A bola está entrando no gol. Pelé, que recebeu o passe perfeito de Jairzinho, já tem a certeza de mais um belo tento de cabeça na Copa do Mundo de 1970 e comemora com os dois braços erguidos, mas eis que surge um homem voando, como um super-herói de história em quadrinhos. Com o corpo e o braço esticados, o raio vestido de camisa azul de mangas longas surge no estádio Jalisco, em Guadalajara, México, e consegue empurrar a bola ao mesmo tempo para o lado e para cima, com dois tapas inacreditáveis desafiadores da física, ainda que ela tenha vindo com muita força, no lugar certo e quicado momentos antes. Ali, naquele momento, em 7 de junho de 1970, durante a dura vitória do Brasil por 1 a 0 sobre a Inglaterra, Gordon Banks se tornaria o protagonista da mais espetacular defesa da história do futebol.
Ontem, aos 81 anos, o inglês deixou o futebol, após luta contra o câncer. "Da família de Gordon Banks: é com grande tristeza que anunciamos que Gordon morreu tranquilamente durante a noite. Estamos devastados por perdê-lo, mas temos muitas memórias felizes e não poderíamos estar mais orgulhosos dele", diz comunicado publicado pelo Stoke City, clube que ele atuou, nas redes sociais.
Campeão do mundo em 1966 com a Inglaterra, Banks atuou 73 pela seleção. Ao todo, ele foi eleito seis vezes o goleiro do ano pela Fifa, acumulando ainda passagens por Chesterfield - onde começou a carreira aos 19 anos - e Leicester City. Curiosamente, nunca jogou por um gigante do futebol inglês.
Apesar de bonitas manifestações de diversos clubes, entidades e esportistas, foi justamente Pelé quem teve o poder de homenagear Banks com maestria, tal qual no lance em que os dois protagonizaram. "Para muitas pessoas, a memória de Gordon Banks é definida pela defesa que fez contra mim em 1970. Entendo o motivo. Esse homem, Banks, apareceu no meu caminho, como uma espécie de fantasma azul. Ele veio do nada e fez algo que eu achava não era possível. Ele defendeu minha cabeçada. Eu não pude acreditar no que vi. Eu marquei tantos gols na minha vida, mas muitas pessoas, quando me conhecem, sempre me perguntam sobre isso. Embora fosse realmente fenomenal, minha memória de Gordon não é definida por isso, é definida por sua amizade. Ele era um homem gentil e caloroso que dava muito para as pessoas", escreveu o brasileiro em trechos de carta publicada nas redes sociais.
Nascido em Sheffield, Inglaterra, Banks não está mais entre nós. Seu legado, porém, seguirá atravessando gerações.