Os brasileiros estão mais ativos! É pra comemorar?
Há poucos dias, o ministro da Saúde divulgou os dados mais importantes da Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel 2016). Esse modelo de pesquisa em saúde busca monitorar e analisar o perfil das doenças e seus fatores determinantes e condicionantes, bem como detectar mudanças ao longo do tempo em diferentes regiões e populações. Foram entrevistadas 53.210 pessoas, maiores de 18 anos, em todas as capitais do País, entre fevereiro e dezembro de 2016. Alguns resultados, apesar de parecerem animadores, merecem uma reflexão.
Com relação ao número de praticantes de atividades físicas, o Vigitel 2016 considerou as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a quantidade de atividade física suficiente para impactar positivamente na saúde do praticante, ou seja, 150 minutos acumulados de atividade física com intensidade moderada por semana durante o tempo livre. Adotando esse modelo, 37,6% dos brasileiros são ativos, o que representa uma clara uma evolução em relação a 2009, quando 30,3% da população era considerada ativa.
Obviamente que esse incremento de 24% no número de brasileiros praticantes de atividades físicas no tempo livre representa um avanço, mas não podemos dizer o mesmo em relação a outros dados:
• A obesidade cresceu 60% (de 11,8%, em 2006, para 18,9% em 2016);
• Houve um aumento de 61,8% no número de pessoas diagnosticadas com diabetes (5,5% em 2006 para 8,9% em 2016);
• O diagnóstico de hipertensão arterial cresceu 14,2% (de 22,5% em 2006 para 25,7% em 2016).
Mesmo considerando as limitações metodológicas da pesquisa, não podemos fechar os olhos para uma realidade que parece saltar dos gráficos e tabelas do Vigitel 2016: um número maior de praticantes de atividades física no tempo livre não influenciou na prevalência de algumas doenças crônicas que podem ser prevenidas ou tratadas também com a prática de exercícios.
Saber que mais brasileiros estão ativos é importante e animador, mas, como profissional de saúde, penso que a prática de exercícios tem que ser suficiente para alcançar parâmetros comprovadamente saudáveis que permitam ampliar a longevidade e melhorar a qualidade de vida de seus praticantes. É justamente nesse ponto que os dados do Vigitel 2016 chamaram minha atenção.
Talvez a resposta para essa aparente contradição entre os números da pesquisa que mostram um aumento do número de brasileiros ativos e também do número de brasileiros “doentes” esteja na dose adequada de exercícios para saúde. Um estudo de revisão muito interessante, publicado no ano passado pelo prestigiado periódico científico britânico BMJ, reuniu uma equipe de pesquisadores dos Estados Unidos e da Austrália para analisar as conclusões de 174 pesquisas, publicadas entre 1980 e 2016, sobre a relação entre a prática de atividades físicas e o risco do desenvolvimento de doenças como câncer (mama e cólon), diabetes, doença arterial coronariana e AVC. Os pesquisadores concluíram que mais atividade física por semana associava-se a riscos mais baixos para as doenças analisadas. O detalhe é que os principais ganhos de saúde ocorreram quando o nível de atividade física era bem superior ao recomendado pela OMS e utilizado como parâmetro para o Vigitel 2016.
Resumindo, meus amigos: melhoramos, mas ainda estamos aquém do necessário. Precisamos nos mexer mais, e se esse recado é importante para quem leva um estilo de vida relativamente ativo, imagine para os sedentários.
Ao leitor que prefere as pantufas aos tênis, as telas da tecnologia acalçadões, praças e parques e que considera o sofá seu templo sagrado, segue um alerta: para atingir os parâmetros desejáveis de atividade física para saúde, o primeiro passo é COMEÇAR! Não espere o melhor momento, pois simplesmente esse momento não chegará (afinal exercício não é sua prioridade). Sabe aquela tarefa utilizada por você como “muleta” para justificar seu imobilismo? Quando ela terminar, outras irão surgir. Então, não espere por nada e por ninguém, o momento certo é agora! No começo, você irá achar ruim acordar mais cedo ou chegar em casa mais tarde para se exercitar, mas depois... continuará achando ruim, afinal algum sacrifício há de ser vivenciado para que você funcione melhor, por mais tempo e menos exposto ao risco de doenças limitantes.
Termino este texto com a fantasia de que algum leitor sedentário se sensibilize e amanhã mesmo procure orientação profissional para iniciar um programa de exercícios. Infelizmente sei que muitos continuarão a adotar a política do “quanto menos movimento melhor”, resta-me, então, a possibilidade de talvez encontrar esses daqui a mais algum tempo, quando o exercício já não será mais uma opção e sim uma das intervenções para tratar alguma doença crônica já instalada.
Bons treinos!
Adriano Nogueira