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O "bolsocirismo" é possível?
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O "bolsocirismo" é possível?

Há duas frentes de batalha no bolsonarismo cujas repercussões impactariam numa tratativa com Ciro. Primeiro, dentro da família; segundo, entre a família e o restante do campo da direita
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Ciro Gomes e Michelle Bolsonaro (Foto: Montagem de fotos/Fabio Lima e Júlio Caesar)
Foto: Montagem de fotos/Fabio Lima e Júlio Caesar Ciro Gomes e Michelle Bolsonaro

As condições objetivas para uma aliança entre Ciro Gomes (PSDB) e o PL de Jair Bolsonaro dependem de variáveis locais e nacionais, algumas mais e outras menos previsíveis. Entre os fatores endógenos, sobressai a capacidade do deputado federal e dirigente André Fernandes de costurar uma composição estadual que equilibre a energia social que levou à vitória em 2018 com certo pragmatismo. Se tiver sucesso, estará montada uma chapa que pode forçar um 2º turno.

Essa equação, porém, está condicionada a um cenário de alta volatilidade política no Ceará, mas sobretudo em Brasília, onde se escancarou uma corrida entre Flávio e Michelle Bolsonaro pelo capital do ex-presidente. Não por acaso, o senador pelo Rio de Janeiro apressou-se a se incumbir do título de presidenciável para 2026, sacramentado, segundo ele mesmo, pelo próprio pai. Embora não se saiba se Bolsonaro ungiu realmente Flávio como herdeiro do seu legado, o fato é que o "zero-um" arrogou para si o papel de emissário do patriarca do clã, o que o projeta a falar tanto como cotado ao Planalto quanto como nome cujo poder de veto passa a ter influência para alterar o andamento das articulações partidárias, inclusive aquelas que a madrasta vem capitaneando.

Logo, há duas frentes de batalha no bolsonarismo cujas repercussões impactariam numa tratativa com Ciro. Primeiro, dentro da família; segundo, entre a família e o restante do campo da direita. Nada impede, por exemplo, que o bloco que hoje orbita Tarcísio de Freitas tente isolar Flávio (ou até Michelle), de modo a neutralizar o desgaste de Bolsonaro e facilitar a operação de redesignação política do governador de São Paulo: agora não mais um postulante da extrema-direita bolsonarista, mas um quadro de centro mobilizando legendas não alinhadas com Lula. A depender do resultado desse entrechoque nacional e dos acertos que se seguirem, Ciro pode ir a campo como cabeça de um palanque de Tarcísio ou de Flávio (e mais remotamente de Michelle) - seus aliados mais próximos devem torcer pelo primeiro cenário, sem dúvida.

 

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