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Ceará e Fortaleza buscam consolidação no mercado de e-Sports
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Ceará e Fortaleza buscam consolidação no mercado de e-Sports

Referências na elite do futebol, agremiações encerraram 2020 com equipes em diversas modalidades, como Fifa, Pro Evolution Soccer e League of Legends (LoL). Indústria de games competitivos movimenta bilhões
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Grafite no mapa Mirage de 
Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO)
 (Foto: Reprodução/Valve)
Foto: Reprodução/Valve Grafite no mapa Mirage de Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO)

Ceará e Fortaleza tentam formar equipes fortes, capazes de despertar uma torcida apaixonada e gerar resultados dentro de um contexto milionário. A frase podia ser sobre o futebol, no qual ambos disputam a elite nacional. Mas trata-se dos esportes eletrônicos — ou e-Sports —, a ampla gama de modalidades de games competitivos que conquistaram fãs no mundo todo e nos quais as agremiações cearenses vêm gradualmente investindo desde o ano passado. Segundo estudo da Newzoo, especialista no segmento, a fatia de mercado ultrapassa a marca de US$ 1 bilhão por ano desde 2019.

26 de fevereiro de 2021, Imagem reprodução PES 2021 do jogo entre ceara x fortaleza. (Foto Reprodução)
Foto: Reprodução
26 de fevereiro de 2021, Imagem reprodução PES 2021 do jogo entre ceara x fortaleza. (Foto Reprodução)

O boom internacional dos e-Sports vem do início dos anos 2010. Desde então, os investimentos têm aumentado, assim como os lucros obtidos pelas grandes organizações. Querendo aproveitar esse momento, clubes brasileiros de futebol ingressam anualmente nas modalidades e alguns já tiveram sucessos. O exemplo mais didático é o do Flamengo eSports, departamento especializado do atual bicampeão brasileiro de futebol masculino. No game League of Legends (LoL) — modalidade competitiva que movimenta mais dinheiro na atualidade —, o Rubro-Negro foi campeão do segundo split (etapa) do Campeonato Brasileiro de LoL (CBLoL) de 2019, representando o Brasil para o Mundial da categoria. 

Coluna - Flamengo vai do céu ao inferno no LoL e Free Fire
Foto:
Coluna - Flamengo vai do céu ao inferno no LoL e Free Fire

A dupla cearense teve em 2020 seus respectivos primeiros ano completo no projeto dos e-Sports. Ambos entraram no básico, que foi o futebol digital por meio dos games Fifa e Pro Evolution Soccer (PES). Na sequência, sempre com cautela e estudos de mercado, aderiram a outras modalidades. Hoje, o Fortaleza abriga cinco segmentos (Fifa, PES, LoL, Free Fire e Counter-Strike: Global Offensive), enquanto o Ceará tem seis (Fifa, PES, LoL, Fortnite, Clash Royale e Call of Duty Mobile).

 

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Apesar do crescimento gradual, os investimentos não são grandiosos dentro dos orçamentos dos rivais. O Fortaleza viabiliza o projeto por meio de parcerias e patrocínios para ajudar nos gastos. O clube entra com o dinheiro "complementar", segundo explica o atual diretor de futebol do Leão, Alex Santiago, que até o mês passado atuava como gestor de e-Sports da agremiação.

"O Fortaleza e-Sports ainda não tem uma base de investimento uniforme. Investimos mensalmente, a depender da complementação dos compromissos que já temos que excedem os valores que recebemos a partir de patrocinadores, inscrições dos atletas para disputas promovidas pelo clube... É um valor oscilante. Não é algo considerado muito grandioso dentro do orçamento da instituição", aponta Alex.

26 de fevereiro de 2021, Imagem reprodução PES 2021 do jogo entre ceara x fortaleza. (Foto Reprodução)
Foto: Reprodução
26 de fevereiro de 2021, Imagem reprodução PES 2021 do jogo entre ceara x fortaleza. (Foto Reprodução)

Coordenador de e-Sports do Ceará, Tiago Morais, traça paralelo para a situação do Alvinegro. O gestor enfatiza o potencial social e comercial do investimento no segmento.

