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Potenciais para o mercado de trabalho
Economia

Potenciais para o mercado de trabalho

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Carlos Viana é jornalista de O POVO e deficiente visual (Foto: Diego Camelo/ Especial para O POVO)
Foto: Diego Camelo/ Especial para O POVO Carlos Viana é jornalista de O POVO e deficiente visual

Uma das medidas adotadas pelo Congresso Nacional durante a pandemia foram a aprovação de uma lei que proibia a demissão de pessoas com deficiência, mesmo daquelas que não eram contempladas pela lei de cotas.

Porém, não foi o que se viu. De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), cerca de 73 mil profissionais com alguma deficiência foram desligados de seus empregos em 2020.

No Ceará, conforme dados do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), mais de 2.100 vagas para pessoas com deficiência fecharam.

Não bastasse isso, a instituição afirma que as pessoas com deficiência empregadas no Estado ocupam apenas a metade das vagas disponíveis.

Uma das principais barreiras para que profissionais com deficiência ingressem no mercado de trabalho passam pelo desconhecimento, uma vez que muitos gestores acreditam que, para realizar a contratação, é necessário um alto investimento, o que não condiz com a verdade.

Por outro lado, existe o preconceito. Muitos gestores não acreditam no potencial das pessoas com deficiência. Há alguns anos fui procurado por uma empresária. Ela pedia ajuda para contratar profissionais com deficiência, pois estava sendo multada pela Justiça do Trabalho.

Perguntei a ela qual a vaga disponível e, em seguida, indiquei alguns colegas cegos. A vaga era para cuidar do estoque da empresa. A princípio, achei que a vaga poderia ser ocupada por um cego.

Mas a empresária não quis: "essa vaga não tem como ser ocupada por um cego, porque ele não vai conseguir usar um computador," argumentou. Interessante é que ela já me viu utilizando o equipamento.

Histórias como essas acontecem aos montes com pessoas com deficiência. Eu mesmo já fui barrado em empresas por ser cego. Em uma delas, um amigo disse ter presenciado uma reunião onde um dos diretores disse que não teria como me contratar, pois teriam "que dar comida" em minha boca.

Para que essa realidade mude, é necessário que os gestores entendam, de uma vez por todas que nós, pessoas com deficiência, somos profissionais tão ou mais capacitados que outros, sem deficiência.

Sonho com um dia onde as pessoas com deficiência possam ocupar cargos de gestão nas empresas; um dia onde uma empresa contrate um advogado, jornalista, nutricionista, diretor financeiro, daí por diante, que tenha alguma deficiência.

Sonho com um dia que sejamos vistos como homens e mulheres capacitados para o trabalho e não apenas como pessoas que existem apenas para ocupar cargos com baixas remunerações, apenas para cumprir a legislação.

Somos, antes de tudo, pessoas. E como tal, merecemos respeito.

 

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