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Mídia, poder e pandemia
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Jornalista (UFC-CE) e licenciada em Letras (Uece), é doutoranda em Linguística (PPGLin-UFC), mestra em Estudos da Tradução (UFC-CE), especialista em Tradução (Uece) e em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais (Estácio). No O POVO, já atuou como ombudsman, editora de Opinião, de Capa e de Economia, além de ter sido repórter de várias editorias. É revisora e tradutora.

Mídia, poder e pandemia

Tipo Opinião

O empenho da imprensa em abastecer o público de informações, nesta cobertura sobre o coronavírus, é de uma robustez impressionante. Jornais concorrentes têm-se unido, com as mesmas frases na capa, convocando a população para ficar em casa, numa tentativa de corroborar com a quarentena recomendada por especialistas - gente que sabe do que fala baseada em métodos científicos. A imprensa tradicional entende que investir na cobertura é relevante para informar ao leitor e, sim, para potencializar sua marca.

Nem todos, porém, veem toda essa cobertura como positiva - principalmente quando, em meio a uma pandemia histórica, surge uma briga política entre o presidente da Nação e governadores de Estado. A imprensa tem sido, mais uma vez, alvo dos ataques do presidente Bolsonaro, que joga indiretas em pronunciamento oficial e insiste em acusar a mídia de causar "histeria" ao noticiar os casos Brasil adentro e mundo afora.

Na última terça, 24/3, ao publicar em primeira página o editorial "O ofício de bem informar", O POVO teceu críticas ao presidente, cobrando-lhe responsabilidade acerca de sua "política negacionista em relação ao coronavírus". O jornal precisava se posicionar.

Ao citar os sucessivos conflitos entre o presidente e governadores, O POVO agradou e desagradou. Foram inúmeras mensagens sugerindo que o jornal deixe de publicar "picuinhas políticas". Várias outras elogiavam a iniciativa do jornal por ser "um veículo que demonstra compromisso com a verdade", por exemplo.

Diante desse cenário, é possível omitir as notícias acerca dessas brigas políticas? Ou elas dizem respeito ao contexto da crise do coronavírus?

Mediação

Para o cientista político Valmir Lopes, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), a imprensa precisa denunciar esse tipo de conflito. "É absolutamente saudável o que a imprensa está fazendo, que é municiar a população de informação. A atuação do presidente é um desastre. Dentro do próprio governo, há vozes diferentes", analisa.

A mídia não deve omitir essas contradições dentro de um mesmo governo, sob o risco de não informar à população o cenário real. Se o fato desagrada aos apoiadores de alguém, é uma questão que o indivíduo precisa resolver com suas preferências. A imprensa é mediadora.

"É claro que a extravagância tem impacto. A reabertura da economia agora é algo problemático. Temeroso, vexatório. Além disso, a gente vem de um período com discurso liberal, ultraliberal. De repente, a solução agora é o oposto disso tudo que a própria equipe que dirige a economia tinha recomendado. Como não noticiar? A imprensa tem feito um papel excepcional", avalia Valmir Lopes.

O cientista político Cleyton Monte concorda que não há como ignorar essas brigas políticas e lembra que, com a crise, os jornais passaram a ter mais confiança da população.

De fato. Métricas do Google indicam que a procura pelo segmento "notícias", neste mês de março, atingiu o nível mais alto desde 2004. Além disso, TVs e jornais lideram índice de confiança em informações sobre o coronavírus, de acordo com o Datafolha. Redes sociais, aponta a pesquisa, apresentam baixa credibilidade.

Mas tanta informação assim causaria a "histeria" apregoada pelo presidente? "Se a situação está mal, dizem que a culpa é da imprensa, que apavora a população e não a deixa sair de casa. Mas a imprensa não produz esse discurso. Ela acompanha os protocolos sanitários. O melhor escudo para rebater qualquer crítica é a base científica", considera.

Cleyton explica que, para descortinar essas falsas polêmicas, a imprensa precisa trazer a perspectiva do real significado das falas do presidente, por exemplo. "Não vê sentido em fechar escola? O que significa voltar às aulas amanhã? Na nossa composição social, boa parte das crianças é criada pelos avós. E o impacto disso nas políticas públicas? O que significam essas brigas de líderes políticos para quem está internado no HGF? Atrasa compra de máscaras, de respiradores? A burocracia demora mais. É uma questão técnica", sugere Cleyton Monte.

A questão é que o Jornalismo tem incomodado. E ele foi feito para incomodar mesmo. A mídia noticia o que precisa noticiar, o que tem interesse público. Principalmente em época de crises em que interessam vidas, deveríamos estar mais preocupados em intensificar nossas atenções ao que realmente importa.

A cobertura da imprensa sobre o coronavírus não se baseia em "achismos"; antes, fundamenta seus conteúdos em bases sólidas de pesquisadores. Tentar rebater isso pulverizando ataques insistentes parece ser uma mania atávica de um governante a fim de desmobilizar o Jornalismo e a democracia.

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