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O incrédulo São Tomé de olho no Corujão

2017-01-19 01:30:00

 

O que é mais barato e mais eficiente para o Governo, construir hospitais públicos ou contratar serviços privados de saúde para atender às sempre crescentes demandas? A opção do Ceará foi construir grandes unidades regionais, equipando-as e contratando servidores para que funcionassem. É evidente que esse caminho custou os olhos da cara e, mesmo assim, os problemas continuam. Tanto que a área de saúde é o serviço mais mal avaliado pela população.


Na última campanha para governador, tratei do tema. Escrevi artigos mostrando que a construção do Hospital Regional do Cariri nem sequer havia aumentado a quantidade de leitos disponíveis na região. Motivo: quando o grande hospital público começou a funcionar, muitos leitos privados foram fechados. Clínicas particulares que faziam exames também cerraram as portas diante da concorrência.


Resultado: apesar dos imensos investimentos para construir novos hospitais e dos custos astronômicos para mantê-los, os antigos problemas na saúde se mantiveram. Na época, indaguei a um importante membro do Governo: Qual o maior problema na saúde do Ceará? Resposta: a imensa fila para realizar exames. Daí, perguntei: não seria melhor, mais barato e mais racional contratar exames da iniciativa privada para atender a demanda em vez de optar por novos hospitais públicos? Um gritante silêncio se fez como resposta.


Na última campanha para prefeito, vi que o candidato vencedor em São Paulo, maior cidade do País, formulara a proposta de um programa para, em 90 dias, acabar com a fila de quase 500 mil pessoas na espera para realizar exames na cidade. O tucano João Dória batizou a ideia de “Corujão da Saúde”. O conceito chega a ser simplório: usar a rede de saúde privada para realizar exames nos horários em que os equipamentos estivessem ociosos.


No último dia 10, o “Corujão” começou a ser implantado em hospitais e clínicas das redes pública, particular e filantrópica, que passaram a ofertar exames extras em horários alternativos, preferencialmente das 20h à meia-noite. A preferência é que o exame seja feito no serviço mais próximo da casa do paciente. A remuneração dos procedimentos segue o valor da tabela do SUS com investimento total de R$ 17 milhões, menos de 10% do custo para construir um desses hospitais regionais do Ceará.


A adesão dos hospitais privados e filantrópicos foi imediata. Não à toa. Afinal, é ganho extra nos horários em que os sofisticados e caros equipamentos de exames estão parados. Hospitais privados como os famosos Albert Einstein, Sírio Libanês, Oswaldo Cruz e Hcor fazem parte da rede do Corujão que é formada por 20 unidades de gestão privada.


Resultado: em uma semana, a fila de pacientes que aguardam agendamento de exames na rede pública municipal da capital paulista “caiu 49,8%, saindo de 485,3 mil para 241,8 mil”, afirma a Secretaria de Saúde paulistana. Nesse período, foram marcados 243,5 mil exames para os pacientes do programa. Desses, 137,1 mil já serão feitos até o fim de janeiro. O prefeito mantém a aposta de zerar a fila em 90 dias.


Nesse caso, é bom agir como agiu o receoso e cuidadoso São Tomé, que esperou ver para crer. O resultado final não vai demorar. Caso o programa alcance a sua meta, sugere-se que nossos governantes o adotem. Os pacientes, suas famílias e os honoráveis contribuintes agradecerão de joelhos orando para o santo.

 

Adriano Nogueira

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