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'Rede de Observatórios' lança relatório e debate representação racial
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'Rede de Observatórios' lança relatório e debate representação racial

Iniciativa compilou mais de 12 mil eventos relacionados à segurança pública, mas identificou apenas 50 casos de racismo e injúria racial
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Após computar mais de 12 mil eventos na área de segurança pública, entre junho de 2019 e maio de 2020, a Rede de Observatórios da Segurança fez uma constatação: a temática racial está ausente do debate, apesar da centralidade da questão para entender violência e criminalidade no País. Detalhes desse apontamento estão no relatório “Racismo, Motor da Violência” lançado nesta terça-feira, 14, às 18 horas, em live no Youtube (@CESeCSeguranca), com debate sobre o tema.

O trabalho da rede, projeto do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), em parceria com organizações acadêmicas e de ativismo, levantou 50 episódios de racismo e injúria racial. A questão se incide, particularmente, no Ceará, em que apenas três desses casos foram registrados. Outro gargalo da questão racial é a ausência da descrição de cor em representações da imprensa e informações oficiais. “Quando analisamos detidamente os 7.000 registros do banco de dados (na categoria) de policiamento, baseados nos relatos da imprensa, mídias sociais e outros meios, verificamos que a expressão ‘jovem negro’ aparece só uma vez. As expressões racismo, raça e racial não foram citadas nem uma única vez. É como se essa realidade não existisse”, diz trecho do relatório.

O relatório destaca o paradoxo entre homens jovens negros serem as maiores vítimas da violência e “um impressionante silêncio sobre o tema racial tem prevalecido na mídia e no debate público”. Para Dudu Ribeiro, coordenador do Observatório da Segurança na Bahia, um dos desafios do trabalho foi, justamente, observar o que não é dito nas reportagens. Ele afirma que, para entender, a relação entre racismo e segurança é preciso remontar as estruturas criadas na escravidão. Outro componente importante para entender a problemática é a “guerra às drogas”, que é “muito mais (voltada

) a determinadas pessoas e territórios, que são vitimizados pela violência e encarceramento em massa”. Ele diz que o objetivo da rede não é substituir os dados oficiais, mas “qualificá-los”.

Além da questão racial, a Rede levantou dados em outras 15 categorias, como violência contra a mulher, contra jovens e contra agentes de segurança. Os ataques orquestrados por uma facção em setembro de 2019, por exemplo, fizeram do Ceará o estado recordista no período na categoria ataques de grupos criminosos: responde por 117 das 164 ações registradas.

Para César Barreira, coordenador do observatório do Ceará, além da questão racial, outros dados que chamam a atenção no Ceará são os números de feminicídios e de violência contra crianças e adolescentes. A rede identificou 151 eventos de violência contra a mulher, incluindo 58 feminicídios. Barreira, que também coordena o Laboratório de Estudos da Violência (LEV), da Universidade Federal do Ceará, aponta a prevalência de uma cultura “machista” e “patriarcal” como fomentadora da violência de gênero. Ele ainda observa que, mesmo no contexto de conflito entre facções, a questão de gênero se vê presente, com os crimes ganhando requintes de crueldade, como torturas antes da execução.

Já a violência contra crianças e adolescentes foi registrada em 111 casos. Barreira cita que Fortaleza sempre foi uma cidade com índices elevados de homicídios de crianças e adolescentes, mas que é preciso não recorrer a explicações tautológicas, que justificam os altos índices atuais porque "sempre foi assim". “É importante que a gente rompa esse ciclo vicioso para tentar entender mesmo”

Além do Ceará, a Rede de Observatórios está em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. Os levantamentos são feitos a partir de veículos de imprensa, contas oficiais nas redes sociais de polícias, secretarias e de outras organizações da sociedade civil, grupos de Whatsapp e bots que recolhe informações do Twitter.

Serviço

Para conferir o relatório na íntegra, acesse o site: www.observatorioseguranca.com.br

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