A tensão com entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o Supremo Tribunal Federal, com ameaça de uma quebra da democracia, provocou uma onda de incertezas e fugas de capital estrangeiro do Brasil, observadas nos resultados da Bolsa de Valores e no câmbio de ontem, 9. Sem compromisso com a agenda econômica, analistas enxergam no Congresso uma via possível para conduzir uma pauta segura de reformas e que traga estabilidade aos investidores.
Para Ricardo Coimbra, presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), entre um golpe de estado e um impeachment, o mercado opta pela segunda opção - apesar de ambas as quebras serem consideradas drásticas à economia nacional.
"Para que a gente consiga uma mudança desse cenário, é preciso um fortalecimento maior do Congresso para pautar e debater medidas que revertam essa situação crítica. Da mesma forma que o Congresso forçou recursos para vacinação, agora, vai precisar trazer para si pautas que melhorem o cenário da economia", analisou, apontando a solução.
Ele observa que, tanto partidos de centro direita, como o PSDB, quanto empresários, já enxergam a necessidade de anular as atitudes do presidente para que o mercado siga estável e pautas como inflação, juros e reformas tributária e administrativa voltem ao protagonismo e tragam melhores perspectivas à economia.
Tal configuração ainda demonstra, segundo Coimbra, um desgaste do ministro Paulo Guedes (Economia), cujo papel desde a campanha de Bolsonaro foi chancelar os arroubos totalitários do presidente com o setor produtivo.
"O Brasil está febril e a temperatura terá de ser tirada todo dia. Bolsonaro, mais agressivo, mantém os poderes tensionados - e a reação de Lira, no sentido de manter aberta a porta para diálogo entre os Poderes, é positiva. Brasília parece à beira do precipício, mas tende a vir a percepção de que o jogo atual é de 'perde, perde', com efeitos para a economia. O 7 de setembro não foi o desfecho, mas o início de algo que será concluído na eleição do ano que vem", apontou Thomas Giuberti, sócio da Golden Investimentos, acrescentando que "à medida que o ambiente desanuviar, haverá um reequilíbrio", após a retração natural do interesse por ativos brasileiros no momento.
Julio Erse, sócio responsável por investimentos e gestão da Constância Investimentos, avaliou que "é muito difícil fazer um prognóstico". "Se não houver escalada, se a retórica se acomodar, se o calor todo diminuir, é possível uma recuperação dos ativos. A liquidez está alta, tudo dependerá dos desdobramentos, o que já é difícil de se antecipar entre os investidores locais, imagine então pelos estrangeiros".
Nas mesas de operação, a avaliação é que a postura belicosa do presidente aumenta a deterioração das expectativas econômicas para 2022, já marcadas por piora nas projeções de crescimento e inflação. Sem falar sobre a costura de um acordo para os precatórios, condição essencial para enquadrar o almejado reajuste do Bolsa Família no teto de gastos. (Com agências)
Falas
Ao declarar que "o principal compromisso está marcado para 3 de outubro de 2022", o presidente da Câmara Arthur Lira, adiantou que o impeachment está descartado. Ao mesmo tempo, falou que segue trabalhando "as pautas do Brasil".
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