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Coronavírus: informar sem criar pânico
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Jornalista (UFC-CE) e licenciada em Letras (Uece), é doutoranda em Linguística (PPGLin-UFC), mestra em Estudos da Tradução (UFC-CE), especialista em Tradução (Uece) e em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais (Estácio). No O POVO, já atuou como ombudsman, editora de Opinião, de Capa e de Economia, além de ter sido repórter de várias editorias. É revisora e tradutora.

Coronavírus: informar sem criar pânico

O avanço do coronavírus tem sido pauta constante e precisa ser informado com responsabilidade
Tipo Análise

Jornalistas e veículos de comunicação em geral se viram, em poucos dias, diante de uma cobertura delicada, mas que muito tem a nos ensinar. O avanço da propagação do coronavírus, a confirmação de casos no Brasil, a disseminação de uma enxurrada de boatos e a forma de divulgação das informações de modo prudente têm colocado muitos profissionais a repensar suas estratégias de veiculação.

Algumas empresas de comunicação que mantêm grande parte do conteúdo restrita a assinantes (o chamado paywall) liberou o acesso de textos sobre o coronavírus a todos os leitores. Na quinta-feira 12, O Globo, Folha de S.Paulo e Estadão anunciaram que haviam derrubado a barreira, permitindo que assinantes e não assinantes pudessem acessar o conteúdo antes restrito aos que pagam. O Nexo Jornal também abriu o acesso. O site da revista Exame foi o primeiro a noticiar a abertura do conteúdo acerca do assunto.

Mundo afora, The New York Times, Wall Street Journal e The Atlantic também anunciaram a liberação do conteúdo, assim como The Globe and Mail e Toronto Star, do Canadá; Público, de Portugal; e Clarín, da Argentina, por exemplo.

O POVO, que mantém o paywall em muito de seu conteúdo (em matérias e em colunas), ainda tinha o material restrito a assinantes até quinta-feira. Demorou, mas começou a abrir na sexta-feira 13 ("Conteúdo da área exclusiva do O POVO sobre coronavírus é aberto a todos os públicos" - https://is.gd/Pl7vX7).

A questão, por ora, não é de preocupação com a quantidade de clientes que pagam por certo conteúdo. A iniciativa de restringir o conteúdo já é bem difundida entre os veículos, que alegam a destinação de material exclusivo para os assinantes, além de ser uma estratégia de sobrevivência dos jornais.

Agilidade

O momento é, pois, de cuidado com a saúde pública, e a imprensa não deve se omitir ao disseminar esse conteúdo confiável de forma irrestrita. O acesso à informação é um direito fundamental. Quando o Jornalismo promove essa divulgação responsável, atribui sentido à produção do bem intelectual de que dispõe.

Além disso, precisamos de mais atenção e agilidade na veiculação dessas notícias. O excesso de informações com que lidamos nos faz ter a certeza de que há muito conteúdo em toda parte ao mesmo tempo em que não sabemos onde/como encontrar tudo. No O POVO Online, em que o serviço de busca não funciona de modo eficiente, é mais complexo achar tudo o que já foi publicado sobre o coronavírus e temas correlatos.

Nas redes sociais do O POVO, também fonte de informação para o usuário, a publicação de conteúdo específico para essas mídias passou a ser intensificada. Material informativo, didático e de visualização rápida, deve ser mais produzido e compartilhado. Não há extraordinário nisso. É apenas o Jornalismo exercendo sua função com discernimento, responsabilidade e atenção – em qualquer plataforma.

Questionei todos esses assuntos em avaliação interna. Na sexta-feira, além de ter o conteúdo sobre coronavírus aberto aos leitores, O POVO passou a publicar, em suas redes sociais, informações sobre prevenção e orientações sobre os sintomas.

Ana Naddaf, diretora da Redação, justifica a decisão de liberar a leitura de todo o conteúdo do O POVO. "O objetivo é contribuir para a prevenção da pandemia, garantindo que informações verificadas e úteis, com fontes confiáveis, cheguem a todos os leitores", afirma. Além disso, argumenta que "o mais importante é mostrar que informação confiável e educação são formas eficazes de evitar não só a proliferação do vírus, mas de notícias falsas que gerem pânico ou confundam ainda mais o público sobre a doença".

Notícias em tempo real, vídeos explicativos, guias e infográficos são apontados pela diretora como recursos usados para informar. Há ainda o plano de montar uma barra de destaque no portal para concentrar textos sobre o tema. De fato, necessário, já que, até o fechamento desta coluna, não havia um local específico na página que reunisse todo o conteúdo. A divulgação de uma newsletter exclusiva com o assunto é avaliada.

A cobertura sobre o novo coronavírus nos mostra, mais uma vez, como ainda estamos vulneráveis às notícias falsas (a propósito, se são falsas, nem notícias são) e como precisamos, a todo custo, recriar formas de lidar com os boatos. É preciso um esforço contínuo para evitar que essas mentiras se fortaleçam e gerem um pânico inútil na população.

Alarmismos dispensáveis, que encontram lugar de excelência nas redes sociais, devem ser substituídos no Jornalismo pela alfabetização científica, pela educação para a saúde e pela propagação do conhecimento. De forma didática e acessível, com credibilidade. É assim que se combate a desinformação.

Foto do Daniela Nogueira

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