No estudo desenvolvido pela Universidade de Cambridge, a pesquisadora Alexa Mousley, que liderou o levantamento, posiciona o período ao redor dos 32 anos como um dos pontos com "mudanças mais significativas na direção das conexões neurais e a maior alteração geral na trajetória".
"Embora a puberdade ofereça um início claro, o fim da adolescência é muito mais difícil de precisar cientificamente. Baseando-nos puramente na arquitetura neural, descobrimos que as mudanças na estrutura cerebral típicas da adolescência terminam por volta dos trinta e poucos anos", afirmou Mousley à universidade.
Para Lia Sanders, é importante ressaltar que o estudo utilizou dados dos Estados Unidos e do Reino Unido, países ocidentais: "A construção social da adolescência perpassa uma série de transformações socioeconômicas pelas quais a civilização ocidental passou nos séculos XVIII e XIX", explica a psiquiatra. "Essa transição para a vida adulta depende de fatores culturais, históricos e sociais, o que mostra que não é apenas um processo biológico, mas também profundamente contextual".
Os achados, portanto, ampliam esse entendimento ao apontar que, em países do Ocidente — como o Reino Unido e os Estados Unidos —, o desenvolvimento do cérebro costuma seguir características típicas da adolescência até aproximadamente os 32 anos, quando então inicia um novo padrão de organização neural.
Em sua avaliação, o psicólogo Rodrigo Maia reitera: "Quando se diz que o cérebro adolescente vai dos 9 aos 32 anos, ele está afirmando que a estrutura cerebral permanece relativamente estável e similar dos 9 aos 32 anos".
"A gente não tem dados, por exemplo, de outros países, de outros cenários culturais, para poder fazer generalizações que caibam em uma realidade maior, uma realidade global", infere.
Outra cautela apontada pelo professor universitário diz respeito às mudanças neurofuncionais. Essas alterações neurofuncionais, neuropsicológicas e neurocognitivas só poderiam ser inferidas a partir da avaliação de pessoas em diferentes faixas etárias: "Por exemplo, sabemos que em testes neuropsicológicos o desempenho de crianças de 9 anos é diferente de adultos de 32 anos".
"O que podemos supor é que estruturalmente há uma certa estabilidade, uma semelhança, mas o estudo não oferece dados suficientes para que digamos que há uma certa estabilidade e semelhança em termos funcionais, neuropsicológicos e cognitivos. O foco do estudo é olhar para uma topologia do cérebro", sintetiza.