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O impacto da 'debandada' da equipe econômica para os rumos do Governo
Economia

O impacto da 'debandada' da equipe econômica para os rumos do Governo

Com a saída dos secretários especiais de desestatização e privatização, Salim Mattar, e o de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Paulo Uebel, já são dez as baixas no Ministério da Economia em um ano e meio.
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PRONUNCIAMENTO do presidente Jair Bolsonaro na área externa do Palácio da Alvorada (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil PRONUNCIAMENTO do presidente Jair Bolsonaro na área externa do Palácio da Alvorada

Com a saída dos secretários especiais de Desestatização e Privatização, Salim Mattar, e o de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Paulo Uebel, já são dez as baixas na equipe econômica do ministro Paulo Guedes em um ano e meio. E, embora o presidente Jair Bolsonaro, ontem, tenha voltado a defender privatizações e declarado que a responsabilidade fiscal e teto de gastos são o 'norte' da gestão, crescem as incertezas quanto à capacidade e a velocidade de tocar a agenda liberal prometida pelo Governo. O que, na avaliação de analistas, pode colocar em risco a recuperação da economia.

O Governo agora estuda uma reformulação na pasta, fundindo a secretaria especial do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) e a Secretaria de Desestatização, segundo informações publicadas ontem pelo blog de Lauro Jardim. A atual secretária do PPI, Martha Seillier, seria uma das mais cotadas para o cargo. Outro nome seria o da assessora especial do ministério, Daniella Marques, que acompanha Guedes desde quando ele ainda trabalhava no mercado financeiro.

Mas definir quem fica, não é o único entrave e o bloco dos insatisfeitos só tende a crescer. De acordo com jornal O Globo, os próximos a deixar o cargo seriam os secretários especiais Waldery Rodrigues (Fazenda) e Carlos da Costa (Produtividade, Emprego e Competitividade). Mas o Ministério da Economia negou a informação no fim da tarde.

O grande nó com a equipe econômica tem sido a disputa dentro do Governo pelo aumento dos gastos públicos. Rusgas que ficaram ainda mais evidentes pela subida de tom do próprio ministro Paulo Guedes ao comentar o que chamou de 'debandada da equipe econômica'.

Ele admitiu que a saída de Mattar e Uebel foi motivada pela insatisfação diante do ritmo da agenda de privatizações e da reforma administrativa. Esta última, por exemplo, já foi descartada pelo presidente Jair Bolsonaro para este ano, alegando não haver "timing político" para debater o tema.

Guedes, na ocasião, também alertou sobre a necessidade de cumprir o teto de gastos. "E os conselheiros do presidente que estão aconselhando a pular a cerca e furar teto vão levar o presidente para uma zona de incerteza, para uma zona sombria. Para uma zona de impeachment, para uma zona de irresponsabilidade fiscal, e o presidente sabe disso", disse.

Esta fala foi interpretada por muitos analistas do cenário político e econômico como um gesto para que Bolsonaro se posicione diante da disputa pelos rumos da agenda econômica.

O economista-chefe da Austin RatingAustin Rating Investimento, Alex Agostini, afirma que há um evidente esvaziamento da prometida pauta liberal. "É claro que a saída dos dois, que eram pessoas da confiança do ministro, não é vista com bons olhos porque a desestatização e a reforma administrativa são dois pontos extremamente importante para retomada do equilíbrio das contas públicas. Aos poucos o mercado percebe que a agenda liberal do Paulo Guedes está sendo esvaziada, o que é preocupante porque ele é o principal ponto de confiança do mercado no Governo".

Para ele, a saída de Salim Mattar e de Paulo Uebel não podem ser vistas de forma dissociada das outras baixas da equipe, como a do secretário do Tesouro Nacional, Mansueto de Almeida, embora, ele tenha alegado razões pessoais para deixar o cargo. "Há uma certa ausência de alinhamento entre o que foi proposto a eles para entrarem no Governo e os rumos econômicos que vêm sendo adotados ao longo do tempo".

O cientista político da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Sérgio Praça, observa um enfraquecimento de Paulo Guedes e uma maior aproximação do presidente com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, que vem defendendo uma ampliação dos gastos públicos.

Pondera, porém, que ainda que não houvesse a queda de braço dentre os membros do Governo, pautas como privatizações e reforma administrativa são muito complexas de serem feitas, ainda mais em um momento de crise e pandemia como o de agora. "E o Governo não tem base política para isso".

 

Quem já deixou o Ministério

Junho de 2019: Joaquim Levy, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Pediu demissão após várias críticas públicas feitas pelo presidente.

Setembro de 2019: Marcos Cintra, ex-secretário especial da Receita Federal. Foi demitido após defender a criação de um imposto sobre movimentações financeiras, nos moldes da antiga CPMF.

Fevereiro de 2020: Rogério Marinho, deixou o cargo de secretário especial de Previdência e Trabalho para se tornar ministro do Desenvolvimento Regional.

Março de 2020: Alexandre Manoel, pediu para sair do cargo de Secretário de Avaliação, Planejamento, Energia e Loteria (Secap) da Secretaria Especial de Fazenda do Ministério da Economia. Alegou razões pessoais

Junho de 2020: Mansueto Almeida, ex-secretário do Tesouro Nacional desde a gestão Temer. Alegou razões pessoais.

Junho de 2020: Marcos Troyjo, ex-secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia. Deixou o cargo porque foi indicado pelo Governo e depois chancelado por unanimidade pelo Conselho de Governadores para a presidência do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês).

Julho de 2020: Rubem Novaes, ex-presidente do Banco do Brasil. A decisão estava tomada desde maio, mas só foi ratificada em 24 de julho e deve ser efetivada este mês. Alegou razões pessoais.

Julho de 2020: Caio Megale, ex-diretor de Programas da Secretaria Especial de Fazenda. Pediu para sair alegando razões pessoais.

Agosto de 2020: Salim Mattar, ex-secretário de Desestatização, Desinvestimento e Mercados. Pediu para sair alegando que não há "vontade política" em avançar na agenda de privatizações.

Agosto de 2020: Paulo Uebel, ex-Desburocratização, Gestão e Governo Digital. Pediu para sair depois que a reforma administrativa foi barrada pelo presidente Jair Bolsonaro, que considerou não haver "timing político" para o envio do projeto ao Congresso.

Saiba mais

Após pedir demissão, o ex-secretário especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercado Salim Mattar, disse que deixa o cargo por sentir que o resultado do seu esforço versus o resultado alcançado nos 20 meses de governo foi negativo. Ele destacou que os processos de desinvestimentos e privatizações alcançaram R$ 150 bilhões no período, ante uma meta de R$ 1 trilhão colocada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, para os quatro anos de governo.

"Tive apoio total e irrestrito do ministro Paulo Guedes e do presidente Jair Bolsonaro. Mas tudo no governo é muito lento, há um arcabouço jurídico complexo montado para preservar o tamanho do Estado. Cerca de 15 instituições precisam dar parecer sobre as venda de empresas estatais, é uma via crucis", afirmou.

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