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A esperança que vem da ciência
Ciência e Saúde

A esperança que vem da ciência

| Pesquisas | Para testar medicamentos, a OMS lançou ensaio clínico em 50 países, incluindo o Brasil
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Ainda sem medicação específica, a Covid-19 pode ser combatida com o uso desse medicamento, segundo apontam especialistas (Foto: ARQUIVO)
Foto: ARQUIVO Ainda sem medicação específica, a Covid-19 pode ser combatida com o uso desse medicamento, segundo apontam especialistas

A Covid-19 já causou a morte de mais de 40 mil pessoas. Por se tratar de um patógeno novo, não há estudos validados que indiquem medicações apropriadas para o tratamento e ainda não houve tempo para a criação de uma vacina. Contudo, progridem também as iniciativas científicas no Brasil e no mundo que visam ao combate do Sars-CoV-2.

Entre os principais projetos está o ensaio clínico anunciado pela OMS que será realizado em 50 países. Sob o nome de Solidariedade (Solidarity), a pesquisa pretende submeter pacientes contaminados com a Covid-19 a tratamentos medicamentosos, para identificar quais demonstram serem mais eficazes.

"A vacina ainda está a pelo menos 12 a 18 meses. Enquanto isso, reconhecemos que a necessidade urgente de terapêutica para tratar pacientes e salvar vidas. Este é um teste histórico que reduzirá drasticamente o tempo necessário para gerar evidências robustas sobre o funcionamento das drogas", afirmou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em pronunciamento na última semana. Espanha e Noruega já iniciaram os primeiros estudos.

No Brasil, o ensaio será coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com o apoio do Departamento de Ciência e Tecnologia (Decit) do Ministério da Saúde, e será conduzido em 18 hospitais de 12 estados, incluindo o Ceará.

"Ameaças globais exigem respostas globais e cooperação global. Essa é importância desse estudo. Nós fizemos um levantamento e a maior parte dos ensaios clínicos incluem um número limitado de pacientes, com o risco de não conseguirem dar resposta para perguntas como que medicamentos funcionam que medicamento não funcionam? O ensaio da OMS vai ser conduzido em diversos países e pretende incluir o mais rápido possível pacientes voluntários para que possa chegar a um resposta rápida", apontou Valdiléa Veloso, diretora do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), em entrevista coletiva.

Com meta de estudar cerca de 1,2 mil pacientes no Brasil, o ensaio dividirá os pacientes internados em quatro grupos em que serão testados, em um primeiro momento, a cloroquina e a hidroxicloroquina (utilizado para tratamento de malária e de doenças autoimunes, como lúpus), o remdesivir (antiviral usado contra o ebola), a combinação liponavir e ritonavir (antivirais usados em tratamento contra o HIV), e a combinação de liponavir e ritonavir com Interferon Beta 1a (imunossupressor). O primeiro paciente do ensaio foi incluído no INI em 1º de abril, e no dia anterior a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) recebeu o paciente inicial.

Veloso indica que o ensaio tem um desenho adaptativo e que, conforme as análises dos resultados ao longo da realização forem sendo feitas, medicamentos podem ser retirados ou incluído no estudo. "Caso se verifique que alguma daquelas drogas nós já tivermos dados de que ela não funciona, aquele braço do estudo sai. Se aparecer por outras evidências de algum medicamento que se mostre muito promissor, esse medicamento pode ser incorporado", detalha.

Em parte do estudo, em hospital que está sendo construído para atender a 200 pacientes em unidades de tratamento intensivo e semi-intensivo, no Rio de Janeiro, os pacientes serão apenas aqueles com casos graves ou muito graves. Os primeiros 100 leitos do hospital devem começar a operar em cerca de um mês. Já no restante dos 17 hospitais, os quadros podem variar de moderados a muito graves. No Ceará, a unidade de saúde que acolherá o ensaio será o Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJ).

Por meio de assessoria, o HSJ confirmou participação no ensaio. "Neste momento, o HSJ passa por um processo de formação de equipe e análise do protocolo estabelecido pela OMS junto ao Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital. A previsão é de que as primeiras atuações do Ceará no projeto se iniciem em duas semanas", afirma nota. O HSJ tem hoje 52 leitos reservadas aos pacientes com Covid-19, além de oito leitos de UTI.

