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A política da morte na condução da pandemia
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Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.

A política da morte na condução da pandemia

Tipo Análise
Marcelo Queiroga, ministro da Saúde (Foto: AFP)
Foto: AFP Marcelo Queiroga, ministro da Saúde

Aos números: 15 mil mortos por Covid-19 na última semana - 35 mil apenas em março. Ao todo, 290 mil vítimas da pandemia. Média móvel de óbitos num crescendo há quase 20 dias. Parte considerável dessas mortes era evitável caso não houvesse uma política deliberada de disseminação da doença, levada a cabo pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) desde março do ano passado. Se é genocídio, se o conceito se aplica, eu não sei. O que sei é que o Governo, e o presidente pessoalmente, se empenharam na ampliação do contágio e na circulação do vírus. Digo isso com base em três pontos: 1) a defesa inconsequente da imunidade de rebanho, tese postulada por Bolsonaro que acabou não apenas por não se comprovar, mas por resultar em novas cepas (vide Manaus); 2) lentidão ou mesmo proposital retardamento na efetivação de ações, tais como compra de vacina para imunização em massa e de insumos para hospitais; 3) e, finalmente, uma sistemática campanha cujo objetivo era (e é ainda) desacreditar e sabotar medidas colocadas em prática por governadores e prefeitos.

Não se pode alegar, portanto, que Bolsonaro não sabia, tampouco que agia em desacordo por burrice ou insanidade. É exatamente o contrário. Tudo se deu dentro de uma estrita política a favor da morte, traçada no Planalto, vocalizada pelo chefe do Executivo, ministros e entorno palaciano, entre os quais filhos e apoiadores. O que se segue é essa tragédia que vemos hoje: agravamento do cenário em todos os estados, colapso da rede hospitalar, insuficiência de recursos mesmo para entubar pacientes, que são atendidos no chão em alguns casos; atraso na chegada de vacinas e, por consequência, implementação de respostas como a restrição de fluxo, necessárias no enfrentamento da doença, mas com grande impacto econômico. Acrescente-se a esse descalabro as trocas sucessivas de ministro da Saúde (o quarto desde o início da crise), e tem-se um filme de horror. Se Bolsonaro é genocida? Mais uma vez: eu não sei. Mas não tenho dúvida de que o presidente agiu e age, por métodos e palavras, para fazer do Brasil o cemitério que é hoje.

 

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