O início de ano foi marcado pela violência contra a mulher no Ceará. Histórias de vida e de morte que, muitas vezes, permanecem anônimas. Foi também em um 1º de janeiro que a jovem Stefhani Brito, de 22 anos, foi torturada e assassinada pelo ex-namorado. O crime completou dois anos e, desde então, muitas outras mulheres cearenses perderam a vida. Um questionamento ainda persiste: o que efetivamente tem sido feito para coibir e solucionar esses crimes?
O Boletim Mortes violentas no Ceará: pontos de atenção, divulgado pela Rede de Observatórios da Segurança nesta segunda-feira (27), apresenta uma análise sobre os dados de 2019 da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), obtidos através da Lei de Acesso à Informação. Na contramão da redução, feminicídio foi a única categoria de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs) que registrou aumento. Em números absolutos, 34 mulheres foram vítimas de feminicídio no Ceará no referido ano, o que representou um aumento de 13% em relação a 2018.
A arma branca foi utilizada em 60% dos crimes de feminicídio registrados, contra o uso de arma de fogo em 26,5% dos casos. O elemento da crueldade também se tornou uma marca desses crimes. Um feminicídio é antecedido, frequentemente, por um contexto marcado por agressões e vulnerabilidades. O primeiro relatório da Rede de Observatórios da Segurança, que apresentou dados de junho a outubro de 2019, mostra que, das 79 ocorrências de violência contra a mulher registradas no Ceará nesse período, 48 correspondem a episódios como tentativa de feminicídio, agressão física e/ou verbal, violência sexual e/ou estupro. O infeliz quadro se repete: muitas dessas violações são perpetradas dentro de casa, o lugar mais perigoso para uma mulher, e o agressor segue sendo um homem do convívio da vítima. Vistos constantemente como crimes de menor potencial ofensivo, as violências contra mulheres são relativizadas e naturalizadas. É preciso prevenir e proteger. Ou continuaremos enterrando mulheres cearenses.