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Número de óbitos por Covid-19 em UPAs aumentou seis vezes em março
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Número de óbitos por Covid-19 em UPAs aumentou seis vezes em março

| EVOLUÇÃO | Os registros de mortes diárias nas Unidades de Pronto Atendimento saíram de 96 para 633 entre fevereiro e março. Pacientes graves são mantidos nas unidades por falta de leitos de alta complexidade
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Em 2020, 525 cearenses morreram em casa em decorrência da Covid-19. Em três meses de 2021, já são 200 óbitos domiciliares. (Foto: FABIO LIMA)
Foto: FABIO LIMA Em 2020, 525 cearenses morreram em casa em decorrência da Covid-19. Em três meses de 2021, já são 200 óbitos domiciliares.

O aumento de óbitos por Covid-19 em unidades de saúde no Ceará apresentou aumento expressivo neste mês de março. O número de mortes em hospitais saiu de 757 para 2.108 entre fevereiro e março. Ou seja, quase triplicou. Os registros nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) são mais alarmantes, saindo de 96 para 633 no período. Isso indica que as mortes aumentaram mais de seis vezes. Com a falta de leitos de Unidades de Tratamento Intensivo (UTI), pacientes graves são mantidos nas unidades de menor complexidade, o que contribui para agravamento dos casos.

Nos caso das unidades hospitalares, o maior registro de mortes foi em 12 de maio do ano passado, com 121 óbitos. O número diário variou entre 60 e 80 até meados de novembro. As mortes por Covid-19 caíram no final do mês e seguiram abaixo de 20 até meados de fevereiro, quando começam a aumentar novamente. Nas UPAs, o número se mantém abaixo de 10 desde meados de junho de 2020. É possível perceber aumento a partir do final de fevereiro, dando um salto diário em março. Na primeira onda, o mês de maio teve o maior número de mortes nas unidades, com pico de 36 óbitos no dia 13.

Os dados são da plataforma IntegraSUS, da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), extraídos às 17 horas.

O indicador de óbitos tende a estabilizar e posteriormente cair após diminuição dos casos e das internações. Na análise da virologista e epidemiologista Caroline Gurgel, professora do Departamento de Saúde Comunitária da Universidade Federal do Ceará (Famed-UFC), deve reduzir de forma sustentada em maio.

O lockdown já tem se refletido no número de novos da doença. Contudo, o nível de isolamento não tem sido adequado. "Esse lockdown tem várias exceções com relação aos tipos de serviços prestados. Além disso, alguns locais proibidos estão funcionando à meia porta", justifica.

Mortes por COVID 19 em unidades de saude no Ceara
Mortes por COVID 19 em unidades de saude no Ceara (Foto: Mortes por COVID 19 em unidades de saude no Ceara)

A diminuição de casos também pode estar relacionada ao padrão dos vírus respiratórios, pela característica de sazonalidade do vírus em si. "A gente tem isso com os outros vírus. Fica mais ativo e depois 'some', como o influenza, que aumenta de janeiro a março. Sem você fazer nada, aparecem e desaparecem. A questão é diminuir a quantidade de infectados ao mesmo tempo", detalha.

O grande número de casos graves em UPAs é resultado da ocupação de leitos de Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs). "A UPA não é local de internação porque não tem suporte necessário como uma UTI. Como o nome diz, é de pronto atendimento. Onde se estabiliza e encaminha. Mas as unidades estão lotadas, os pacientes então estão ficando lá. Isso favorece a inflamação", explica.

Com isso, quando o paciente consegue leito, já está em quadro clínico com gravidade avançada. "(Na UPA) não tem um suporte avançado. É um suporte mínimo. Essa falta reflete diretamente na mortalidade. Não é uma falha do médico, do enfermeiro", destaca.

O relato de médica que atua no atendimento à Covid-19 em UPAs em Fortaleza corrobora a análise da epidemiologista. Os pacientes estão chegando mais graves, mais jovens chegando com a saturação menor. "Associado a isso, a gente não tá conseguindo ter uma rotatividade boa nos leitos. Os pacientes que chegam lá tecnicamente têm que ser transferidos. Muitas vezes, não tem vaga nos outros estabelecimentos e a gente não consegue tirar de lá", afirma.

"Acaba ficando pacientes muito graves em leitos não adequados, não são leitos de UTI, que era para onde esses pacientes deveriam ir", acrescenta.

 

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