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Usina flutuante de energia solar em São Paulo estimula projeto no Ceará
Economia

Usina flutuante de energia solar em São Paulo estimula projeto no Ceará

Exploração da energia solar em sistemas flutuantes na capital paulista estimulará projetos semelhantes no País
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REPRESA de Guarapiranga é um reservatório para o abastecimento de água em São Paulo (Foto: Vi Neves/Creative commons)
Foto: Vi Neves/Creative commons REPRESA de Guarapiranga é um reservatório para o abastecimento de água em São Paulo

As represas Guarapiranga e Billings, os mais importantes reservatórios de água do Estado de São Paulo, serão utilizadas para a construção de sistemas flutuantes de placas fotovoltaicas. A informação, obtida com exclusividade pelo O POVO, é de Sérgio Luiz Bresser G. Perreira, assessor executivo de Novos Negócios e Parcerias da Empresa Metropolitana de Água e Energia (Emae), sucessora da Eletropaulo. A concessionária, de propriedade da Pirapora Energia S.A., abriu na quarta-feira, dia 2 de outubro, uma chamada pública aos interessados em realizar testes de 90 dias nessas represas. Esses testes devem começar a ser realizados no próximo ano.

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Após o período de testes, a Emae estudará os dados. Mas Bresser explica que há projetos de se discutir uma engenharia financeira, possivelmente, criando uma Sociedade de Propósito Específico (SPE) inteiramente com o setor privado, para construir uma usina flutuante com potência inicial de até 6 MW. "Não queremos ficar só em 6 MW, a ideia é ampliar. É um negócio bastante rentável. O que imaginamos, inclusive, é fornecer energia solar para Metrô, CPTM e diversos órgãos públicos. Essa é a nossa intenção. E, é claro, é uma energia renovável", afirma Bresser. Esse nível de geração é ainda pequeno. Só a usina hidroelétrica Henry Borden, administrada pela Emae, gera hoje 120 MW, podendo chegar a 500 MW.

Projetos de geração de energia elétrica por meio de células fotovoltaicas não é nada novo. A grande inovação que tem ocorrido nesse setor é justamente células embarcadas em sistemas flutuantes, como os que foram inaugurados nos reservatórios das usinas de Balbina, no Amazonas, e de Sobradinho, na Bahia. Dos 500 GW de energia solar gerada em todo mundo, menos de 1% é proveniente desta tecnologia. "Os bons exemplos podem ser seguidos", diz Marcos Penido, secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo.

O presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Rodrigo Lopes Sauaia, avalia que a iniciativa de São Paulo pode ser um exemplo para outros Estados brasileiros. "É muito oportuno o estudo da energia solar junto a essas represas e reservatórios", explica Sauaia. De acordo com relatório de setembro da entidade, a energia solar no País tem um parque instalado de 2.253 MW, representando 1,3% da matriz energética brasileira. O Ceará ocupa o oitavo lugar no ranking brasileiro de geração de energia solar, com potência de 45 MW, 4% da energia solar total produzida no País.

Há muitos benefícios e desafios para a aplicação do sistema flutuante. Pelo fato de estar em contato com a água, esse sistema mantém uma temperatura média menor do que a placa colocada em terra, elevando a produtividade. Em estudos na França, o sistema flutuante obteve um ganho de eficiência de até 20% em relação às placas terrestres. Sauaia explica que essa produtividade, no entanto, é desconhecida no Brasil, devido ao nível de radiação solar incidente no País.

E este será um dos pontos importantes de estudos no período de 90 dias que serão realizados por empresas chamadas pela Emae, em São Paulo, que não investirá um único centavo no projeto. As empresas interessadas em realizar pesquisas terão até o dia 25 de outubro para entregar suas propostas e assinar os contratos com a concessionária, que acompanhará as pesquisas e terá acesso a todos os resultados.

"Estamos perto da descida da Serra do Mar. E tem muita neblina. A intensidade solar não é como no Nordeste do País ou como no Noroeste do Estado de São Paulo", explica Bresser, sobre a importância desse período de testes. Ele explica, no entanto, que muitas empresas, incluindo companhias chinesas, têm demonstrado interesse pelo potencial de geração de energia solar nesses reservatórios. "A primeira impressão deles é que é um lugar de sucesso", diz Bresser.

Outro benefício, explica o secretário Penido, é que o uso do sistema flutuante leva à redução de custos, uma vez que não é preciso pagar pelo terreno, no caso de implantação de células fixas na terra. E esses reservatórios são imensos. A Billings tem nada menos que 124,9 mil quilômetros quadrados, enquanto que a Guarapiranga, 29,2 mil. Sauaia, no entanto, pede mais calma nesse ponto. Enquanto que as placas de solo possuem um grande número de fabricantes, o que as barateou, os sistemas flutuantes ainda apresentam um custo mais alto de implantação. É preciso, por exemplo, de várias estruturas para manter o sistema flutuante ancorado na água, que ainda sofre influências do vento e da agitação das águas.

Mas o outro lado positivo é que a superfície desses sistemas flutuantes reduz a evaporação de água desses reservatórios em até 70%. "E a evaporação em reservatórios é um dos principais fatores de perda de água. O Brasil é um país de elevados índices de radiação solar, o que acelera a evaporação. E essa cobertura com sistema fotovoltaico flutuante reduz evaporação e ainda gera energia limpa sem emissões, com baixo impacto ambiental. Há um ganha-ganha", afirma Sauaia.

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