"É um investimento com potencial de retorno sem igual atualmente. Em 2020, o mercado de e-Sports gerou mais de R$ 5 bilhões no mundo. É uma área essencial para trazer à cultura do clube e criar novos torcedores que diariamente estão consumindo este tipo de entretenimento, seja jogando ou acompanhando streamers e influenciadores nas redes (sociais). O desenvolvimento do setor é essencial não apenas para o futuro, mas para o presente da instituição", declara.

 

Primeiros resultados dos e-Sports nos clubes cearenses

 

Neste primeiro momento, Ceará e Fortaleza não têm lucros diretos com o investimento em e-Sports. Contudo, as possibilidades comerciais que o segmento abre são amplos, desde a prospecção de novos patrocinadores a partir da exposição da marca para outras vertentes até o alcance de um público novo. Tiago Morais, do Ceará, cita o exemplo do ídolo brasileiro no Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO) Gabriel "FalleN" Toledo, que sempre atuou em times brasileiros, mas se transferiu recentemente para uma equipe americana.

Algumas das gírias utilizadas no Free Fire se tornam mais complicadas para jogadores de primeira viagem
Foto: Divulgação/Garena
Algumas das gírias utilizadas no Free Fire se tornam mais complicadas para jogadores de primeira viagem

"Nos esportes eletrônicos, existem muitos fãs de jogadores e de influenciadores específicos. Nesse sentido, tem algumas diferenças do próprio futebol. Um exemplo é que bastou o brasileiro FalleN, do CS:GO, ir jogar na Team Liquid que imediatamente a organização norte-americana ganhou um público enorme de pessoas interessadas em consumir seus produtos. Então, o esporte eletrônico traz essa variável interessante", conta.

Num primeiro instante, portanto, Ceará e Fortaleza focam na geração de interesse por parte dos torcedores dos clubes e também na aproximação de pessoas que não têm o futebol como interesse primário. O marketing, a publicidade, exposição da marca em campeonatos e em redes de influenciadores, além do dinheiro de premiações, são algumas possibilidade de geração de renda para quem aposta neste mercado. Alex Santiago, do Fortaleza, enfatiza a importância disso para as equipes e explica que o investimento tem de vir "de maneira natural e escalonada".

"É muito importante investir, mas esse investimento vai vir de maneira natural, escalonada. Nós temos consultores especializados na área para especializar nós da diretoria do clube e temos certeza que o plano de sustentação da pasta de esportes eletrônicos aponta para um crescimento gradual, ano a ano, de maiores investimentos gerados por essa pasta", falou o gestor do Tricolor do Pici.

No fim das contas, as entradas de Ceará e Fortaleza nos e-Sports indica um olhar mais atentos dos times em mercados que possam ajudar na expansão das próprias marcas. Assim como nos esportes olímpicos, os eletrônicos têm um nicho atual e a geração de receitas não é o único mote da iniciativa. "A possibilidade de lucro é real, mas vai muito além disso", resume Tiago.

 

O desafio do crescimento com responsabilidade

 

Ainda em estágio inicial na comparação com outros clubes brasileiros, Ceará e Fortaleza têm bom dimensionamento de onde estão e onde querem chegar dentro do cenário dos esportes eletrônicos. Para isso, contudo, as equipes precisam trabalhar com responsabilidade para que o crescimento seja linear até chegar no ápice de cada time, que seria o reconhecimento internacional.

O coordenador dos e-Sports do Ceará, Tiago Morais faz uma breve análise do primeiro ano do Alvinegro na categoria e explica que essa expansão precisa seguir uma linha já traçada pelo clube.

