Projeto de desenvolvimento da cadeia produtiva da cachaça pretende alçar a bebida, tipicamente brasileira, como um dos destilados mais comercializados do mundo. Estima-se que o Brasil possui hoje capacidade instalada de produção de 1,2 bilhão de litros anuais, porém, produz menos de 800 milhões de litros por ano, de acordo com dados do Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac).
O total de produtores de aguardente e cachaça registrados no Ministério da Agricultura (Mapa) chega a 1.131. No entanto, ao cruzar esses dados com as informações do Censo Agropecuário do IBGE de 2017, o que se revela é que o índice de informalidade do setor é altíssimo (89%).
Por isso, aumentar a profissionalização é um dos focos das Diretrizes Estratégicas da Cadeia Produtiva da Cachaça, que contou com a participação da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Ibrac e produtores, sendo ratificado pelo Mapa.
O documento também prevê a identificação de potencialidades e desafios para consolidação do mercado, propondo soluções em governança, exportação, fornecedores, tributação, linhas de crédito e incentivos, além de plano de comunicação e relacionamento com mercados, nacional e internacional, explorando a marca "Cachaça" brasileira.
O plano é colocar a cachaça como uma bebida destilada de gosto internacional, amplamente comercializada pelo mundo, assim como é a vodka e o uísque, e como se tornou a tequila nos últimos anos. O sucesso da bebida brasileira, porém, já é notável.
De acordo com os dados do provedor de pesquisa de mercado, a Euromonitor International, atualmente a cachaça brasileira é considerada o terceiro destilado produzido localmente mais consumido do mundo, perdendo apenas para a Vodka da Rússia e o Soju coreano.
O cenário do setor quanto às exportações, em 2020, revela que o público consumidor está espalhado por 70 países. As vendas internacionais geraram receita de US$ 9,52 milhões e 5,75 milhões de litros exportados. Os números representam decréscimo de 34,79% em valor e 23,95% em volume na comparação com 2019. Os principais destinos foram Estados Unidos, Alemanha, França, Paraguai e Itália.
"Durante a construção das diretrizes estratégicas da cadeia da cachaça, foi possível fazer ampla análise. O que se espera é trabalhar os pontos fortes e fracos, além de oportunidades, como trabalhar o mercado internacional, ações de proteção do produto no mercado externo, mitigar ameaças, transformando também nossos pontos fracos", analisa Carlos Lima, diretor executivo do Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac).
Ao O POVO, Carlos enfatiza que um dos desafios para o setor é a discussão de reforma tributária. O pleito é que a carga tributária não onere ainda mais o segmento, que atualmente é o mais tributado do Brasil. "O setor já está completamente sufocado, não há espaço para aumento de tributação", destaca ele, ainda lembrando que o setor foi amplamente impactado com o período de pandemia e fechamento dos bares e restaurantes.