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Ítalo Coriolano: Sequestro, morte e comemorações
Opinião

Ítalo Coriolano: Sequestro, morte e comemorações

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Ítalo Coriolano
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Jornalista do O POVO (Foto: O POVO)
Foto: O POVO Ítalo Coriolano coriolano@opovo.com.br Jornalista do O POVO

Boa parte do País parou na manhã desta terça, 20, para acompanhar o sequestro de um ônibus na ponte Rio-Niterói. Foram quase quatro horas de tensão que terminaram com os 37 reféns salvos, sem ferimentos, e o autor do crime morto. Willian Augusto portava um revólver de brinquedo, mas ameaçava tocar fogo no veículo. Sim, havia alto risco de acontecer uma tragédia. Cabe, claro, reconhecer o mérito das forças policiais, que evitaram o pior, mas também analisar o comportamento tanto do público como das autoridades.

Muitas pessoas foram até as redes sociais se manifestar sobre o caso. Algumas aliviadas pelo desfecho do episódio, outras comemorando a morte do sequestrador. Uma parcela estava mais feliz pelo "cancelamento de um CPF", como costumam dizer, do que pelas outras vidas salvas. Um retrato do momento delicado que o País atravessa, em que sentimentos animalescos prevalecem sobre a racionalidade.

Estimulando esse tipo de atitude, ao mesmo tempo que tentando tirar proveito do caso, se destacam o governador do Rio, Wilson Witzel, e o presidente Jair Bolsonaro. O chefe do Executivo carioca chegou ao local do sequestro de helicóptero. Desceu correndo e festejando, como se tivesse marcado o gol da vitória do Brasil numa final de Copa do Mundo. Não é a postura mais adequada para quem ocupa um cargo como esse. Para deixar tudo ainda mais assustador, a forma como esse episódio se deu pode legitimar o modelo de segurança pública implantado por Witzel, que só na última semana tirou a vida de seis jovens.

"Não tem de ter pena. Hoje não chora a família de um inocente", avaliou Bolsonaro. Muitas outras têm chorado, vítimas de intervenções desastrosas, e em nenhum momento o presidente veio a público prestar solidariedade. Prefere patrocinar uma política falida de combate ao crime, baseada na repressão, no preconceito. Crianças são mortas indo para a escola, outras perdem os pais. Mas nada parece sensibilizar nossos governantes e seus fiéis seguidores. Que o sucesso da operação contra o sequestro de ontem não camufle os erros recentes, nem sirva de pretexto para a continuidade de um projeto truculento contra morros e favelas. 

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