Quando o primeiro caso foi confirmado, no que agora parece o longínquo 26 de fevereiro de 2020, o País já tinha informações da onda do novo coronavírus se alastrando por várias nações. Já ali, muito pouco se fez em nível nacional que pudesse conter o que viria a seguir. Pelo contrário, a tragédia anunciada era tratada como "gripezinha", coisa de menor monta, que não cabia plano, antecedência, esforço para reprimir.
Dias depois, os estados, por conta própria, a que se lembrar, iniciaram seus lockdowns. Recordo-me de ter a nítida ideia de que o isolamento seria de um, talvez dois meses. Esperar que a Covid-19 perduraria até o Natal, o Ano Novo, cancelaria o Carnaval, era, naquele ponto, impensável. E ainda mais sem cabimento era cogitar que chegaríamos nesse fatídico aniversário, um ano depois, em situação ainda tão alarmante. E aqui estamos.
As mortes, tratadas como certas, já superam a marca de 250 mil. Vidas perdidas em um número que segue sendo crescente, batendo recordes dia após dia - na última quinta-feira, 25, foram registradas 1.582 mortes pelo vírus, a maior marca desde o início da pandemia. Os casos já se aproximam de 11 milhões e não há perspectiva remota de parar. A ocupação de leitos de UTI, conforme relatório da Fiocruz, nunca esteve em estado mais crítico que agora. A segunda onda, do que se alardeava pelo Governo Federal como uma "marolinha", se desenha ainda maior que a primeira, com novas variantes mais virulentas. O mundo padece da carência de oxigênio medicinal e no Brasil abunda desgoverno: faltam cilindros, sobram aplicativos recomendando tratamento ineficaz; falta vacina nos rincões de um País continental, sobra aglomerações engendradas por quem deveria dar exemplo.
Claro que também avançamos. Em um ano, o que veio de progresso só surgiu pela Ciência. Os testes, o isolamento social e as máscaras, que se mostraram as únicas armas possíveis dessa batalha, no começo; o capacete Elmo; o rechaçamento de remédios vendidos como milagre e que se provaram inúteis; as vacinas... tudo só foi possível pela Ciência.
Um ano depois, reuno migalhas de esperança no conhecimento, na sensatez de quem, nos comandos estaduais e municipais, ainda persiste em buscar saídas, e na fibra dos profissionais de saúde. É o que nos resta. Mas, muito diferente de um ano atrás, não vejo chegar o 26 de fevereiro de 2022 livre da caótica certeza de que ainda estaremos longe de vencer a pandemia.
Assista ao vídeo "Atravessar a Pandemia":
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