Logo O POVO+
"Cearense quando se propõe a fazer, faz bem feito"
Farol

"Cearense quando se propõe a fazer, faz bem feito"

Humorista e ator, Victor Alen é o responsável pela estreia da segunda temporada do UP Gamer+, no O POVO Mais. Uma das estrelas do filme "O Shaolin do Sertão", da Netflix, ele travou disputas de Free Fire mostrando que sua especialidade é realmente o cinema
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Uma das estrelas do filme
Foto: Fernanda Barros Uma das estrelas do filme "O Shaolin do Sertão", da Netflix, Victor Alen travou disputas de Free Fire durante o UP Gamer+, mostrando que sua especialidade é realmente nos cinemas

Formado em Física e com boa experiência ministrando aulas tanto no Estado como fora, Victor Alen trocou a educação pela comédia. Especialista em Astronomia, ele estudou as mais diversas formas de levar, em vez de conhecimento, sorrisos para o rosto das pessoas. Cearense da gema, o ator falou abertamente de suas paixões pelo povo cearense e pelo cinema.

É responsável pela estreia da segunda temporada do UP Gamer , programa de entrevistas durante partidas de jogos eletrônicos online, disponível no O POVO Mais. Apesar de apresentar desempenho duvidoso nos games, ele contou sobre o início de sua carreira no humor, compartilhou fofoca de bastidores do filme "Cabras da Peste" (Netflix, 2021) e ainda revelou que o cinema cearense está em boas mãos. Confira abaixo trecho da entrevista de Victor Alen.

O POVO - Seu começo foi na Física, dentro de sala de aula. Mas quando você migrou para o stand up e atuação?

Victor Alen - Na realidade eu não comecei nem na Física, mas na Astronomia. Desde moleque sempre fui apaixonado por astronomia, e eu estudei tanto que comecei a fazer as olimpíadas nacionais. Chegou um momento que eu já estava velho para competir e passei a dar aula, isso aos 16 anos. Eu saia de Fortaleza, ia para outros estados, para dar cursos intensivos. Minhas aulas sempre foram muito engraçadas e o pessoal adorava. Meu primeiro contato com a comédia foi nessa época. Mas chegou num ponto que eu queria brincar com outros assuntos que não estavam dentro da aula e aí o jeito foi ir para a comédia, ir para os palcos. Isso começou em 2010 e até hoje a gente está aí.

OP - E como você chegou aos cinemas?

Victor Alen - O cinema sempre foi uma paixão para mim, sempre amei. Quando eu era pivete, sou do tempo do VHS, né, quando alugava os filmes, a parte que eu achava mais irada era saber como o filme era feito: os bastidores, as conversas com os atores, com os diretores. Lembro que quando aluguei o "Senhor dos Anéis" tinha um VHS só de extras e tinha as falas do Peter Jackson (cineasta e diretor da trilogia) dizendo como tinha dirigido o filme. Aquilo ali me deixou maravilhado, eu ficava me perguntando "meu Deus, como é que pode?".

Depois, cara, dentro da comédia eu percebi que não gostava apenas de fazer rir com o stand up. Vi que o stand up era uma linguagem, dentro de várias outras, que o humor tem. Como é que eu consigo fazer rir fora do stand up? Eu comecei a estudar essas linguagens e quando você faz isso inevitavelmente entra nas artes cênicas. Então a minha entrada no teatro foi por causa da comédia. Daí o destino conspirou para eu criar a amizade que tenho com o Edmilson Filho, que conheci na época em que o Cine Holliúdy nem havia sido lançado ainda. Por conta dessa amizade, começamos a trabalhar juntos, comigo produzindo vários espetáculos dele. Daí de tanto me ver produzindo e fazendo aberturas dos shows do Edmilson, o Halder Gomes (cineasta cearense) um belo dia chegou para mim e perguntou: "Quanto mais feio tu consegue ficar?"

