Logo O POVO+
Resgate da auto-estima
Ciência e Saúde

Resgate da auto-estima

A reconstrução ou não da mama deve ser uma decisão da mulher
Edição Impressa
Tipo Notícia

Os casos mais complexos de mastectomia são os das mamas que precisaram passar por radioterapia. O processo, de acordo com a médica Aline Carvalho, mastologista da Maternidade Escola Assis Chateaubriand (Meac), pode provocar perda da elasticidade e fibroses (cicatrizes). "A equipe de cirurgia plástica (da Meac) se junta a nós nesse sentido de procurar oferecer um tratamento completo do início ao fim, com resgate de autoestima", aponta.

A reconstrução da mama que passou pela mastectomia não é uma cirurgia somente do ponto de vista estético. É uma questão que se reflete em proporcionar que a autoimagem corporal seja a melhor possível e que a mulher consiga enfrentar a doença com uma maior autoestima.

Com um movimento de apoio às mulheres mastectomizadas, a Unifametro reúne, no dia 24 de outubro, um grupo de oito esteticistas e dermopigmentadoras a partir do Projeto Amigos do Peito. Nele, se trabalha a autoestima das mulheres mastectomizadas com a reconstrução de mamilo e aréola mamária. A técnica utilizada, a da micropigmentação, será oferecida na tarde da próxima quinta-feira a dez mulheres, no laboratório de estética facial da faculdade. Outras dez poderão marcar ainda o procedimento.

"Nos inspiramos em um projeto de um shopping de São Paulo, de dar a possibilidade dessas mulheres olharem o próprio corpo e se sentirem bem, bonitas. É um resgate da autoestima", diz a professora esteticista Gisele de Paulo. Um total de 80 mulheres já passaram pelo procedimento a partir do projeto no Estado. Para participar, é necessário que a paciente tenha recebido alta médica após a mastectomia e a reconstrução mamária.

Gisele conta que o seu trabalho vai além do processo estético. A reconstrução com a dermopigmentação funciona como uma tatuagem. "Para a mulher, significa, muitas vezes, que ela vai poder se refazer. Para a profissional, é poder contribuir com a sociedade, olhar o outro e ver uma transformação concreta", comemora.

A desorganização emocional trazida pelo câncer de mama vem com uma desorganização social. A psicóloga da Meac Ana Kristia Martins trata de mulheres que passam pelo processo de aceitação do câncer e da mastectomia. "Só em pensar que se pode ter um câncer de mama já se gera ansiedade em muitas pacientes. O momento do diagnóstico é de extrema desorganização emocional. E ela gera uma desorganização social porque muitas vezes a mulher que trabalhava não vai poder mais trabalhar porque vai iniciar o tratamento. E (vem) a desorganização financeira e familiar", conta. Os papéis que ela assumia, de cuidadora, por exemplo, mudam: ela que precisará de cuidados.O atendimento com acompanhamento psicológico defini-se, assim, imprescindível.

A maior preocupação não é, segundo a psicóloga, sobre a perda do seio. Para muitas das mulheres, segundo Kristia, o marido e os filhos que dependem dessas pacientes são geradores da maior ansiedade. "Muitas famílias têm mulheres com filhos com doenças genéticas e que dependem delas fisicamente. Como elas vão poder carregar os filhos, dar banho?", indaga.

A filha de uma paciente, conta Kristia, dependia da mulher para tudo. Então a preocupação dessa mãe era a de não poder nem cozinhar para a criança. A primeira preocupação para muitas mulheres é sobreviver.

Quanto à preocupação com a aparência estética, no caso de retirada da mama, a psicóloga ressalta que depende de vários fatores. "Algumas mulheres não se sentem tão afetadas porque o companheiro está junto, apoia. Outras, não é bem assim. Quer dizer que ela só se preocupa por causa do marido? Não. Mas tendo alguém que a apoie, ela consegue enfrentar essa situação com mais serenidade e autoconfiança", acredita.

A recomendação de Kristia é de procurar suporte familiar, suporte psicológico. "Se cuidar, porque nós mulheres somos muito mais que os seios."

SERVIÇO:

As inscrições para o projeto da Unifametro podem ser feitas através do Sindsaúde, pelos telefones (85) 3255 4551 e (85) 99826 3138.

projeto

Movimento de apoio às mulheres mastectomizadas da Unifametro reunirá, no dia 24 de outubro, um grupo de oito esteticistas e dermopigmentadoras a partir do Projeto Amigos do Peito para reconstrução de mamilo e aréola mamária por micropigmentação.

O que você achou desse conteúdo?