"Estamos em nosso primeiro ano de trabalho, já são seis modalidades, bons resultados obtidos, redes de e-Sports crescendo e queremos, sim, crescer mais. Precisa seguir como tem sido até aqui. Com estudo, foco, planejamento e entendimento de que o Ceará precisa ser protagonista." Tiago Morais, coordenador dos e-Sports do Ceará

"Estamos em nosso primeiro ano de trabalho, já são seis modalidades, bons resultados obtidos, redes de e-Sports crescendo e queremos, sim, crescer mais. Porém, o crescimento não deve ser apressado. Precisa seguir como tem sido até aqui. Com estudo, foco, planejamento e entendimento de que o Ceará precisa ser protagonista. O departamento de e-Sports do Ceará não se impõe limites, mas responsabilidades com a marca do clube. Toda modalidade que tiver público e possibilidades de realização de um bom trabalho nos interessa", declara.

"A ideia do Fortaleza pro e-Sports para 2021 é continuar o avanço nessa consolidação muito importante que já começou em 2020. Passa por uma ampliação na nossa base de seguidores de um perfil específico dos esportes eletrônicos." Alex Santiago, diretor de Futebol do Clube

No Fortaleza, o sucesso conquistado, com títulos a níveis estaduais e até regionais em algumas modalidades, é exaltado internamente. Mas também lá no servidores do Pici, o crescimento precisa atender a metas e trilhar um longo caminho. Diretor de futebol do clube, Alex Santiago aposta na consolidação como rumo fundamental para este 2021, além de citar um objetivo conquistado que o clube carrega com orgulho.

"A ideia do Fortaleza pro e-Sports para 2021 é continuar o avanço nessa consolidação muito importante que já começou em 2020. Passa por uma ampliação na nossa base de seguidores de um perfil específico dos esportes eletrônicos. Começamos ano passado, com pouca repercussão, mas com a organização e resultados alcançados, já estamos passando a marca de 11 mil seguidores. Marca muito importante e creio eu ser o primeiro projeto de e-Sports do Estado a alcançar essa marca", celebra.

 

Reconhecimento e mercado internacional: a ambição dos cearenses

 

O ideal de se tornar um clube vencedor e se consolidar no novo ambiente dos esportes eletrônicos é traçada desde já no planejamento de Ceará e Fortaleza. As duas agremiações, inclusive, compartilham de um mesmo objetivo, que é chegar num patamar de reconhecimento em diversos níveis de competição.

O gestor Alex Santiago, do Fortaleza, revela que apesar da meta ambiciosa de longo prazo, há um caminho anterior a ser seguido, que começa com objetivos menores e mais próximos de serem atingidos.

Mesmo com mudanças interessantes, FIFA 21 parece mais do mesmo.
Foto: Divulgação
Mesmo com mudanças interessantes, FIFA 21 parece mais do mesmo.

"A nossa meta a curto prazo é ter representação qualificada em cada uma dessas modalidades importantes, que captem engajamento e atenção da torcida. E a longo prazo é que essas representações sejam campeãs em todas as disputas envolvidas. Porque o nosso grande ideal é que o Fortaleza esteja muito bem representado em todas as competições que entrar. Em níveis regional, estadual e também nacional", resume.

Pelo Ceará, o objetivo a longo prazo é parecido. Contudo, Tiago Morais, o coordenador de e-Sports do Alvinegro, aponta que a ambição do Vovô ultrapassa barreiras internacionais.

"Os objetivos para o departamento de esportes eletrônicos do Ceará são bem claros. Temos uma marca que move a paixão de milhares de pessoas e um cenário que ainda é novo e que cresce exponencialmente, trazendo inúmeras possibilidades. Com profissionalismo, seriedade, organização e responsabilidade, os objetivos de curto prazo vão sendo cumpridos, que é o de ser protagonista nos cenários em que ingressamos, criar novas propriedades comerciais, rentabilizar o esporte eletrônico para que seja mais um ativo do clube e tornar o Ceará referência nos e-Sports do País. Já no longo prazo, (o objetivo) é tornar o Vozão referência internacional e cada vez mais conhecido pelo mundo", revela.

 

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