, moderadas e graves é de 90%.

Bharat Biotech (Covaxin) - India
A eficácia da vacina contra a Covid-19 de qualquer gravidade, 14 ou mais dias após a dose 2, foi de 78%. A eficácia da vacina contra a doença grave é de 93%. Em adultos com menos de 60 anos, a eficácia foi de 79%; e naqueles com 60 anos ou mais foi de 68%.

Johnson & Johnson (Janssen) - Estados Unidos / Bélgica
28 dias após a inoculação, Janssen Ad26.CoV2.S demonstrou ter uma eficácia de 85,4% contra doenças críticas e 93,1% contra hospitalização. Uma dose única de Janssen Ad26.COV2.S foi encontrada em ensaios clínicos para ter uma eficácia de 66,9% contra a infecção sintomática moderada e grave por SARS-CoV-2.

Fonte: Site oficial da Organização Mundial da Saúde (OMS)

Tecnologia das vacinas contra Covid

Vetor viral - São vírus patogênicos altamente atenuados, capazes de produzir antígenos de outros patógenos, estimulando o corpo humano a produzir a proteína S (responsável pela ligação do novo coronavírus com as nossas células). Vacinas: AstraZeneca, CanSino, Janssen, Sputinik V

Vírus inativado - A mais bem estabelecida historicamente, leva o vírus morto para o sistema imunológico. Vacinas: CoronaVac, Covaxin

RNA mensageiro - Cientistas desenvolveram o RNA mensageiro (mRNA) sintético e ele passa a "ensinar" o sistema imunológico a produzir a proteína S. Vacinas: Moderna, Pfizer, Curevac

Subunidade - Baseia-se na inoculação de fragmentos do vírus, como a proteína S, recebidos como agentes estranhos pelo corpo, o que desencadeia resposta imunológica. Vacinas: Novavax

Fonte - Sociedade Brasileira de Imunizações

 

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