Logo O POVO+
Vício? Saiba como identificar uso excessivo de video games por adolescentes
ETC

Vício? Saiba como identificar uso excessivo de video games por adolescentes

| Saúde mental | Transtorno de Jogo pela Internet atinge 28% dos adolescentes no Brasil, mostra pesquisa realizada pelo Instituto de Psicologia da USP
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Controles dos videogames Xbox One e Playstation 4 (PS4). Imagem de apoio ilustrativo (Foto: Marko Deichmann / Pixabay)
Foto: Marko Deichmann / Pixabay Controles dos videogames Xbox One e Playstation 4 (PS4). Imagem de apoio ilustrativo

Um a cada quatro adolescentes apresenta relação excessiva com videogames e jogos eletrônicos. É a conclusão de pesquisa realizada pelo Instituto de Psicologia (IP) da Universidade de São Paulo (USP), depois de entrevistar mais de 7,5 mil estudantes — a maioria entre 12 e 14 anos. Destes, 85% é adepto dos games, com 28% dos entrevistados atingindo o patamar do Transtorno de Jogo pela Internet (TJI), recentemente classificado como doença pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

A psicóloga Luiza Chagas Brandão, doutora em Psicologia Clínica pelo IP e autora do estudo, explica que embora o costume de jogar videogame no País, em geral, seja parecido com a média mundial, o uso problemático é mais alto no Brasil em comparação aos outros países, onde essa média oscila entre 1,3% a 19,9%. Ela supõe que isso se justifica pela dificuldade de os brasileiros se envolverem com outras atividades por conta da falta de acesso a serviços de lazer e esportes públicos e pelos altos índices de violência que afetam os encontros presenciais.

De acordo com os especialistas, tanto o manual psiquiátrico da Associação Americana de Psiquiatria como a OMS categorizam o transtorno de jogos pela internet como transtorno psiquiátrico, mas não estabelecem parâmetros absolutos para a constatação do problema. Ou seja, a identificação do uso excessivo não passa apenas por critérios objetivos, mas subjetivos também.

"Não há um limite de horas em que a gente pode pensar que não há risco, porque existem fatores etiológicos (causas de doenças) que podem ter influência", diz o psicólogo clínico Igor Lins Lemos, especialista em dependências tecnológicas da Universidade de Pernambuco (UPE).

"É necessário observar se a família do garoto tem disfunções a nível comportamental, problemas de relacionamento familiar, brigas, agressões, superproteção, abandono, violência doméstica. Se há alguma base genética de transtorno psiquiátrico, tudo isso deve estar em pauta antes de se pensar, por exemplo, que cada faixa etária tenha um uso delimitado. Quanto mais vulnerabilidade, menor deve ser o uso", afirma Lemos. 

Sinais do uso excessivo de videogames

Perda de interesse - Um dos sinais mais evidentes é a perda de interesse e empolgação por atividades para ficar mais tempo no celular. Isso inclui desde a prática de esportes e hobbies, até momentos em família

Perda de rendimento - É importante observar se há perda e queda no rendimento sobre algo que é realizado cotidianamente, como trabalhos escolares, lição de casa, atividades esportivas ou artísticas

Irritabilidade - Demonstração de frustração, irritabilidade e tristeza por parte da criança e do adolescente quando precisa interromper o jogo e se afastem dos aparelhos eletrônicos

Cansaço ao acordar - É comum os adolescentes usarem a madrugada para jogar, os que faz os especialistas entenderem que uma demonstração constante de cansaço ao acordar pode indicar que o jovem tem substituído horas de sono e descanso pelos videogames

O que fazer para hábito não se tornar excessivo

0 a 3 anos: Longe das telas - Em função dos distúrbios que isso pode causar no desenvolvimento do pequeno, é recomendado que crianças menores não joguem em celulares ou videogames

4 a 6 anos: Uso supervisionado - Igor Lins entende que, a partir dos 4 anos, uma hora de uso de videogames não é contraindicado, desde que seja supervisionado. 

6 a 10 anos:  Maior liberdade - Uma hora por dia ainda é o indicado, mas sem necessidade de supervisão constante 

11 a 14 anos: Até duas horas por dia - Uma hora a mais por dia já é aceitável 

14 anos em diante: Três horas por dia - Apesar da necessidade de monitoramento e controle do conteúdo, nesta fase a necessidade de liberdade e confiança aumenta

Fonte: Psicólogo clínico Igor Lins Lemos, especialista em dependências tecnológicas da Universidade de Pernambuco (UPE)

Controle parental e acordos entre pais e filhos

Outra medida prática é usar aplicativos de controle parental e de bloqueio por tempo, como o family link. As ferramentas ajudam a impedir o jogar excessivo, mesmo quando os pais não estejam monitorando in loco. Os pais podem também combinar com os filhos de ter acesso ao aparelho celular sempre que necessário.

Apesar da fiscalização, especialistas ressaltam que é importante evitar abordagens que sejam violentas, totalitárias, e pautadas em discussões acaloradas. "Devemos lembrar que um dos motivos que levam esses jovens para os jogos no celular, como indicou a pesquisa, é para aliviar problemas da vida real. Quanto mais a vida familiar for aversiva, há uma tendência de que esses jovens vão para o jogo", alerta Luiza Chagas, psicóloga autora do estudo.

Buscar ter uma vida familiar harmoniosa, e que apresente aos adolescentes outras possibilidades de atividades e interesses, também contribui para manter o hábito do jogo saudável, e não excessivo. E, caso os pais considerem que as estratégias não estejam funcionando, é importante considerar também ajuda profissional e especializada.

"Os amigos com quem (os adolescentes) jogam tendem a jogar muito também, então eles ficam sem parâmetro, por isso, se há percepção de um quadro mais grave, a ajuda de um profissional de saúde mental torna-se necessária.", diz a psicóloga.

 

O que você achou desse conteúdo?