Um grupo totalmente voluntário e colaborativo da sociedade civil. Começamos a juntar pessoas, como o (administrador de empresas) Sam Faraday, o (engenheiro mecânico) Pedro Rela e começamos a desenvolver protótipos que poderiam ser utilizados no combate à Covid-19. O primeiro protótipo que surgiu em impressora 3D, feita pelo Rela, na casa dele, foi uma válvula que vem sendo usada na Itália para tornar possível que uma só máquina que faz a respiração mecânica pudesse abastecer a dois pacientes simultaneamente. O projeto (da máscara) foi aprovado pela Secretaria da Saúde do Estado e pelos médicos de Fortaleza e nós migramos o projeto para o Senai. Vimos que precisávamos dar uma resposta mais rápida para os médicos e ver o que poderia ser feito, de forma mais emergencial, e foi aí que surgiu a ideia das máscaras face shields. E vimos, com a orientação de um médico, que era possível fazer a máscara toda em acetato. Conseguimos, por meio de uma parceria com a empresa Qualygraf, uma gráfica localizada próxima ao aeroporto. Começamos a correr com uma campanha nas redes sociais para arrecadar a dinheiro para fazer a compra do acetato. Conseguimos comprar material suficiente para produção de aproximadamente seis mil máscaras. E começamos o processo de fabricação. Em quatro dias, conseguimos produzir quase seis mil e entregamos aos hospitais de Fortaleza, em um trabalho totalmente voluntário.

O ensaio, conforme Veloso, tem custo total no Brasil de R$ 4 milhões. Parte dos medicamentos serão entregues pela OMS às unidades hospitalares, parte será produzido pela própria Fiocruz. Determinando que um medicamento é mais eficaz no tratamento dos sintomas de pessoas acometidas pelo patógeno, esse medicamento passa a ser recomendado e deverá ter a produção aumentada, com auxílio também da Fiocruz. O prazo para que isso aconteça, no entanto, é incerto. "É um estudo dinâmico e não tem como definir quando que nós vamos ter a resposta. Estamos trabalhando para incluir um número grande de participantes em vários países para que a resposta venha em um tempo curto", projetou a diretora.

Soro

Utilizando técnica de imunização passiva, o Hospital Albert Einstein também tem trabalhado na criação de um soro com anticorpos neutralizados, extraídos a partir do processamento do sangue de pacientes curados da Covid-19. Não se trata de uma vacina. É uma imunização de curta duração, mas que serviria para utilizar em momentos de pico em grupos de risco e em profissionais de saúde na linha de enfrentamento da doença.

Estudos pelo Mundo

Um grupo de cientistas chineses da Universidade Tsinghua, de Pequim, e do 3º Hospital Popular de Shenzhen isolou vários anticorpos que considera "extremamente eficientes" para impedir a capacidade do novo coronavírus de entrar nas células, o que pode ser útil tanto para tratar quanto para prevenir a Covid-19. O pesquisador Zhang Linqi disse que um remédio feito com anticorpos como os que sua equipe descobriu poderia ser usado de forma mais eficaz do que as abordagens atuais. Entre os cerca de 20 anticorpos testados, quatro conseguiram bloquear a entrada viral, e desses dois foram "imensamente bons". Os anticorpos não são uma vacina, mas existe a possibilidade de aplicá-los em pessoas do grupo de risco com o objetivo de impedir que contraiam a doença.

Também na China, denvolvida em parceria entre pesquisadores, forças armadas e a iniciativa privada, as primeiras doses da vacina foram aplicadas no mês de março em 108 voluntários, divididos em três grupos, todos da cidade de Wuhan, primeiro epicentro da epidemia, e serão acompanhados durante seis meses para observação dos efeitos.

No EUA, a empresa Johnson & Johnson anunciou a seleção de uma possível principal vacina contra a Covid-19. A empresa espera começar os estudos clínicos em humanos o mais tardar em setembro de 2020, e prevê que os primeiros lotes da vacina contra o Covid-19 possam estar disponíveis para autorização de uso emergencial no início de 2021. O objetivo é fornecer suprimento global de mais de um bilhão de doses de vacina.

Na Universidade de Minnesota, também no EUA, uma equipe estudou como as mutações que alteraram a estrutura de uma proteína Sars-CoV-2 tornaram ela capaz de se ligar de forma eficiente às células humanas. Com isso, imagina-se que se possa, a partir de agora, projetar drogas que as procurem e bloqueiem a atividade do vírus.

No Brasil, pesquisadores da Unicamp e da USP estão desenvolvendo um teste rápido para Covid-19, que deve ser capaz de confirmar a infecção em cinco minutos. O novo teste espera aprovação para ser analisado em humano e é previsto para estar disponível em maio. O novo teste deve custar cerca de R$ 40, metade do valor do produto existente no mercado.

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