LIMITES Não há dúvida de que o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) foi jogado à cova dos leões por uma união conjuntural entre partidos do centrão e da esquerda em torno do mesmo objetivo: estabelecer limites além dos quais o episódio se enquadra. Foi um ataque, mas também uma defesa. E menos uma demonstração de força de Jair Bolsonaro (sem partido) do que de sua absoluta dependência de siglas como PP e outras situadas nesse gelatinoso campo político onde reina o presidente da Câmara, Arthur Lira (AL). A prisão do pesselista foi mantida por uma combinação de fatores, que dizem respeito ao jogo dentro do Legislativo e fora dele. O primeiro foi naturalmente a pressão do Judiciário, com o qual Lira não pretende se indispor tão cedo, ele mesmo alvo de inquéritos no Supremo, assim como outras figuras de seu entorno. Há mais elementos, porém, como a gravidade em si do bestiário despejado por Silveira contra ministros do STF, num comportamento delituoso e reiterado. O excesso e a repetição das ameaças produziram o raro consenso de que o caso merecia tratamento exemplar. Lira, malandramente, o fez passar como "uma excepcionalidade" ou "ponto fora da curva", nas suas palavras. Era um recado muito claro, e o placar superlativo o enfatiza, aos próprios deputados, mas também a Bolsonaro, de que essa guerra interinstitucional, que tem demarcado os dois anos de governo, não será uma prioridade da gestão do parlamentar do PP. Entre o bolsonarismo hidrófobo e as benesses do poder, o centrão não pensará duas vezes antes de atirar o próximo valentão à fogueira - ou ao impeachment, como já mostrou que sabe fazer.