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Cooperativas no Ceará superam média nacional em presença de mulheres
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Cooperativas no Ceará superam média nacional em presença de mulheres

O maior desafio é a presença feminina em cargos de liderança, que ainda é limitada, com apenas 24% dos dirigentes de cooperativas sendo mulheres
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ANA Paula Padrão foi a palestrante sobre liderança feminina no cooperativismo (Foto: Marcos Adegas/Sistema OCB-CE/Divulgação)
Foto: Marcos Adegas/Sistema OCB-CE/Divulgação ANA Paula Padrão foi a palestrante sobre liderança feminina no cooperativismo

A presença feminina no cooperativismo no Ceará é uma realidade em crescimento. Segundo dados do Anuário do Cooperativismo Brasileiro 2025 (ano-base 2024), as mulheres representam 59,5% dos cooperados no estado, superando a média nacional de 41%. Além disso, elas são maioria na força de trabalho das cooperativas cearenses, com 62% dos empregos.

Entre os setores com maior participação feminina estão o de trabalho, produção de bens e serviços (80% dos cooperados mulheres); saúde (43%); e crédito (45%). Mas ainda são grandes os desafios a serem superados. O maior deles é a presença em cargos de liderança, que ainda é limitada, com apenas 24% dos dirigentes de cooperativas sendo mulheres.

O tema foi tratado, ontem, em Fortaleza, no Encontro de Liderança Feminina no Cooperativismo do Ceará, realizado pelo Sistema OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras).

Paula Vasconcelos, superintendente administrativa da Unimed Fortaleza, informa que a porcentagem de mulheres ocupantes de cargos de média gestão, que correspondem a posições de gerentes, especificamente, na Unimed Fortaleza, é de 69%, chegando a quase 70%. Mas é exceção, não regra.

Esses números já são reflexo das iniciativas “Elas Pelo Coop Ceará” e “Liderança Jovem” que surgiram como resposta a uma detecção de que o sistema cooperativista brasileiro corria o risco de acabar e precisava de maior diversidade em suas lideranças.

Especificamente, explica Paula Vasconcelos, o que gerou esses movimentos foi a percepção de que o movimento cooperativista, embora crucial para a economia do país, era majoritariamente composto por pessoas 40 mais e, no quesito gênero, majoritariamente masculino. “Além de evitar o declínio, havia a necessidade de incluir diversidade de gênero dentro das lideranças”, diz.

Assim nasceu o movimento Elas Pelo Coop Ceará: criado para fomentar a capacitação de mulheres e incentivar a inclusão delas nos conselhos de administração e nas diretorias das cooperativas. Paula, no entanto, avalia que a adesão deveria ser maior. “Existem 144 cooperativas no estado do Ceará que estão cadastradas no sistema OCB. Mas apenas 36 fazem parte do movimento”, relata.

De acordo com Paula Vasconcelos, a baixa adesão reflete a resistência histórica e cultural à mudança, exigindo que a equidade se torne uma pauta de negócio explícita no planejamento estratégico. “Contudo, cooperativas mais maduras já demonstram resultados incontestáveis ao enxergar a diversidade como fator de sucesso”, destaca.

“Superar as barreiras requer que as mulheres ganhem mais espaço ‘com a caneta na mão’ e percebam sua aptidão, investindo em diálogo e letramento para o sistema”, avalia a executiva da Unimed.

Selene Caracas, coordenadora do Elas Pelo Coop Ceará e conselheira de administração do Sicredi Veredas, em uma avaliação sobre o papel feminino no cooperativismo, destaca que o setor tem muito a crescer. “A situação atual revela que, embora haja muitas mulheres na base, há uma presença muito limitada delas nas lideranças. Para que ocorram modificações efetivas no movimento, é crucial que as mulheres ocupem esses postos de comando”, diz.

Selene afirma que as barreiras enfrentadas não são de um ambiente hostil ou agressivo, mas sim de um meio que ainda não é totalmente propício às mulheres. A principal dificuldade reside em um problema cultural ensinado desde a infância. “Historicamente, as mulheres foram ensinadas a exercer o cuidado, e não a ser líderes”, comenta.

“Fomos socializadas para cuidar da casa e dos vulneráveis, o que limita nossa capacidade de dedicação plena. Não podemos esperar; é crucial reconhecer que essa sobrecarga, que não é um 'gene do cuidado', mas sim um fator social, impacta diretamente o dinamismo dos nossos negócios”, diz a jornalista Ana Paula Padrão, fundadora da Escola de Negócios Unna, uma das palestrantes do encontro.

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