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Tarifas do transporte público puxam gastos com locomoção
Economia

Tarifas do transporte público puxam gastos com locomoção

| Dados IBGE | Com reajuste previsto para o próximo ano, Sindiônibus destaca que concorrência com aplicativos onera, mas autoatendimento alivia perdas. Táxis permanecem com tarifa inalterada pelo quarto ano
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Aumento nas passagens de ônibus deve ser anunciada no início de 2020.  (Foto: Fabio Lima)
Foto: Fabio Lima Aumento nas passagens de ônibus deve ser anunciada no início de 2020.

O peso no orçamento do morador da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) com gastos no transporte público e com combustível foi maior em setembro em comparação à média deste ano. De acordo com dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o grupo transportes representa 12,6% do total gasto por mês. Isso representa alta de 1,2 ponto percentual (p.p.) quando observados os últimos cinco anos. Hoje, essas despesas ficam atrás apenas de alimentação e habitação.

Na lista de reajustes previstos estão táxis, metrôs e ônibus intermunicipais e urbanos. A novidade é que o transporte por aplicativos ganhou espaço e fez com que as outras categorias fossem impactadas com esse crescimento, pautando o cálculo das tarifas.

Para o próximo ano, certo é que a tarifa dos ônibus de Fortaleza será reajustada. O que ainda não se sabe é para quanto, já que, de acordo com o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado (Sindiônibus), levantamento para pleitear junto à Prefeitura ainda está sendo realizado pela entidade. Isso deve acontecer até dezembro. Entre 2014 e 2019, o valor acumulado de altas nas tarifas foi de 63,6%.

Conforme o presidente do Sindiônibus, Dimas Barreira, as empresas levarão em consideração, no pedido de reajuste, prós, como a redução de gastos com pessoal devido ao autoatendimento e redução de custos, e contras, como a perda de passageiros para os aplicativos de transportes.

"Assim como todos os anos, temos intensificado na busca pela redução de despesas durante para evitar qualquer impacto maior na tarifa. Não é possível fazer um modelo de transporte urbano que se sustente somente de passageiros gratuitos e de longa distância, menos competitivo que o de curta", afirma.

Dimas Barreira explica ainda que o usuário de curtas distâncias, principal grupo atraído pelos aplicativos, são os mais superavitários no sistema de transporte urbano e que, com as perdas, as empresas enfrentam dificuldades.

(Foto: Deísa Garcêz/Especial para O Povo)

Testes de linhas de ônibus com trajeto menor e tarifa proporcional são realizados, mas, segundo o presidente do Sindiônibus, não são a solução para o momento, pois tornariam a operação insustentável para linhas com trajetos maiores. "O usuário de curta distância subsidia o usuário de longas distâncias, pois não cobraríamos R$ 9 ou R$ 10 de tarifa."

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Quanto aos táxis, o ano de 2020 deve ser o quarto seguido em que não ocorrerão reajustes no valor da bandeirada. Em 2016 aconteceu o último aumento. O presidente do Sindicato dos Taxistas do Ceará (Sinditaxi-CE), Francisco Moura, destaca que a categoria, além de observar o impacto da crise econômica pela qual o País se recupera, também vê o reflexo da concorrência dos aplicativos de transporte.

A escolha de não pleitear o reajuste, previsto para o dia 15 de janeiro de todos os anos, tem possibilidade de ser repetido mais uma vez. Uma assembleia geral com a categoria deve ser realizada em janeiro para uma decisão final sobre o assunto.

"Temos o direito ao reajuste caso queiramos, mas desde 2016 abrimos mão da data base. Por conta da crise que o sistema de táxi está enfrentando com essa invasão de empresas multinacionais que utilizam carros particulares", ressalta o presidente do Sinditáxi.

O economista Alex Araújo, avalia que esses aumentos não obedecem a inflação, já que são revisões compostas por uma planilha de gastos da operação. Ele estima que esses reajustes devem vir acima do índice inflacionário geral. "O consumidor não tem muito que fazer para reduzir o peso dessa despesa, pois a capacidade de modificar o uso é muito restrita."

"Em função da natureza do gasto e da necessidade que temos de locomoção para trabalhar, estudar, isso cria uma rigidez muito grande nas alternativas que o consumidor tem. Não à toa essas negociações passam pelo poder público, porque é um item de primeira necessidade na vida urbana", ressalta o economista.

Ainda no quesito transporte, o que inflacionou os gastos em setembro foi o valor dos combustíveis, principalmente a gasolina, aponta o IBGE. O peso mensal do item ficou acima da média acumulada do ano.

Estimativa

A Uber permite aos usuários do aplicativo realizar uma pesquisa de preços para estimar o valor que deve pagar pelo percurso. A empresa ainda explica como os preços são calculados. Veja no link uber.com/br/en/price-estimate/

 

Fundo para segurar reajustes

O Sindiônibus, junto a outras entidades patronais brasileiras, pleiteia no Congresso a aprovação de um fundo para o setor de transporte coletivo das cidades, que funcionaria para subsidiar a atuação de empresas de transporte urbano. Segundo Dimas Barreira, presidente do Sindiônibus, a iniciativa é possível, já que, investindo em transporte público, as cidades economizam em diversas outras pastas, como saúde e mobilidade urbana.

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