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Racismo e desigualdade impactam na saúde
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Ciência e Saúde

Racismo e desigualdade impactam na saúde

A cor da crise
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Math Costa Mota, estudante de Serviço Social, e que atua na pesquisa de uma política de Saúde Mental Antirracista, fala sobre os avanços de políticas neoliberais de individualização da experiência humana, como a exploração do meio ambiente, a agudização da pobreza, da fome e da violência nas periferias — seja armada, faccional ou institucional.

"O que temos visto é que a política de saúde mental não deve se restringir somente ao diagnóstico, uma vez que, independentemente do adoecimento, o quadro é agravado a partir da experiência e do lugar social desses indivíduos. O assistente social precisa desse olhar diferenciado, com o qual fazemos um acompanhamento ampliado de sua dimensão social", comenta.

Math, que já atuou em um hospital mental de Fortaleza, revela sobre o funcionamento, que ainda traz traços manicomiais, já que a estrutura insiste em permanecer conservadora e não conta com orçamento que garanta a qualidade dos serviços.

"A grande maioria das pessoas internadas é negra e advinda das periferias de Fortaleza ou do interior do estado. Há também reclamações sobre os CAPS, seja pela não contratação ou pela falta de psiquiatras, o que gera filas de espera de meses ou até um ano", explica.

A pesquisadora também abre espaço para um âmbito ainda pouco falado: as instituições prisionais, que abrigam pessoas com algum tipo de deficiência cognitiva ou questão de saúde mental. No Ceará, o Instituto Stênio Gomes, único hospital psiquiátrico do sistema prisional, foi fechado.

"É um espaço crucial para os "esquecidos" pelas famílias e pelo Estado. O grande debate nacional é que essas pessoas deveriam estar vinculadas a um departamento da assistência social e da saúde. E sim, a grande maioria é composta por pessoas negras ocupando esses lugares de negação do direito de ir e vir, do cuidado em liberdade", finaliza.

Atualmente, Math vem pesquisando o processo de negação da política de saúde mental para as mães que tiveram seus filhos vitimados pela violência letal do Estado. Ou seja, a pesquisadora está analisando essa negação no Ceará, com um recorte de raça e gênero.

"Em dados iniciais, levantei que o Estado não estabelece a prevenção antes de acontecer; precisa ter algum mecanismo de reparação. O que temos hoje não é uma política institucionalizada de garantia da saúde mental dessas mulheres, mas sim um arranjo. É preciso uma legislação específica, que assuma a responsabilidade dessas mortes, visto que não assumem o crime e que as vítimas são negras", conclui.

 

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