OP - Isso era um elogio…

Victor Alen - Total! A feiura é ruim em todo canto, menos na comédia. Daí quando Halder me fez essa pergunta, eu respondi: o céu é o limite. Ele disse para eu não cortar mais o cabelo porque tinha um negócio para mim. Foi quando ele me fez um convite para participar de uma cena em "Cine Holliúdy 2". Eu fiz uma participação especial como um aspirante a E.T. Foi uma experiência massa porque eu entendi como funcionava a coisa.

OP - Depois dessa participação, você atuou em "O Shaolin do Sertão", filme que gerou bastante sucesso e até competição entre streamings. Como foi esse momento?

Victor Alen - Então, fofoca de bastidores: eu soube que teve essa briga de streamings pelo "Shaolin do Sertão". Daí pensei que o filme todo seria muito bom. Pouco tempo depois falaram que o filme ia estrear na Netflix, aí eu fiquei louco… Quando o filme estreou, cada dia era uma loucura. No primeiro dia já estava em primeiro lugar no ranking da Netflix no Brasil. Eu nem estava tendo a dimensão do tamanho do filme. Ficou uma semana em primeiro lugar! E não era só no Brasil: a gente ficou em primeiro lugar em 28 países e o filme entrou no top 10 global da plataforma. Eu ouvi a minha voz dublada em uma porrada de idiomas e eu dizia "que loucura é essa, cara?". Foi um negócio muito massa e que me abriu muitas portas.

OP - Você e várias outras pessoas, no cinema ou nas redes sociais, têm conseguido fazer com que a nossa região alcance uma dimensão nacional e internacional. Como é fazer parte desse movimento?

Victor Alen - Cara, às vezes a ficha nem cai, sabe? Porque quando eu paro para pensar o que está acontecendo hoje e onde estou inserido, só consigo lembrar de um momento que foi o início da comédia cearense, com Raimundinha, Tom Cavalcante, Rossicléia, Meirinha, Falcão. Essa galera, no início, quebrou uma barreira muito grande. Eles levaram o nome do Ceará para o mundo, literalmente. Hoje a gente está meio que refazendo isso, está revivendo essa história.

OP - Como é ver o resultado do trabalho feito, ver o feedback das pessoas? O que você sente na pós-produção?

Victor Alen - Eu nunca vou esquecer do momento que ficou muito claro para mim para entender o artista como um todo. A gente estava gravando "Cabras da Peste" quando o Matheus Nachtergaele, que para mim é um monstro da comédia, terminou de fazer a cena dele, desceu para o lugar onde a gente estava e perguntou: "Gente, ficou bom?". Cara, o Matheus é um gênio, um ícone! Mas o que que isso mostra? Se o ator perder esse medo, essa busca incessante pela perfeição, esse tesão de fazer a parada, ele desanda. Isso mostra a insegurança do artista para sempre entregar o melhor. No cinema, todo mundo tem isso muito claro, todo mundo quer entregar o seu melhor.

OP - O que você projeta de futuro para o cinema cearense?

Victor Alen - A gente é dono de uma cultura muito peculiar. A cultura cearense é muito rica, a gente tem um idioma próprio. Você tem noção que, se a gente quiser, a gente pode passar horas conversando no idioma que é só nosso e ninguém do mundo inteiro vai entender, além de outro cearense. A entonação, a forma de falar. Cara, somos únicos. Ser um veículo de propagação dessa cultura, para mim é muito massa, e, sinceramente, o material humano que a gente tem, a qualidade técnica em todas as áreas, todo mundo é muito bom aqui. Cearense quando se propõe a fazer, faz bem feito. Não é à toa que no ITA só o que tem é vaga ocupada por cearense. O cearense é bom no que faz e no audiovisual não ia ser diferente. Tenho certeza que a gente ainda vai ver muita coisa massa made in Ceará.

 

O que você achou desse conteúdo?