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Rosemberg Cariry: Tragédia brasileira
Opinião

Rosemberg Cariry: Tragédia brasileira

Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Rosemberg Cariry 
Cineasta e escritor
 (Foto: Evilázio Bezerra)
Foto: Evilázio Bezerra Rosemberg Cariry Cineasta e escritor

Poderíamos nos perguntar onde começa a tragédia e o fracasso do Brasil. Possivelmente começa na sua origem, quando um bando de aventureiros maltrapilhos, famintos e sujos aporta com suas caravelas nas costas da Bahia e são socorridos pelos índios. "Esses poderiam tê-los devorados e nossa história poderia ser outra" (Ailton Krenak). Não os devoraram, foram gentis e hospitaleiros. Então, para maior glória de Deus e maior riqueza dos impérios, o papa da época deu aos espanhóis e portugueses a posse da terra e "a lei que naturalizava o saque, o massacre, o roubo e a espoliação" (Darcy Ribeiro). Os índios escravizados foram usados como "carvão barato" para mover as engrenagens do engenho colonial. Os colonizadores, não satisfeitos, foram buscar na África outros "corpos-combustíveis" - escravizando milhões de negros. Sobre esse genocídio continuado se fundou a nação.

A história do Brasil é a história do saque, da exploração, do desprezo pela vida e pelos direitos humanos, com poucos e frágeis intervalos mais democráticos e humanizados. Atualmente, parece que um vulcão com toda a lama, com todo o ódio, com todo o ressentimento, com tudo de pior e obscuro, emergiu das entranhas da história, cobrindo a nação com as asas de um abutre. Em transe, a nação é vítima de um surto psicótico. A ordem é destruir tudo que pareça vida. Um estado de barbárie que é incentivado por autoridades do alto escalão da República e pelo grande "deus-mercado". Também, impunemente, pode-se destruir a natureza, fechando-se as portas do futuro. Crescem os presídios-infernos (muitos geridos pela iniciativa privada), são extintos direitos trabalhistas e de aposentaria, afrouxam-se as leis contra o trabalho escravo, aumentam o desemprego, a miséria, a violência e a loucura coletiva. Uma tragédia humana de grandes proporções. O reino do neoliberalismo é a supremacia da morte. Em tudo isso, para além do lucro, deve haver alguma espécie de gozo pervertido e sádico. Quem está gozando com tanto horror? 

 

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