Logo O POVO+
Cícero Robson Pereira: Aonde vais, crédulo seguidor?!
Opinião

Cícero Robson Pereira: Aonde vais, crédulo seguidor?!

Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Cícero Robson Pereira, sociólogo e professor
 (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Cícero Robson Pereira, sociólogo e professor

Na nossa surrealidade cotidiana, salta aos olhos a (a)berrante cegueira político-ideológica a que muitas vivalmas se entregaram, na defesa das antidemocráticas ações do Governo Federal. Não se trata apenas do comportamento amparado numa ética de convicção cidadã, ainda que cansada dos desmandos políticos. Ele se materializa sob uma estratégica e bem urdida arquitetura de poder, fundada no culto à personalidade do presidente, com contornos de messianismo religioso e que tem como palco as tecnologias digitais de comunicação.

Como Nicolau Maquiavel ensinou, não é necessário a um governante ter todas as qualidades, mas é fundamental que pareça tê-las. A exaltação das supostas qualidades reunidas na pessoa do Bolsonaro tem como disseminadores alguns grupos religiosos, que reforçam a imagem do governante iluminado por Deus, ainda que o comportamento torpe que apresenta desminta tamanha mistificação. Esses grupos religiosos "fecharam" com Bolsonaro pela identificação com a pauta conservadora e pelos dividendos político-econômicos. Não por acaso, Jair Bolsonaro sinaliza agora com o perdão das dívidas trabalhistas e subsídios para algumas igrejas.

No reino da mídiacracia despolitizada, como adverte Gilles Lipovetsky, o vínculo entre eleitor e governante via redes sociais prescinde dos partidos. Transcende os limites da privacidade, cria uma conexão direta e permanente com os seguidores, centrada na exposição da vida pessoal do líder. Para que serve a "velha imprensa", se existem as redes digitais? Os smartphones se converteram nas novas "teletelas", retratadas no livro 1984, de George Orwell. As tecnologias diferem, mas o propósito se mantém: a manipulação do pensamento do eleitor, transformado em um ativista fiel teleguiado.

No mundo da pós-verdade, inundado de informações e pálidas convicções, as pessoas anseiam por líderes personalistas que mostrem onde se deve aportar com relativa segurança. Nessa miscelânea que é a política brasileira, tem-se como ingredientes o messianismo religioso, o uso intensivo da tecnologia e a manutenção do poder. Mas o tempero é todo seu, crédulo seguidor! 

 

O que você achou desse conteúdo?