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ARTIGO: Bolsonaro precisa apanhar calado
Opinião

ARTIGO: Bolsonaro precisa apanhar calado

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É opinião unânime entre os defensores do antigo regime que Jair Bolsonaro desrespeita criminosamente a liturgia do cargo, e nada exemplifica melhor esse desacato do que a sua recusa de prestar reverência à imprensa. As instituições democráticas se levantam em repúdio aos, aspas, “ataques” de Bolsonaro a jornalistas. Fernando Henrique Cardoso, Luciano Huck, João Amoedo, Gleisi Hoffmann, Rodrigo Maia, Reinaldo Azevedo, João Dória, Alexandre Frota - estão todos preocupados com a postura de Bolsonaro e com a sobrevivência da liberdade de imprensa.

A mais recente vítima de “ataques” e “insultos de bolsonaristas” é a jornalista Vera Magalhães, autora do escândalo mais escandaloso da semana: Bolsonaro compartilhou com amigos um vídeo promovendo a manifestação de apoio ao governo em 15 de março. O presidente cometeu portanto o delito de defender-se a si próprio, enquanto membros do Congresso podem criticar o presidente diariamente (Rodrigo Maia: “Bolsonaro é fruto dos nossos erros”) e chantagear o Executivo sem que isso afete, aos olhos dos nossos jornalistas, o estado de direito, a estabilidade das instituições, o consenso democrático e os outros chavões da feitiçaria imbecilizante. No instante em que Bolsonaro e seus eleitores abrem a boca e reagem, aí a democracia corre perigo, junto com aquele ente sagrado denominado liberdade de imprensa.

É um tipo curioso de liberdade, segundo o qual jornalistas podem falar o que quiser contra Bolsonaro e a ele resta a liberdade de apanhar calado. Nossa imprensa sente-se irrepreensível, por exemplo, ao usar um depoimento falso para incriminar o presidente num homicídio. Ao alegar, nas vésperas do segundo turno, que a campanha de Bolsonaro usou uma ferramenta ilegal de propaganda na internet, incorrendo em crime passível de cassação eleitoral (e mudar de assunto rapidinho quando vem à tona que os petistas é que se beneficiaram da ferramenta). Ao manipular declarações do presidente de modo a pintá-lo de inimigo de negros, de mulheres, de assassino de moradores de rua, etc. A tudo isso Bolsonaro e seus apoiadores devem assistir em silêncio e se possível de cabeça baixa, como bons democratas, idolatrando a liberdade que dá aos jornalistas o direito de julgar tudo e todos enquanto eles próprios não podem ser julgados de maneira alguma.


Bruno Pontes é jornalista

brunofpontes@gmail.com

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