Logo O POVO+
Pandemia gerou fechamento de 349 mil vagas e aumento de 21% dos desalentados em 2020
Economia

Pandemia gerou fechamento de 349 mil vagas e aumento de 21% dos desalentados em 2020

Levantamento do IDT-CE com dados do IBGE detalha impacto da pandemia no mercado de trabalho formal e informal. Saldo final após contratações ainda foi de 549 mil desempregados, um recorde nos últimos oito anos
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Desempenho do mercado foi aquém da necessidade dos que buscam emprego no Ceará. Saldo negativo na maioria dos segmento, menos construção civil (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil Desempenho do mercado foi aquém da necessidade dos que buscam emprego no Ceará. Saldo negativo na maioria dos segmento, menos construção civil

O saldo da pandemia no mercado de trabalho cearense ao fim de 2020 foi de fechamento de 349 mil vagas de trabalho e aumento de 21% da quantidade de pessoas que vinham procurando oportunidades e deixaram de procurar emprego nos 30 dias anteriores à pesquisa, os chamados desalentados. Os dados foram compilados em estudo divulgado pelo Instituto de Desenvolvimento do Trabalho do Ceará (IDT-CE) e são de origem da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PnadC). A análise estima que, se as pessoas em idade ativa para o mercado de trabalho (a partir de 14 anos) fossem somadas aos desocupados, o índice de desemprego do Ceará passaria dos 17% ao fim do ano passado.

LEIA MAIS | Ceará fecha 2020 com 549 mil pessoas desempregadas e registra pior índice em oito anos

O quadro alarmante do mercado de trabalho se refere tanto aos formais quanto aos informais. Autor do levantamento e analista de Mercado de Trabalho do IDT-CE, Erle Mesquita, esclarece que a própria pandemia contribuiu com que a busca por emprego fosse diminuída, seja por medo de contrair a doença enquanto busca recolocação, seja pela liberação do auxílio emergencial e FGTS inativo e auxílio desemprego para os que foram dispensados no início da pandemia.

"O estudo mostra que a pandemia potencializou os problemas no mercado de trabalho cearense, pois a taxa de desemprego no Ceará sempre permaneceu muito alta desde 2016, acima de dois dígitos. É um drama especialmente para os trabalhadores que dependem de diária por conta da pandemia, que necessita realmente de medidas compensatórias", observa Erle. Vale ressaltar que seis em cada dez postos de trabalho fechados (216 mil dos 349 mil totais) durante a pandemia em 2020 foram de assalariados sem carteira de trabalho assinada.

O professor Eneas Arraes Neto, fundador do Laboratório de Estudos do Trabalho e Qualificação Profissional da Universidade Federal do Ceará (Labor-UFC), destaca que não podemos simplificar a análise e considerar que apenas o auxílio emergencial fez com que os trabalhadores ficassem em casa e não procurassem trabalho. Isso pode ter sido realidade de parte deles, como os idosos não aposentados e os que possuem alguma comorbidade. Mas, alerta que o quantitativo de pessoas fora da força de trabalho, ou seja, que não procuraram emprego nos últimos 12 meses, é alarmante.

"Esse benefício explica em parte, pois as pessoas em situação de maior risco de saúde se desestimularam a ir procurar trabalho. Mas, o sentimento de que a economia não anda, o aumento do desemprego na pandemia e o agravamento da pandemia, é o pior, pois isso gera um quadro de desânimo e angústia em relação ao trabalho", observa.

VEJA TAMBÉM | Combate ao desemprego deve ser prioridade para 41% da população

Os dados ainda revelam que o resultado setorial foi de saldo negativo entre todos os segmentos fora o da construção civil (abertura de 5 mil vagas). Comércio (-112 mil vagas), serviços domésticos (-63 mil vagas) e alojamento e alimentação (-50 mil) são os setores com os piores saldos.

Erle Mesquita ressalta que essa queda brusca fez com que a massa de rendimentos decresceu 12,4% devido à redução do nível ocupacional, mesmo com a alta do rendimento médio dos ocupados (+2,4%).

A reflexão que o analista do IDT faz é sobre o quadro de crise de longa duração no mercado de trabalho no Ceará, que ainda não se recuperou da última crise, em 2015, e que se mostra num quadro de alta rotatividade mensal, com muitos demitidos e muitos contratados, num ciclo que não abre espaço para expansão do emprego. Ele detalha que três dentre quatro contratações em 2020 tinham salário médio de R$ 1,4 mil e o perfil principal se refere a jovens de até 29 anos, restringindo aos mais velhos opções mais restritas no mercado formal, os lançando no trabalho autônomo ou informal.

Além deste, outro estudo deve completar a coletânea de levantamentos que vai analisar o impacto da pandemia no mercado de trabalho cearense. A próxima reflexão, segundo Erle, será explanado de maneira mais aprofundada, em abril, a participação das mulheres nesse cenário. Elas ficaram escanteadas nessa crise e muitas precisaram voltar ao cuidado do lar e dos filhos com o fechamento de oportunidades no mercado de trabalho relacionado aos serviços domésticos e o fechamento das escolas durante quase todo ano passado.

GLOSSÁRIO

Força de trabalho
A força de trabalho é quem participa de alguma forma, seja empregada ou procurando ocupação no Sine, indo nas empresas, buscando na internet.

Desalentados
Os desalentados são os que não procuraram nos últimos 30 dias, mas procuraram nos últimos 12 meses. Aquela pessoas que por algum motivo, seja por medidas de prevenção contra a pandemia, ou mesmo por não verem mais possibilidades de encontrar trabalho, passam um período sem buscar oportunidades.

Pessoas fora da força de trabalho
São as pessoas que, mesmo estando em idade ativa para o trabalho, não procuraram colocação no mercado nos últimos 12 meses. O caso mais comum se refere a estudantes e donas de casa ou quem não exerce a busca efetiva por trabalho.

PRIORIDADES

Levantamento da pesquisa Retratos da Sociedade Brasileira, divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) neste mês revela que o combate ao desemprego é considerado prioridade para a maioria dos entrevistados (41%).

O que você achou desse conteúdo?