Logo O POVO+
Custódio Almeida: Elitismo travestido
Opinião

Custódio Almeida: Elitismo travestido

Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Custódio Almeida
Professor de Filosofia da UFC
 (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Custódio Almeida Professor de Filosofia da UFC

A educação é o eixo estruturante do Estado Democrático de Direito, e a defesa dela se torna lugar-comum em todas as sociedades abertas e democráticas, sendo tarefa básica dos governos e missão de todas as instituições.

No entanto, diante do crescimento da pobreza, da violência, das desigualdades sociais e das ameaças à liberdade e à democracia que eclodem no Brasil e no mundo, nos damos conta de que não é suficiente defender a educação. É necessário ainda perguntar que educação queremos e a serviço de quem se deve promovê-la.

Afinal, é possível realizar uma educação comunicativa e emancipatória, como bem público e em favor do bem-estar social, mas também há a possibilidade de oferecer uma educação instrumental e colonizadora, voltada para interesses privados e em favor de minorias econômicas.

Da mesma forma, pode-se estabelecer processos educativos que formam mentalidades públicas, cooperativas e inclusivas ou, no lado oposto, privatistas, individualistas e elitistas.

Nesse sentido, tomemos três conceitos em ascensão nas universidades brasileiras: pesquisa, inovação e empreendedorismo. E fiquemos atentos à leitura crítica tão cara à maioridade intelectual buscada nas universidades.

Esses são conceitos eivados de questões políticas e econômicas, e as atividades a eles inerentes cumprem orientações ideológicas e objetivos previamente definidos. Por isso, é indispensável perguntar: para que e a favor de quem estão a pesquisa, a inovação e o empreendedorismo?

Sem essas perguntas, há risco iminente de perpetuação das injustiças. A pesquisa pode ser revolucionária em seu mérito e transformadora em sua aplicação, mas isso depende da orientação política para o uso dela.

Do contrário, ela pode simplesmente reforçar as distâncias entre ricos e pobres e aumentar as escalas dos graves problemas que acometem a humanidade: fome, violência, guerras, exclusão.

Os elitistas, os monocratas e os demagogos focam na excelência sem nenhuma preocupação com a inclusão e com a emancipação social. E, quando questionados, simplesmente respondem: isso é consequência natural. Será? 

 

O que você achou desse conteúdo?